3. O nicho como objeto de estudo da Ecologia

Ao longo da semana 2 vimos o conceito de nicho. Ele é muito utilizado em diversas áreas da Ecologia, principalmente no ramo que estuda nossa influência sobre os ecossistemas.

Se analisarmos cuidadosamente a própria área da Conservação, veremos que ela tem como base a necessidade de se compreender o nicho das espécies envolvidas. Um bom exemplo a ser citado é o problema para a conservação de uma espécie ameaçada onde seu nicho efetivo está estreito por perda de habitat (pense no nosso exemplo brasileiro das onças pintadas e no tamanho da área que elas necessitam para sobreviver). Nesse caso o gestor deve planejar as ações de conservação da espécie em função do seu nicho fundamental, para tentar aumentar as chances de sobrevivência dessa espécie (no caso das onças, o gestor deverá planejar viando um aumento das áreas naturais que tenham os recursos e as condições que essa espécie tolera, para que ela efetivamente utilize o espaço). Dessa maneira, através do nicho fundamental tenta-se ampliar o nicho efetivo de uma espécie foco.


Figura 10.1 A onça pintada (Panthera onca), um exemplo de utilização do conceito de nicho para a conservação.
Fonte: Thinkstock.

Na semana 9 foi apresentada a Ecologia da Restauração – uma das vertentes nos estudos de Ecologia. Os estudos de restauração baseiam-se em aplicação prática dos conhecimentos teóricos, visando restaurar áreas degradadas. Dentro da criação de projetos práticos para se testar novas metodologias, podemos destacar os que utilizam como princípio a utilização de plantas com nichos fundamentais que incorporem condições extremas. Essas plantas podem ser colocadas em locais que, devido à degradação, tiveram suas condições e recursos modificados, e as espécies nativas originais não conseguiriam se reinstalar sem algum tratamento prévio.

Nessa mesma linha, a “fitorremediação” consiste em utilizar plantas que criem as condições apropriadas ao seu nicho fundamental. Por exemplo, pode-se utilizar uma planta que diminua a concentração de um metal pesado no solo, pois essa espécie sobrevive melhor em solos com baixa concentração desse metal. Essa remediação que a planta causa forma um habitat favorável ao estabelecimento de outras espécies mais sensíveis, que não se estabeleceriam devido à intoxicação do solo.

Ainda tratando do nicho, vimos o problema das invasões biológicas na Semana 9. As invasões podem ser favorecidas pela combinação de recursos e condições de um local, por exemplo, uma área já impactada por alguma atividade humana (como o desmatamento) pode acabar apresentando condições e recursos novos após essa modificação. Essa nova gama de características locais pode favorecer a entrada de espécies novas em detrimento das nativas, já que estas espécies apresentam nichos distintos. Outro aspecto considerando as invasoras também leva em conta os habitats modificados por ações humanas: uma espécie que tenha um nicho que engloba características de locais interferidos pelo homem terá maiores chances de se dar bem, pois os locais modificados são cada vez mais abundantes (pense em uma espécie cujo nicho fundamental englobe características urbanas!).

Finalmente, podemos tratar o nicho relacionando com o problema do aquecimento global (tratado na semana 8). As mudanças climáticas poderão sobrepor novos nichos das espécies, já que trarão novas condições aos ambientes. Dessa maneira, com sobreposições novas, uma área preservada (como as Unidades de Conservação), por exemplo, pode não ser mais suficiente para proteger uma determinada espécie (em função do seu novo nicho formado devido a mudanças nas condições). Na mesma linha, uma das grandes possibilidades de estudos em Ecologia atualmente utiliza-se de mapeamentos das novas condições que as mudanças climáticas formarão (não só a temperatura, mas também os padrões de pluviosidade que as mudanças de temperatura influenciarão), e como isso afetará a distribuição das espécies em questão.

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