Resumo de algumas referências sobre a confecção de vídeos educativos. Algumas referências, como as dicas de Khan (do Khan academy) parecem se basear em intuições e senso comum. As regras sintetizadas pelo Richard Mayer, por outro lado, são baseadas em anos de pesquisa na área de psicologia. Mas podem ser mais difícil de aplicar na prática por serem mais abstratos.

Dicas para instrutores de uma plataforma "MOOC" ou estilo "Khan"

Neste curso (é preciso criar uma conta e se inscrever) feito para instrutores do EdX há uma seção sobre como fazer vídeos. As dicas são práticas e descrevam vídeos relativamente simples no estilo "Khan" (até tem um vídeo dele contando como faz seus vídeos).

Primeiro, a suposição é que o método "apresentar slides ou desenhar numa tela com o professor falando (eventualmente com a cabeça dele num quadradinho)" funciona. Com um web-cam, microfone,  software que captura a tela (screencast) e talvez uma mesa digitalizadora hoje isto não é difícil fazer.

Depois, há algumas dicas práticas:

  1. Usar um tom de conversa, dar impressão que está falando com o espectador;
  2. Fazer vídeos curtos, de 3-7 min.
  3. Conseguir som de boa qualidade! Ficar num ambiente pequeno (pouco echo), silencioso.  Separar captura de audio e video e juntar na edição. Fazer roteiro (bullets point funcionam bem) e treinar bastante antes da gravação.

Começar com a "concepção alternativa".

Derek Muller, o Veritasium, escreveu sua tese de doutorado sobre como criar vídeos para ensinar ciência (PDF). Neste vídeo, critica os vídeos do Khan, não exatamente pela forma (veja acima) mas pelo conteúdo. Segundo Muller, para fazer um vídeo didaticamente eficaz este deve induzir o aluno a se esforçar, duvidar e pensar.

Explicações boas demais, paradoxalmente, fazem com que os alunos gostam mais do vídeo, mas não mudam as suas concepções. A recomendação que dá é começar o vídeo mostrando ao aluno que alguma concepção dele não se conforma com o modelo correto. Para isto, é necessário entender quais são as chamadas "concepções alternativas" do seu público alvo.

Princípios baseado em pesquisa para aprendizagem multimídia

Richard Mayer é um especialista (psicólogo) reconhecido na área de aprendizagem usando multimídia. O seu livro Multimedia learning, 2nd ed. Cambridge ; New York: Cambridge University Press, 2009 é uma das referências mais citadas na área. Existem dois vídeos (2015, 2011) onde estas pesquisas são apresentados e vou resumir os princípios destacados neste resumo (PDF).

O princípio principal, com fundamentos em experiências, é que instrução com palavras e imagens juntos funciona melhor que instrução com só palavras (as tradicionais palestras).

Esquema do modelo cognitivo adotado pelo Richard Mayer, mostrando informação passar por dois canais (o verbal e visual) e vários estágios de processamento.

O modelo cognitivo do aprendiz adotado pelo Mayer reconhece que mensagens passam por dois canais (verbal e visual) e vários tipos de processamento (selecionar, organizar, integrar). Mas a capacidade de processamento é limitada, sobretudo num único canal.  Finalmente, aprendizagem ocorre ativamente: aprendizes selecionam, organizam e integram o material apresentado com seus conhecimentos prévios. Com este modelo, e muitos experimentos, o Mayer chega a 12 princípios que devem ser levados em conta na hora de produzir material audiovisual.

Reduzir Processamento Desnecessário
  1. Princípio da coerência: remover material desnecessário e que pode distrair da mensagem principal.
  2. Princípio da sinalização: Destacar a organização do material essencial. Exemplos incluem usar cabeçalhos, índices, "mapas mentais", negrito para destaque.
  3. Princípio de redundância: pessoas aprendem melhor de gráficos e narração, em comparação com gráficos, narração e texto. A razão é o canal verbal fica sobrecarregado no último caso. Ou seja, não é uma boa ideia acrescentar legendas ou palavras a uma animação, se a voz já fala sobre a animação.
  4. Princípio da contiguidade espacial: apresentar palavras próximos do gráfico, para facilitar fazer conexões entre elementos do gráfico e as palavras correspondentes.
  5. Princípio da contiguidade temporal: a narração deve falar sobre as imagens no vídeo simultaneamente e não depois.
Gestão do Processamento Essencial

Às vezes, há uma grande quantidade de material essencial. Devemos então fazer uma gestão da velocidade e maneira que este material é tratado, para não sobrecarregar os sistemas de processamento do aprendiz.

  1. Princípio da segmentação: usar pedaços de conteúdo pequenos, dando oportunidade de respirar, ao vez de tratar uma grande quantidade de conteúdo ao mesmo tempo.
  2. Princípio do pré-treinamento: antes da aula principal, apresentar os nomes e conceitos principais. Assim, durante o processo de aprendizagem principal, o aprendiz pode focar nas ligações causais entre os conceitos, ao vez em nomes e definições.
  3. Princípio da modalidade: preferir voz acima de palavras escritas, para sobrar processamento cognitivo para animação. Se usar palavras juntos com imagens no vídeo, talvez sobrecarrega o canal visual.
Incentivar e Motivar

Há situações em que sobra processamento cognitivo, mas o aprendiz não é motivado de usá-lo. É preciso ser motivado para aprender algo, já que aprender requer esforço.

  1. Princípio da personalização: usar um estilo “pessoal” ao vez de “formal” na narração.
  2. Princípio da voz:  usar voz de humano ao vez de uma voz mecânico
  3. Princípio de personificação: tenha a presença de um humano na tela...
  4. Princípio da imagem: ...mas somente uma imagem humana estática não adianta.


Última atualização: domingo, 23 set. 2018, 20:50