6. O desenvolvimento da comunidade

As comunidades existem num estado de fluxo contínuo. Alguns organismos morrem, outros nascem para tomar seus lugares; a energia e os nutrientes passam através da comunidade. No entanto, a aparência e a composição da comunidade não variam muito ao longo do tempo. Assim, a comunidade muda de fato somente quando há uma perturbação no habitat.

As espécies pioneiras adaptadas aos habitats perturbados que colonizam a área logo após a perturbação são sucessivamente substituídas por outras espécies, conforme a comunidade atinge sua estrutura e composição originais.

A seqüência de mudanças iniciada pela perturbação é chamada de uma sucessão, e a associação última de espécies é chamada de comunidade clímax (figura 5.4). Só lembrando que nem sempre a sucessão é linear e atinge um “clímax”.


Figura 5.4 Esquema de sucessão secundária em um campo abandonado.
Fonte: CEPA

Leia a seguir o texto retirado do livro “A economia da Natureza” de Robert E. Ricklefs que conta um pouco sobre o que aconteceu na Ilha de Cracatoa e como ocorreu a ainda ocorre a sucessão de espécies na comunidade.

Em 27 de agosto de 1883, a ilha de Cracatoa, no Estreito de Sunda na atual Indonésia explodiu após meses de atividade vulcânica. A maior parte da ilha foi atirada longe e toda a vida foi apagada. Ondas enormes de maré varreram as costas das vizinhas Sumatra e Java, matando dezenas de milhares de pessoas. Quantidades imensas de cinza cobriram a atmosfera, encobrindo o sol e criando pores-do-sol vermelhos espetaculares por todo o globo e remetendo as temperaturas para os níveis mais frios por anos.

Uma vez que os efeitos soberbos da enorme catástrofe se desvaneceram, os cientistas perceberam o imenso valor de Cracatoa como um laboratório para a história do desenvolvimento de comunidades biológicas num terreno cru recentemente formado de cinza vulcânica. Expedições foram montadas e relatórios feitos sobre o aparecimento e o assentamento de plantas e animais ao longo do século seguinte. As fontes mais próximas de colonizadores para Cracatoa eram Sumatra e Java, cerca de 40 quilômetros através do oceano que as separavam. Como era de se esperar, as primeiras plantas a aparecerem na ilha foram dispersas pelo mar e crescem nas costas tropicais de toda aquela região. Pelos idos de 1886, 10 de 24 espécies que tinham colonizado Cracatoa eram dispersadoras marítimas. A maioria das outras pioneiras eram dispersadoras aéreas, como gramíneas, cujas sementes podem ser sobradas pelo vento.  Assim, as primeiras comunidades de plantas a se desenvolverem longe da praia em Cracatoa eram dominadas por gramíneas e sabambaias. Em algum momento, algumas poucas espécies arbóreas dispersadoras aéreas começaram a chegar na ilha. Na altura da década de 1920, florestas fechadas já tinham se desenvolvido na maior parte de Cracatoa, e algumas espécies pioneiras foram “expulsas” para habitats marginais ou sumiram da ilha.  À medida que as florestas se desenvolveram , muitas aves e morcegos foram atraídos para ilha. Alguns destes eram espécies frutívoras que trouxeram sementes de árvores e arbustos com eles. As mudanças na flora de Cracatoa após os anos de 1920 foram dominadas por plantas dispersas por animais, que agora sobrepujam as espécies dispersoras marítimas e aéreas.

A vegetação de Cracatoa continuará mudando, à medida que mais plantas chegam a ilha e permitem o desenvolvimento de  comunidades distintas em diferentes habitats. Mais ainda, os fragmentos remanescentes da ilha que agora formam Cracatoa estão constantemente mudando em conseqüência de erupções vulcânicas continuadas, erosão de depósito de cinzas macia, e tempestades que passam através da região.  Cracatoa continuará a ser um laboratório importante para o estudo da dinâmica de mudança de comunidade.


Figura 5.5 Vulcão na Ilha.
Fonte: Thinkstock

Cada estágio da sucessão é denominado sere, por exemplo, na ilha de Cracatoa a primeira sere foi compostas por espécies dispersoras marinhas.

Em resumo, a sucessão ecológica pode ser definida em função de três características:

1) é um processo não sazonal, dirigido e contínuo;

2) ocorre em resposta às modificações nos locais;

3) termina com o estabelecimento de uma comunidade clímax, que não sofre mais alterações em sua estrutura, desde que não ocorra nenhuma outra modificação.