Através da disciplina ora apresentada pretendemos aprofundar as reflexões a respeito das relações entre a improvisação livre, a ideia de sonoridade e o uso das novas tecnologias de interação. Estas pesquisas têm sido desenvolvidas, tanto de uma forma prática quanto através da reflexão teórica, no âmbito da linha de pesquisa em Sonologia do PPGMUS-USP. Partimos de considerações de ordem histórica e estética constatando que, durante os séculos XX e XXI ocorre uma gradativa transformação de elementos tradicionais da música (tais como melodia, harmonia, forma e nota musical) e o estabelecimento de um novo foco sobre as qualidades do som em si (anteriormente definidas como timbre), com o consequente surgimento de novas formas de organização do fluxo musical. Este fato, observado de forma germinal na obra de Debussy, se consolida com o advento da música concreta e eletrônica e com as obras de compositores como Varèse, Scelsi, Ligeti, Grisey e Lachenmann e desemboca na formulação, no campo da musicologia, de uma estética da sonoridade. A prática da livre improvisação surge neste contexto já que ela só é possível através da superação dos idiomas, num ambiente em que o material da música passa a ser sua essência molecular, ou seja, o som e suas qualidades energéticas. A ideia é investigar o papel desempenhado pela livre improvisação e pelas novas tecnologias na consolidação deste novo paradigma, examinando também as formas de relacionamento entre os músicos e os computadores em performances de improvisação. Pretendemos investigar ainda, em que medida, neste cenário, a prática da livre improvisação contribui para uma espécie de “reabilitação” da escuta e para a expansão das possibilidades técnicas dos instrumentistas. Neste contexto, pretendemos propor ainda uma reflexão sobre a divisão de trabalho instituída tradicionalmente no campo da música “erudita” relacionada à atribuição de papéis rigidamente definidos, separados e hierarquizados, concretizados nas figuras do compositor, do intérprete e do público. Outro desdobramento destas reflexões se relaciona com a dimensão social das práticas de livre improvisação no que diz respeito, principalmente, ao seu potencial pedagógico.