6. Relações interespecíficas desarmônicas

Amensalismo

O amensalismo é a modalidade de relação em que uma espécie inibe o crescimento de outra, sem ser beneficiada. Essa interação também pode ser chamada de antibiose.

Frequentemente, isso ocorre pela liberação de substâncias químicas no meio. O exemplo mais notável ocorre nas chamadas “marés vermelhas”. Nesse caso, a proliferação excessiva de certas algas dinofíceas (filo Pirroficeas) resulta na liberação de toxinas que acarretam a morte de crustáceos, moluscos e peixes, sendo prejudiciais até mesmo ao homem. Outro exemplo são de fungos que secretam antibióticos, impedindo a multiplicação de bactérias (figura 7).


Figura 3.7. Fungos que secretam antibióticos.
Fonte: Thinkstock.

Predação

Um predador pode ser definido como um organismo que consome todo ou parte de outro organismo (sua presa), beneficiando, dessa forma, a si mesmo, porém, afetando negativamente a presa, reduzindo seu crescimento, sua fecundidade e em muitos casos sua sobrevivência (Figura 8). Veremos essa questão com mais detalhe na próxima semana, quando estudaremos a dinâmica das populações.

Predadores “verdadeiros” matam invariavelmente suas presas e o fazem mais ou menos logo após atacá-las, e consomem diversos ou muitos exemplares de presas no decurso de suas vidas. Os pastejadores ou herbívoros são tipos de predadores, que também “atacam” diversos ou muitos exemplares de presas ao longo da vida, mas consomem apenas parte de cada planta e geralmente não a mata, mas essa perda de parte do organismo pode afetar o crescimento e/ou a fecundidade das espécies que servem de alimento. Porém, a predação pode ter um efeito subletal à população de presas. Os efeitos dos herbívoros sobre os organismos dos quais eles se alimentam são geralmente menos severos do que aparentam, porque as plantas podem compensar os efeitos da herbivoria.

A predação “verdadeira” também pode ter efeito subletais e até benéficos sobre uma população, porque as presas sobreviventes podem experimentar uma redução na competição intra-específica por um recurso limitante, produzir uma prole maior, ou ainda outros predadores podem atacar um número menor delas.

Existe uma tendência fundamental dos predadores e presas a exibir ciclos de abundâncias.Porém, alguns fatores importantes podem modificar ou anular a tendências desses ciclos, por exemplo, o adensamento da presa ou do predador tem probabilidade de ter um efeito de amortecimento sobre ciclos na interação predador-presa. Também veremos isto com mais detalhe na próxima aula.


Figura 3.8. Exemplo de predação.
Fonte: Thinkstock.

Parasitismo

O parasitismo ocorre quando uma espécie (o parasita) se alimenta de parte de outro organismo (o hospedeiro), ao viver sobre ou dentro de um hospedeiro. O parasitismo pode ser visto como uma forma especial de predação, mas, de forma oposta ao predador convencional, um parasita, em geral, é muito menor que seu hospedeiro (presa) e raramente o mata. Além, disso a maior parte dos parasitas permanece associada ao seu hospedeiro de forma íntima, obtendo dele nutrientes e enfraquecendo-o, prejudicando crescimento e desenvolvimento gradualmente ao longo do tempo.

Os parasitas podem ser classificados em: ectoparasitas (figura 9), que parasita o lado externo do corpo do hospedeiro, como, por exemplo, carrapatos, pulgas, piolhos;  endoparasitas (figura 10), que  vivem internamente no corpo do hospedeiro, como, vermes, tênias, microrganismos.


Figura 3.9. Carrapato, exemplo de ectoparasita.
Fonte: Thinkstock.


Figura 3.10. Ascaris lumbricoides, exemplo de endoparasita.
Fonte: Thinkstock.

Do ponto de vista do hospedeiro, os parasitas são nocivos. Porém, os parasitas desempenham um importante papel ecológico. Assim, como a predação (comentada anteriormente), os parasitas podem ajudar a promover a diversidade de espécies dentro de uma comunidade, pois através de um controle populacional, ajudam a evitar que algumas espécies se tornem dominantes a ponto de excluírem outras. Veremos esse processo mais detalhadamente na semana que vem.

Competição interespecífica

A competição interespecífica ocorre quando duas populações de espécies diferentes, em uma mesma comunidade, apresentam nichos ecológicos semelhantes, fazendo com que haja um mecanismo de disputa pelo recurso  quando este não é suficiente para as duas populações (já vimos e discutimos esses termos na semana anterior).

Na competição interespecífica, os indivíduos de uma espécie sofrem redução na fecundidade, no crescimento ou na sobrevivência, como conseqüência da exploração de recursos ou interferência de outra espécie, por exemplo, em competições entre animais que disputam território ou plantas que eliminam diretamente compostos químicos no solo para prejudicar o crescimento das competidoras (alelopatia).

Esse mecanismo de competição interespecífica pode determinar o controle da densidade de duas populações que estão interagindo, ou ainda fazer com que uma das espécies seja excluída da comunidade, caso não aja uma diferenciação do nicho entre elas.

Um exemplo de competição interespecífica é a competição entre peixes salmonídeos.  Salvelinus malma e S. comaenis são peixes da família Salmonidae morfologicamente similares e intimamente relacionados. As duas espécies são encontradas juntas em muitos riachos no Japão, mas S. malma é distribuída em altitudes elevadas (mais distantes) do que S. leucomaenis, com uma zona de sobreposição em altitudes intermediárias. Em riachos onde uma espécie não está presente, a outra expande seus limites, indicando que a distribuição pode ser mantida por competição (ocorre uma diferenciação do nicho, cada espécie se concentra mais em uma determinada altitude, para evitar a competição).