5. A fragmentação de habitats

O que implica uma fragmentação de habitat?

O homem moderno desmata, remove os ambientes nativos para instalar sua moradia, suas plantações, sua pecuária ou todas as atividades que ocorrem num núcleo urbano (fábricas, lojas, bairros etc). Essa remoção pode ser total ou parcial, em um espaço considerado. Quando parcial, os ambientes nativos são “picotados”, de modo que restam pequenas manchas, dizendo-se então que o ecossistema natural, ou o habitat natural, foi fragmentado. Nesse caso, embora ainda permaneçam porções do ambiente natural, elas já não têm a mesma qualidade de uma área maior e não-fragmentada. Em pequenas manchas de habitat, as populações das espécies que sobreviverem terão muito menos indivíduos porque não haverá recursos suficientes para manter uma grande população. Quanto maior for a área necessária para a sobrevivência da espécie (área de vida) tanto menor será o tamanho da população que conseguirá sobreviver dentro do fragmento.

Essas populações pequenas também estão sujeitas à degeneração genética devido ao cruzamento entre indivíduos aparentados (endocruzamentos), o que acentua a incidência de malformações. (Figura 9.4).

Figura 9.4 Fatores genéticos que levam pequenas populações a extinções.
Fonte: CEOA. Adaptado de Primack 1993.


Por exemplo, compare uma população de onças, que têm grandes áreas de vida, com uma população de gambás, que sobrevivem em áreas menores. Com a fragmentação e formação de pequenas ilhas de habitat, as onças serão prejudicadas muito mais rapidamente, pois o fragmento terá recursos para manter uns poucos indivíduos, enquanto, para os gambás, um fragmento pequeno até pode ter recursos suficientes, dependendo do tamanho de sua população. Os poucos indivíduos de onça que restarão no fragmento terão poucos parceiros para a procriação, ocorrendo então endocruzamentos e possíveis degenerações genéticas. Concluindo, populações pequenas geralmente não são populações viáveis.

Outro problema dos pequenos fragmentos é o fato de que eles estão muito mais sujeitos às influências externas. Um pequeno fragmento isolado no meio de uma plantação, por exemplo, sofrerá – especialmente em suas bordas – os efeitos dos agroquímicos, da compactação do solo pelos tratores, receberá resíduos das culturas etc. Essas influências externas são os chamados efeitos de borda e serão tanto maiores quanto maior o perímetro – ou borda – do fragmento em relação à sua área total. (Figura 9.5).


Figura 9.5 Exemplo de paisagem de Mata Atlântica fragmentada no interior de Minas Gerais
Fonte: Ana Luisa Mengardo.

Além disso, os fragmentos isolados e cercados por outro tipo de uso de solo (cidade, agropecuária, etc) também sofrem a ameaça por espécies exóticas. As espécies exóticas configuram uma ameaça pois podem iniciar um processo de invasão biológica, ainda pouco conhecido da maioria da população. A invasão biológica ocorre quando uma espécie exótica (não-nativa) com alta capacidade de reprodução e dispersão se instala, competindo com as espécies nativas por recurso (água, luz, nutrientes, alimento, etc), podendo levá-las à extinção local. Há, atualmente, uma infinidade de ecossistemas ameaçados por espécies exóticas invasoras, que são trazidas ao novo ambiente pelo próprio homem, ou porque lhe são úteis (ex.: plantas forrageiras, alimentícias, ornamentais, animais para consumo humano ou de estimação) ou acidentalmente (ex.: presas a cascos de navios, pneus de veículos, sapatos e roupas). Além dos danos ecológicos que causam, as invasões biológicas podem provocar imensas perdas financeiras, quando competem ou atacam espécies de interesse econômico direto.