Sistemas
de Informação (SI) são fundamentais para potencializar a criação, disseminação
e aplicação de conhecimento. Os SI podem apresentar funcionalidades em
diferentes níveis, de complexidade e sofisticação, desde algo muito básico e
específico, até muito geral e sofisticado. Porém, todos os SI possuem objetivos
comuns, sendo que, em se tratando de Sistemas de Informação em Saúde (SIS), o
objetivo comum é sempre de melhorar a saúde dos indivíduos e das populações
através da aplicação adequada de conhecimentos gerados a partir de informações
organizadas.
De
forma a se buscar garantir que os SIS efetivamente agregue valor ao processo de
saúde, garantindo eficácia e eficiência na sua utilização, alguns cuidados
devem ser tomados no seu processo de implantação. Um aspecto muito importante a
se considerar é buscar definir de forma clara e objetiva a abrangência dos
SIS. Ou seja, identificar os resultados
esperados com a sua implantação. Por exemplo, o sistema tem por objetivo
facilitar o cuidado do paciente? Em que nível? O sistema a ser implantado tem
por finalidade gerenciar recursos? Quais recursos, em que nível, em quantos
locais? O sistema deverá apoiar a aplicação de cuidados preventivos para uma
população específica? Além disso, avaliações e definições referentes aos
aspectos técnicos de implantação, recursos humanos e fontes de financiamento
devem ser também consideradas.
Conforme
citado anteriormente, a informação é um elemento essencial na toma
de decisões na prestação de cuidados e na orientação de políticas públicas e
institucionais para a saúde. Dessa forma, para que um SIS seja útil ele deve ser
capaz de capturar e tratar uma grande diversidade de processos e dados
relacionados à atenção à saúde. A base tecnológica do sistema de informação é a
aplicação computacional que possibilita alcançar os objetivos para ele
estabelecidos. Uma vez implementada, a aplicação computacional (software) passa também, por sua vez, a
definir as possibilidades de uso do sistema em situações específicas da rotina
de atenção à saúde.
Segundo
Patrício (2011), as primeiras experiências com uso de sistemas de informação em
saúde datam da década de 1960 e tinham inicialmente foco administrativo,
buscando favorecer a comunicação entre os vários setores de um hospital,
passando, posteriormente, a armazenar também informações sobre os pacientes.
Segundo Marin (2010), até a década de 1980 os SIS trabalhavam de forma isolada.
A partir da década de 1990 os sistemas passaram a ser mais integrados,
possibilitando a comunicação e integração entre sistemas situados em diferentes
locais geográficos e em diferentes hospitais ou serviços de atendimento em
saúde. Os avanços tecnológicos a partir dos anos 2000, particularmente a
evolução da computação distribuída e o estabelecimento de padrões de
comunicação específicos, têm possibilitado a estruturação de SIS com
arquitetura e funcionalidades voltadas para promover a integração da informação
disponível em um ambiente de atenção à saúde em rede. Mesmo assim, ainda
segundo Marin (2010), dependendo da forma como foram construídos e, dependendo
do modelo utilizado de implantação e distribuição, os sistemas hoje utilizados nos
mais diversos países, apresentam desafios enormes para atingirem níveis básicos
de integração e interoperabilidade.
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE EM AMBITO
NACIONAL
Segundo
Carvalho (1998), a tendência histórica em vários países tem demonstrado não ser
possível a concretização de um sistema único, gerador de todas as informações
de saúde, até porque as realidades e necessidades são distintas. Busca-se
idealmente a integração e articulação entre os vários sistemas, para se evitar
a duplicidade da coleta de dados, a coleta de dados desnecessários, bem como a
sobrecarga dos profissionais de saúde. Ainda segundo o autor, idealmente, a
coleta de dados deve ser feita respeitando-se a hierarquização, a descentralização
e a municipalização dos serviços de saúde, de acordo com a complexidade das
ações e com as necessidades dos diferentes níveis de gestão do sistema de
saúde. Idealmente, também, cada nível estrutural deverá ter um conteúdo mínimo
suficiente para cumprir as diretrizes e princípios do SUS. O município deve
deter informações suficientes para a gerência local dos serviços, remetendo-os,
seletivamente, aos níveis estadual e federal, que detêm os papéis de
coordenadores e supervisores das ações de saúde. Dessa forma, a constituição de
um sistema básico de informação, de abrangência nacional, deve ter suas fontes
de coleta de dados nas instituições sediadas nos municípios, de forma que os
dados de interesse estadual ou nacional possam ser coletados, processados e
enviados a esses níveis, sem prejuízo das outras necessidades específicas de
informação reconhecidas pelo município. Isso quer dizer que o município pode
ter um sistema que englobe uma série de outras informações, além daquelas
exigidas pelos níveis estadual ou nacional, processar seus próprios dados, ter
seus relatórios para monitoramento e avaliação e participar de maneira eficiente
do envio da informação aos demais níveis de gerência do SUS. Em geral, esse é o
modelo existente em municípios que dispõe de SIS, desenvolvidos localmente ou
adquiridos de terceiros, e os dados solicitados são enviados em mídias, em
arquivos DBF, TXT ou outros padrões, a partir de uma definição prévia da
estrutura do banco de dados.
"Constituem
Sistemas de Informação em saúde necessários aqueles que irão permitir conhecer
as características sociais, econômicas, físicas, demográficas e outras que
possam afetar a saúde. Aqueles que permitem conhecer os problemas de saúde do
município, não apenas os percebidos pelas autoridades de saúde, mas também os
sentidos pela população. Aqueles que possibilitam acompanhar a programação de
saúde dirigida ao atendimento individual e coletivo, não apenas para a detecção
de doenças e tratamento, mas também para a prevenção da doença e promoção à
saúde, gerando indicadores de eficácia e efeitos dos serviços de saúde, além
dos que informam mais estritamente os aspectos administrativos.” (CARVALHO,
1998, p.30).
Há
vários aplicativos desenvolvidos para o setor público de saúde pelo DATASUS (Departamento
de Informática do SUS) que têm a função de integrar sistemas para a gerência em
saúde, no controle orçamentário/financeiro, de estoque, produção de atividades,
morbidade e mortalidade, unidades ambulatoriais, hospitalares, laboratórios,
etc. Porém, não há ainda disponível um aplicativo completo que responda a todos
os aspectos da gerência, tanto àqueles relativos ao atendimento individual à
saúde, quanto àqueles relacionados às ações coletivas.
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE EM
AMBITO HOSPITALAR E DE ATENDIMENTO INDIVIDUAL.
No
nível de cuidado do paciente (ou do usuário do sistema de saúde, em geral) o
sistema de informação deve assumir também a função de prontuário. Evidentemente
que, da mesma forma que os sistemas de âmbito nacional, o sistema de informação
em saúde com foco na atenção ao paciente deverá também suportar atividades de
gestão organizacional. Dessa forma, no âmbito do atendimento clínico, o SIS
deve funcionar, de um lado, como um prontuário eletrônico do paciente (PEP) e,
do outro, como um sistema de gestão em saúde, englobando recursos financeiros,
recursos humanos, materiais, equipamentos e espaço físico.
No
âmbito da atenção hospitalar o que se encontra, em geral, é um conjunto de
sistemas e aplicações formado por um sistema principal, que funciona como um
organizador do fluxo de atendimento e porta de entrada do paciente no serviço,
conhecido normalmente como Sistema de Informação Hospitalar (ou HIS, do Inglês,
Hospital Information System). O HIS
engloba as informações demográficas do paciente e o conjunto de procedimentos
ao qual ele é submetido em seu atendimento. O HIS também coordena o fluxo de
dados e de atividades de outros sistemas voltados para atividades específicas.
Por exemplo, no serviço de radiologia e diagnóstico por imagem existe o Sistema
de Informação em Radiologia (ou RIS, do Inglês, Radiology Information System). O RIS é responsável pela gestão
organizacional das atividades do serviço, através de um processo de agendamento
eletrônico e também pelo arquivamento e disponibilização dos laudos dos exames
realizados. O RIS também é responsável pela transferência de dados demográficos
sobre os pacientes e exames para o PACS (do Inglês, Picture Archiving and Communication System), que é o sistema
voltado para o arquivamento e distribuição de imagens, que por sua vez, é
responsável pela inserção dessas informações nas interfaces dos equipamentos de
realização de exames, como tomografia computadorizada, ressonância magnética,
etc. Quando se trabalha com os padrões de comunicação especificados para a área
da saúde, como o HL7 e o DICOM, a transferência de informação entre os vários
sistemas é feita segundo um modelo Top-to-Down,
ou seja, do sistema mais genérico para os mais específicos. Dessa forma, o
sistema mais específico contém todas as informações propagadas pelos sistemas
anteriores, além das suas próprias, garantindo assim a consistência dos dados
em todos os níveis.
De
forma similar, a integração de sistemas também é feita para outros serviços e
setores do hospital. Como por exemplo, entre o HIS e o LIS (do Inglês, Laboratory Information System), que é o
sistema responsável pelos exames laboratoriais. Nesse caso, se forem utilizados
os padrões HL7 e LOINC, tanto os dados demográficos dos pacientes e exames
podem ser inseridos de forma automática nas interfaces dos equipamentos
laboratoriais, como os resultados dos exames podem ser automaticamente enviados
para o PEP.
Existem
várias soluções de SIS comerciais e, também, algumas de código aberto e licença
livre, voltadas para o atendimento em clínicas e serviços de pequeno e médio
porte. Da mesma forma, existem algumas soluções voltadas para os serviços
públicos de atenção à saúde em nível primário e secundário. Em geral, essas
soluções seguem basicamente o mesmo modelo de integração e fluxo de dados que
os sistemas hospitalares, porém trabalhando em menor escala e complexidade. Da
mesma forma que no ambiente hospitalar, a garantia da consistência, bem como a
otimização do fluxo de dados entre os diferentes módulos do sistema, bem como
entre sistemas diferentes, depende necessariamente da adoção dos padrões de
comunicação estabelecidos para a área da saúde.
Recentemente, o Departamento de Atenção Básica (DAB) iniciou um trabalho voltado para reestruturar as informações da Atenção Básica em nível nacional. Esta ação está alinhada com a proposta mais geral de reestruturação dos Sistemas de Informação em Saúde do Ministério da Saúde, entendendo que a qualificação da gestão da informação é fundamental para ampliar a qualidade no atendimento à população. Como parte dessa estratégia de ação, denominada e-SUS, faz referência ao processo de informatização qualificada em busca de um SUS eletrônico, está em desenvolvimento um aplicativo chamado e-SUS AB/PEC, que é um Sistema com Prontuário Eletrônico do Cidadão, destinado a municípios cujas Unidades Básicas de Saúde são informatizadas, possuem algum grau de conectividade e contam com profissionais capacitados para apoiar sua implantação. .