Sistemas Prediais de Água Quente

É crescente a necessidade de conservar energia, o que tem incentivado a implantação de sistemas de aquecimento solar em edifícios. A lei no 14.459 dispõe sobre a instalação de sistemas de aquecimento de água por energia solar em edificações residenciais e não residenciais do Município de São Paulo.

Sabe-se, no entanto, que esses sistemas são assistidos por outras fontes de energia, uma vez que não conseguem suprir a demanda de água quente em dias frios ou chuvosos. Assim, deve-se ter o conhecimento de sistemas com outras fontes de energia tais como gás e eletricidade.

A geração de água quente consiste no processo de transferência de calor a partir de uma fonte energética para obtenção de água a uma dada temperatura, podendo haver reservação do volume a ser aquecido ou não. A transferência de calor pode se realizar de modo direto ou indireto.

Segundo a NBR 7198 (1993), os sistemas prediais de água quente devem ser projetados e executados de tal forma que atendam aos seguintes requisitos:

Classificação dos sistemas prediais de água quente

O sistema predial de água quente pode ser classificado em individual, central privado e central coletivo.

Sistema individual

O sistema individual consiste na alimentação de um único ponto de utilização, sem necessidade de uma rede de água quente.

As fontes de energia utilizadas neste tipo de sistema são: eletricidade e gás combustível. No caso de aquecedores individuais a eletricidade tem-se uma resistência que é ligada automaticamente pelo próprio fluxo de água, conforme ilustrado na Figura 1.

Figura 1 - Sistema individual de aquecimento de água – chuveiro elétrico

Os aquecedores individuais a gás combustível, também denominados chuveiro a gás possuem um queimador que é acionado por uma chama piloto, ou não, quando da passagem do fluxo de água, sendo que o ar é utilizado como comburente.

Esses equipamentos podem ser classificados, quanto ao comburente utilizado, em aquecedores de fluxo balanceado ("balanced flue") e aquecedores com consumo de ar interno ao ambiente. Observa-se que os aquecedores de fluxo balanceado não estão disponíveis no mercado.

Os aquecedores de fluxo balanceado utilizam como comburente o ar externo ao ambiente em que estão instalados e os produtos originados nessa combustão são também destinados para o exterior.

A alimentação de água fria, tanto para o aquecedor a gás como para o que utiliza eletricidade, no caso do sistema individual, é feita juntamente com os demais aparelhos, não necessitando de uma coluna exclusiva.

No caso de aquecedores a gás com consumo de ar interno em relação ao ambiente de instalação, deve ser previsto um dispositivo, chaminé, para exaustão dos gases provenientes da combustão. Neste tipo de sistema de aquecimento, o equipamento gerador de calor está situado no próprio ponto de consumo, inexistindo uma rede de tubulações para a distribuição da água aquecida.

Sistema central privado

O sistema central privado é composto por um equipamento responsável pelo aquecimento da água e uma rede de tubulações que distribuem a água aquecida a pontos de utilização que pertencem a uma mesma unidade como, por exemplo, em um apartamento.

Em geral, as fontes de energia utilizadas neste tipo de sistema são: gás combustível, eletricidade e energia solar.

Os equipamentos de aquecimento a gás combustível e a eletricidade, empregados no sistema central privado, podem ser classificados, segundo o princípio de funcionamento em:

Figura 2 – Aquecedor de passagem a gás Figura 3 – Aquecedor de acumulação a gás
Figura 4 – Aquecedor de acumulação elétrico

Como no caso dos aquecedores individuais a gás combustível, pode-se ter também o equipamento de fluxo balanceado, este sim, disponível no mercado brasileiro.

Segundo a NBR 7198 (ABNT, 1993) a alimentação de aquecedores e pontos de água fria pode ser feita por tubulação única, desde que não alimente válvulas de descarga e que seja impossibilitado o retorno de água quente para a tubulação de água fria.

A Figura 5 ilustra um sistema central privado de água quente com aquecedor de passagem a gás e a Figura 6 ilustra um sistema central privado de água quente com aquecedor de acumulação 

Figura 5 – Sistema central privado de água quente com aquecedor de passagem a gás Figura 6 – Sistema central privado de água quente com aquecedor de acumulação

A central de aquecimento, no caso de aquecedor de acumulação, pode ser constituída por um bloco único ou então ter a fonte geradora separada do reservatório e, desta forma, denominado sistema conjugado, que é uma das opções quando há maior flexibilidade quanto à localização dos equipamentos.

A Figura 7 apresenta um sistema conjugado. Nesse sistema o aquecedor de passagem atua como fonte térmica. Ao se detectar temperatura baixa no reservatório, o termostato da bomba aciona a mesma, o que faz circular água no interior do aquecedor de passagem, que promove o seu aquecimento e a retorna ao tanque, segundo um circuito fechado, independente da entrada e saída de abastecimento.

Figura 7 – Sistema conjugado com aquecedor de passagem a gás reservatório de água quente

O sistema de distribuição de água quente em um sistema central privado é composto por ramais que conduzem a água desde o equipamento de aquecimento (instantâneo ou de acumulação) até os pontos de utilização.

Tendo em vista obter-se uma temperatura adequada no ponto de utilização, o trajeto percorrido pela água quente deve ser o mais curto possível e as tubulações devidamente isoladas contra a perda de calor.

A rede de distribuição pode ainda ser provida de tubulação de retorno de água quente ao sistema gerador, com o intuito de se evitar o desconforto em se obter água quente junto aos pontos de consumo, além de se evitar os desperdícios de água e de energia.

Sistema central coletivo

O sistema central coletivo é constituído por um equipamento gerador de água quente e uma rede de tubulações que conduzem a água aquecida até aos pontos de utilização pertencentes a mais de uma unidade como, por exemplo, em um edifício de apartamentos.

Uma vez que a geradora de água quente abastece várias unidades, está implícita a reservação do volume a ser aquecido, constituindo o que se denomina usualmente de “caldeira”. Existem geradoras de água quente que incorporam dispositivos para aquecimento a gás combustível e a eletricidade, possibilitando a alternância da fonte energética.

O abastecimento de água fria deve ser feito por uma coluna exclusiva, uma vez que a vazão requerida é muito elevada.

Em geral, a central de aquecimento é instalada na parte inferior do edifício; entretanto, pode-se tê-la junto ao reservatório superior, ao nível do barrilete ou ainda em uma composição dessas alternativas: geradora na parte inferior e o tanque de acumulação na parte superior (cobertura ou outro pavimento).

Quanto à modalidade de distribuição, o sistema central coletivo pode ser classificado em ascendente, descendente e misto. Na distribuição descendente, um barrilete superior alimenta as colunas que abastecem os pontos de utilização (Figura 8). Quando a distribuição é ascendente, tem-se um barrilete inferior, conforme é apresentado na Figura 9.  A distribuição mista resulta da combinação dos tipos citados, conforme ilustrado na Figura 10.

Figura 8 – Sistema central coletivo com distribuição descendente
Figura 9 – Sistema central coletivo com distribuição ascendente
Figura 10 – Sistema central coletivo com distribuição mista

Sistema de aquecimento solar

É um sistema com uma fonte principal e constante como o gás ou a energia elétrica, assistido por coletores solares, ou seja, é um sistema de pré-aquecimento da água. Este fato deve-se às variações da energia solar durante o dia e, também, durante as estações, sendo esta fonte de energia considerada complementar a uma fonte principal.

Tipos de sistemas

Sistema central coletivo assistido por aquecedor de passagem a gás

Este sistema é composto por um reservatório de água quente central conjugado a um aquecedor auxiliar como, por exemplo, a gás. Este reservatório recebe água fria e por meio de uma bomba a água é recirculada nos coletores solares até atingir uma temperatura pré-estabelecida em um termostato. Caso o dia esteja chuvoso ou frio, o aquecedor de passagem a gás entra em operação para manter a temperatura desejada.

Outra bomba faz a recirculação da água quente na coluna, conduzindo a água até a ligação dos ramais com a coluna de distribuição, conforme ilustra a Figura 11. Para reduzir os tempos de espera por água quente nos aparelhos sanitários e evitar a necessidade de rede de recirculação dentro do apartamento, devem-se prever várias colunas de tal forma que a água aquecida chegue o mais próximo dos pontos de consumo.

Fonte: CEOTTO, 2008b.
Figura 11 – Sistema central coletivo assistido por aquecedor de passagem a gás

Segundo Ceotto, 2008b) a perda de calor nesse reservatório é inversamente proporcional à raiz cúbica de seu volume pode-se afirmar que este sistema apresenta a maior eficiência na retenção do calor obtido do sol, pois entre todos os sistemas é o que armazena maior volume de água.

Apesar de esse sistema ser termicamente eficiente ele inviabiliza a medição individualizada da água quente nos apartamentos uma vez que para isto devem-se instalar dois medidores em cada ramal de alimentação dos apartamentos: um para medir o volume na entrada e outro no retorno. Várias tentativas mostraram imprecisão e aumento de custos.

Sistema central privado assistido por aquecedor de passagem a gás

Neste sistema a água do reservatório central é pré-aquecida pelos coletores solares e a complementação da temperatura da água é realizada pelos aquecedores de passagem localizados em cada apartamento em função da temperatura naquele instante, conforme ilustra a Figura 12.

Uma das desvantagens deste sistema é a pequena sensibilidade de ajuste dos aquecedores de passagem na correção da temperatura de entrada da água. Isto pode provocar acidentes, caso o diferencial de temperatura da água de entrada em relação a água de saída for muito pequeno.  Outra desvantagem é que o seu emprego não é recomendado para apartamentos em que os pontos de utilização de água quente estejam distantes da entrada do aquecedor, o que resulta em longos tempos de espera da água quente e também desperdícios de água fria contida na tubulação.

A medição individualizada de água quente é facilitada, uma vez que é necessário somente um medidor a montante do aquecedor de passagem.

Fonte: CEOTTO, 2008b.
Figura 12 – Sistema central coletivo assistido por aquecedor de passagem a gás

Sistema central privado assistido por aquecedor de acumulação a gás

Neste sistema a água do reservatório central é pré-aquecida pelos coletores solares e a complementação da temperatura da água é realizada pelos aquecedores de acumulação localizados em cada apartamento, conforme ilustra a Figura 13. 

A perda de calor resultante do menor volume de reservação é, em geral, maior que a dos sistemas anteriores. A possibilidade de instalação de uma rede de recirculação entre o aquecedor de acumulação e os pontos de consumo do apartamento reduz o tempo de espera por água quente em apartamentos maiores.

A medição individualizada de água é feita por meio de dois hidrômetros: um para água quente e outro para água fria.

Fonte: CEOTTO, 2008b.
Figura 13 – Sistema central coletivo assistido por aquecedor de acumulação a gás

Avaliação da contribuição solar – área de coletores solares

Conforme o art. 7o da lei municipal de São Paulo 14.459, o aquecimento solar deve atender, no mínimo, a 40% da demanda anual média de água quente para unidades residenciais com 4 banheiros ou mais. Observa-se que o lavabo é considerado como banheiro, mesmo não possuindo chuveiro ou qualquer tipo de aquecimento no lavatório. Para apartamentos com menos de 4 banheiros, deverá ser prevista infra-estrutura que possibilite a sua instalação.

As etapas para a avaliação da contribuição solar, conforme o decreto 49.148 (São Paulo, 2008), são descritas a seguir.

Etapa 1: estimar o volume diário de água quente a ser consumida pela edificação.

Etapa 2: calcular a quantidade de energia necessária para aquecer o volume diário por meio da equação 1.

E igual a V vezes C p vezes t2 - t1  vezes 30 dividido por 3600                                                                             (1)

Onde:

E é a demanda de energia por dia em kWh/mês;

V é o volume diário de água quente a ser aquecida em litros;

Cp é o calor específico da água constate de 4,18 kJ/koC;

t2 é a temperatura de água quente requerida para o uso específico, em oC;

t1 é a temperatura de água fria igual a 20,2 oC  (média histórica da temperatura do Município de São Paulo).

Etapa 3: determinar a produção de energia dos coletores solares no Município de São Paulo

O cálculo da produção média mensal de energia em kWh de qualquer coletor solar no Município de São Paulo é feito por meio da equação 2.

Pme(SP)= 0,65 .Pme(Tabela do INMETRO)                                                            (2)

Onde:

Pme(SP) é a produção média mensal de energia específica no município de São Paulo em kWh/mês.m2;

Pme(Tabela do IMETRO) é a produção média mensal de energia específica dos coletores solares  publicados na Tabela de sistemas e equipamentos para fornecimento solar de água do INMETRO, em kWh/mês.m2.

O fator 0,65 é adotado como redutor da eficiência dos parâmetros publicados pelo INMETRO, os quais se referem a medições ideais de laboratório, que levam em conta as condições climáticas do município de São Paulo.

Etapa 4: determinar a área de para atendimento da contribuição solar (fração solar) segundo o requisito desta lei:

AC igual a F cd vezes CS vezes E dividido por  P me SP                                                                                (3)

Onde:

AC é a área de coletores solares em m2;

Fcd é o fator de correção para desvio do Norte Geográfico indicado na Tabela 1;

CS é a contribuição solar (fração solar);

E é a demanda de energia mensal em kWh/mês;

Pme(SP) é a produção média mensal de energia específica do coletor solar no município de São Paulo em kWh/mês.m2.

Os coletores solares devem ser orientados para o Norte Geográfico. Quando não for possível a orientação ideal, deve-se aplicar um fator de correção para desvios do Norte Geográfico de acordo com a Tabela 1.

Tabela 1 – Fator de correção para desvio do Norte Geográfico

Desvio do Norte Geográfico (para Leste ou Oeste)

Fcd

Até 30o

1

De 31 a 60o

1,13

De 61 a 90o

1,16

Exemplo

Calcular a quantidade de coletores solares para um edifício de 13 andares com 2 apartamentos por andar. Considerar o consumo de água quente somente para banho e que o consumo diário por pessoa para dois banhos seja de 130 litros a 40 oC e uma média de 4 pessoas por apartamento.

Etapa 1: Volume diário

V = 26 apartamentos x 4 pessoas/apto. x 130 L/pes.dia

V = 13520 litros a 40 oC

Etapa 2: Cálculo da quantidade de energia necessária para aquecer o volume diário

E = 13520 x 4,18 (40 – 20,2) 30/3600

E = 9.324,7 kWh/mês

E = 89,7 kWh/mês por habitante

Etapa 3: Cálculo da produção de energia dos coletores solares no Município de São Paulo

Os valores de Pme(tabela do IMETRO) variam entre 70 e 80 kWh/mês.m2, dependendo do tipo de equipamento. O valor adotado será de 80 kWh/mês.m2

Pme(SP) = 0,65 x 80

Pme(SP) = 52 kWh/mês.m2

Etapa 4: Cálculo da área de coletores solares

Considera-se: Fcd = 1,0 e CS = 40%

AC = 1,0 x 0,4 x 9324,7/52

AC = 71,7 m2

Considerando-se uma perda em todo o sistema de 15%, tem-se 84,4 m2 de coletores. Considerando-se ainda que o coletor tenha 2,0 m2 tem-se 42,2 coletores.

Dimensionamento do Sistema

Sistema de reservação

O dimensionamento dos equipamentos geradores de água quente deve ser feito considerando-se:

·         a solicitação do aquecedor pelos usuários, por meio da vazão de suprimento (capacidade de recuperação), e seu correspondente volume de armazenamento (acumulação) requerido;

·         as características de capacidade de recuperação e volume armazenado oferecidas pelo sistema de geração de água quente.

Assim, um sistema adequadamente dimensionamento deve apresentar capacidade de recuperação versus volume armazenado maior que a capacidade de recuperação versus volume armazenado solicitado.

Ressalta-se que a capacidade de recuperação, representada pela potência instalada do aquecedor, deve incorporar o seu rendimento no processo de transferência de energia, ao passo que o volume de acumulação deve considerar a ocorrência de estratificação da distribuição de temperaturas no interior do aquecedor, que resulta em redução do volume efetivamente utilizável.

Os aquecedores de passagem ou instantâneos devem atender à vazão máxima provável no sistema de distribuição.  

Estimativa do consumo diário de água quente

O consumo diário de água quente, em função do tipo de uso da edificação, é estimado por meio da equação 4.

            CD = CAQ . P                                                                                            (4)

Onde:

CD = consumo diário de água quente total (L/dia);

CAQ = consumo diário de água quente per capita (L/dia);

P = população do edifício.                                                       

Na Tabela 2 são indicados alguns valores do consumo diário de água quente.

Tabela 2 - Consumo diário de água quente

Edificação

Consumo diário

Alojamento provisório

24 per capita 

Apartamento

60 per capita 

Casa popular ou rural

36 per capita 

Escola (internato)

45 per capita 

Hospital

125 por leito 

Hotel (s/cozinha e s/ lavanderia)

36 por hóspede 

Lavanderia

15 por kg de roupa seca 

Quartel

45 per capita 

Residência

45 per capita 

Restaurantes e similares

12 por refeição

Na Tabela 3 são apresentados alguns indicadores para a determinação da população em edifícios para diferentes fins.

Tabela 3 – Estimativa de população em edifícios

Edifício

População

Escritório

1 pessoa/3m2

Loja

1 pessoa/3m2

Hotel

1 pessoa/3m2

Hospital

1 pessoa/3m2

Apartamento/residência

P = 2 x NDS + NDE ou 5 pessoas/unidade

NDS = número de dormitórios sociais

NDE = número de dormitórios de serviço

Cálculo do volume a ser reservado

A determinação do volume de água a ser reservado é feita por meio da aplicação da Primeira Lei da Termodinâmica, por meio da equação 5.

Qcedido = Qrecebido                                                                                                  (5)

Considerando-se regime permanente, tem-se:

m1 . c1 . (ti1 – tf) = m2 . c2 . (ti2 – tf)                                                                       (6)

onde:           

m = vazão em massa em L/h;

c = calor específico em kcal/kgoC;

t = temperatura em oC.

Como o líquido é o mesmo c1 = c2, (sendo o índice 1 para água quente e o índice 2 para água fria), tem-se:

m1 . ti1  + m2 . ti2  = (m1 + m2) tf                                                                         (7)

ou:

VAQ . tAQ + VAF . tAF = Vmist . tmist                                                                        (8)

onde:

VAQ = volume de água quente (consumo diário a 70oC - incógnita)

 tAQ = temperatura de água quente no aquecedor (valor usual: 70oC)

VAF = volume de água fria

tAF = temperatura de água fria no inverno (valor usual: 15 oC)

Vmist = volume de água de mistura utilizado (consumo diário – tabela 2)

 tmist = temperatura de mistura (água morna, valor usual: 42oC)

Sabe-se que:

Vmist = VAF + VAQ                                                                                                  (9)

Substituindo a equação (9) e os valores de temperatura na equação (8), vem:

70 VAQ  + 15 (Vmist  - VAQ) = 42 Vmist

Tem-se:

VAQ = 0,51 Vmist                                                                                                 (10)

Sistema de distribuição

O dimensionamento do sistema de distribuição de água quente é feito da mesma maneira que o sistema de água fria, ou seja: considera-se regime permanente em conduto forçado, onde se faz um balanceamento entre o diâmetro da tubulação, a vazão de projeto esperada e as pressões necessárias para o funcionamento adequado dos equipamentos sanitários, tendo em vista a carga disponível.

Vazão

Para um mesmo nível de satisfação de um determinado usuário, a vazão unitária de água quente apresenta-se variável em função de sua temperatura, ou seja, quanto mais alta a temperatura, menor a vazão, conforme expressa a equação (11):

qAQ igual diferença entre T mist e T AF dividido pela diferença entre T AQ e T AF vezes q mist                                                                                              (11)

Onde:

qAQ = vazão de água quente em L/s;

tmist = tempertaura de mistura (água morna) em oC;

tAF = temperatura de água fria o;

tAQ = temperatura de água quente em oC;

qmist = vazão de mistura (água morna) em L/s.

Para a determinação da vazão de projeto nos trechos do sistema há duas alternativas:

·         supor o funcionamento simultâneo de todos os pontos de consumo do sistema (vazão máxima de projeto), o que se constitui, na maioria dos casos numa abordagem inadequada, uma vez que a probabilidade de que isto ocorra é bastante reduzida, resultando em instalações anti-econômicas;

·         incorporar à vazão máxima de projeto fatores que representem  a probabilidade de utilização simultânea de diferentes pontos de consumo do sistema (vazão máxima provável).

O dimensionamento da rede de distribuição, na primeira alternativa, se reduz à aplicação da Mecânica dos Fluidos, porém é improvável que todos os pontos de consumo sejam utilizados simultaneamente.

Os métodos para a determinação das vazões de projeto são: métodos empíricos e métodos probabilísticos. Os métodos empíricos são aqueles cuja técnica de determinação das vazões de projeto baseia-se na utilização de tabelas, gráficos e expressões matemáticas, estabelecidos a partir da experiência de seus propositores como, por exemplo, o método dos pesos, apresentado na NBR 5626 (ABNT, 1998). Já os métodos probabilísticos são aqueles cuja técnica de determinação das vazões de projeto baseia-se na utilização de tabelas, gráficos e expressões matemáticas, estabelecidos a partir de conceitos probabilísticos.

Segundo a NBR 7198 (1993) pode-se utilizar qualquer método para a determinação das vazões de projeto, seja ele empírico ou probabilístico, desde que seja convenientemente justificado no memorial de cálculo do projeto.

O método empírico, apresentado na NBR 5626 (ABNT, 1998) é válido também para água quente e a estimativa das vazões de projeto em um trecho do sistema é feita por meio da equação 12.

Q igual 0,3 da raiz da somatória de P                                                                                         (12)

Onde:

Q é a vazão estimada na seção considerada, em litros por segundo;

ΣP é a soma dos pesos relativos de todas as peças de utilização alimentadas pela tubulação considerada.

Na Tabela 4 são apresentados os pesos e as vazões unitárias dos aparelhos sanitários.

Tabela 4 – Pesos e vazões unitárias de aparelhos sanitários

Aparelho sanitário Peça de utilização Peso relativo Vazão unitária(L/s)

Banheira

Misturador (água quente)

1,0

0,30

Bidê

Misturador (água quente)

0,1

0,06

Chuveiro ou ducha

Misturador (água quente)

0,5

0,12

Lavatório

Misturador (água quente)

0,5

0,12

Pia

Misturador (água quente)

0,7

0,25

A determinação da vazão de projeto para barriletes, colunas e ramais pode ser através de duas formas:

·         soma das vazões de todos os aparelhos do trecho considerado (vazão máxima possível);

·         incorporação de fatores de simultaneidade à vazão máxima possível, obtendo-se a vazão máxima provável ou então, para o caso de ramais de edifícios residenciais, a soma das vazões dos aparelhos ligados ao ramal e que se julga em funcionamento simultâneo.

Velocidade

A velocidade de escoamento é limitada como forma de controlar o ruído, golpe de aríete e corrosão. A NBR 7198 (ABNT, 1998) recomenda que a velocidade da água nas tubulações não deve ser superior a 3 m/s.

Pressão

A NBR 7198 (ABNT, 1998) recomenda que a pressão estática máxima nos pontos de utilização não deve ser superior a 400 kPa e que a pressão dinâmica nas tubulações não devem ser inferiores a 5 kPa.

Pré-dimensionamento

Conhecendo-se as vazões de projeto nos diferentes trechos do sistema, faz-se o pré-dimensionamento dos mesmos, uma vez que, pela equação da continuidade:

 QP = Amín . Vmáx                                                                                      (13)          

Sabe-se que:

A igual a pi d quadrado sobre quatro                                                                                                  (14)

Substituindo (14) em (13) e isolando D, tem-se:

D min igual a raiz de 4 Q sobre pi V máx                                                                                         (15)

Onde:

QP é a vazão de projeto em m3/s;

Amín é a área mínima da seção transversal do tubo em m2;

Vmáx é a vlocidade máxima recomendada em m/s;

Dmín é o diâmetro interno mínimo em m.

Adota-se, para cada trecho, o diâmetro nominal imediatamente superior, cujo diâmetro interno seja igual ou maior ao valor de Dmín calculado.

Os sub-ramais devem apresentar os diâmetros mínimos dos aparelhos a serem instalados.

Perda de carga

A determinação da pressão disponível nos vários trechos do sistema requer o cálculo da perda de carga, ou seja, a perda de energia que a água despende ao escoar.

A pressão dinâmica disponível a jusante em um trecho qualquer é obtida através da equação 16.

Pjusante = Pmontante ± Desnível - perda de carga                                            (16)

Onde:

Pjusante é a pressão dinâmica disponível a jusante do trecho considerado;

Pmontante é a pressão dinâmica disponível a montante do trecho considerado;

Desnível é a diferença de cotas geométricas dos pontos que definem o trecho.

Sistema de recirculação

Constitui-se de um conjunto de tubulações interligando os pontos mais distantes da rede ao equipamento de aquecimento com o objetivo de manter os níveis satisfatórios de temperatura da água em todos os pontos de utilização.

A recirculação de água quente pode ser natural ou forçada. Na recirculação natural, apresentada na Figura 14, utiliza-se a carga hidrostática gerada pela diferença de temperaturas, consequentemente de densidade, das redes de distribuição e de retorno. Este fenômeno é, em geral, denominado de termosifão, e ocorre porque a água na rede de retorno se encontra a uma temperatura mais baixa e, portanto, mais densa, o que resulta em uma carga hidrostática maior no ponto de inserção da tubulação de retorno ao equipamento de aquecimento.

Figura 14 – Sistema de recirculação natural

Na recirculação forçada a carga necessária é obtida por meio da interposição de uma bomba, adequada à temperatura de serviço do sistema.

Referências Bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto e execução de instalações prediais de água quente. NBR 7198. Rio de Janeiro, 1993.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Instalação predial de água fria. NBR 5226. Rio de Janeiro, 1998.

CEOTTO, L.H. Aquecimento solar: é possível obedecer à lei? – parte 1. Revista Notícias da Construção. Capturado em http://www.sidusconsp.com.br/publicacoes. Acesso em 16/07/2008.

CEOTTO, L.H. Aquecimento solar: é possível obedecer à lei? – parte 2. Revista Notícias da Construção, Sinduscon São Paulo, 2008,p. 22-23.

ILHA, M.S.O.; GONÇALVES, O.M.; KAWASSAKI, Y. Sistemas prediais de água quente. São Paulo, 1994. Texto Técnico, Escola Politécnica da USP. TT/PCC/09.

SÃO PAULO, LEIS, DECRETOS. Diário Oficial da Cidade de São Paulo.  Decreto no 49.148, de 21 de janeiro de 2008. Regulamenta a lei no 14.459. 5p.