6. Nichos ecológicos

O nicho ecológico de um organismo pode ser definido como o “conjunto das suas tolerâncias e necessidades”, ou simplesmente como o modo de vida daquele organismo (Begon et al. 2007). As condições são apenas uma das dimensões do nicho, já a sua necessidade de recursos faz parte de uma outra dimensão. Veremos a seguir o que são essas dimensões do nicho.

Não confunda....

Um erro comum de se fazer é confundir termos ecológicos, nesse caso há uma troca de “nicho” pelo termo “habitat”. Tome cuidado para não confundir o conjunto de tolerâncias e necessidades com o local onde o organismo vive (sendo que são as condições do local e os recursos presentes que fazem parte do nicho do organismo). Por exemplo, ao dizer que “os bugios vivem na floresta”, estou me referindo ao habitat, e não ao nicho desses animais.

É comum, especialmente no Ensino Médio, definir-se o nicho ecológico como o papel desempenhado pela espécie no ecossistema. Esta é, todavia, uma definição tendenciosa, pois faz parecer que nicho é apenas o que a espécie faz no ambiente, quando na verdade o nicho é mais o que o ambiente faz com a espécie. Uma definição melhor é: “Nicho ecológico é o conjunto de relações que cada espécie mantém com o ambiente, ou seja, a integração de seus diversos limites de tolerância”. Um modelo teórico para representar o nicho ecológico de uma espécie, proposto por Hutchinson em 1957, é um hipervolume n-dimensional, do qual cada uma das n dimensões é um dos fatores ecológicos atuantes. Por exemplo, se uma espécie hipotética fosse afetada por apenas 3 fatores ecológicos, então poderíamos representar a disponibilidade ou intensidade desses fatores nas escalas de 3 eixos perpendiculares entre si, situando aí as 3 faixas de tolerância da espécie. Projetando as coordenadas referentes aos máximos e mínimos nos 3 eixos, obteríamos um volume em forma de paralelepípedo, que então representaria o nicho da espécie. O tamanho do paralelepípedo seria então um indicativo do que poderíamos chamar amplitude de nicho da espécie. Veja a figura 8 a seguir para entender melhor as dimensões que podemos tratar o nicho:

Figura 2.8. Exemplo das n–dimensões que o nicho pode ser determinado: no gráfico temos três dimensões para um organismo aquático, utilizando duas condições (pH e temperatura) e um recurso.
Fonte: extraído de Begon et al. 2007.

O nicho, como vimos, pode ser definido em termos das faixas de tolerância fisiológicas (potenciais) ou ecológicas (ambiente natural): falamos então em nicho ecológico fundamental (integração das tolerâncias fisiológicas) ou então em nicho real, realizado ou efetivo (tolerâncias ecológicas).

Quando os nichos fundamentais de duas espécies se superpõem, especialmente do ponto de vista das dimensões correspondentes a recursos, surge a possibilidade de haver competição entre elas no ambiente natural onde venham a coexistir. Como resultado da pressão competitiva mútua nas faixas de superposição dos nichos, vem o estreitamento do nicho fundamental de uma ou ambas as espécies, e este passar a ser denominado seu nicho real ou efetivo. Com a redução na superposição que acaba surgindo no caso dos nichos reais também diminui o potencial para haver competição e assim otimiza-se o desempenho biológico de cada uma das espécies envolvidas.

Figura 9

Figura 2.9. Interações de espécies e sua influência nos nichos de ambas. Os gráficos acima mostram os nichos fundamentais de duas espécies isoladas. Já os gráficos abaixo mostram o deslocamento desses nichos quando há uma interação dessas espécies com sobreposição dos nichos.
Fonte: CEPA

Se considerarmos conjuntos inteiros de espécies coexistindo num mesmo ambiente caracterizado por certa amplitude de variação em seus fatores ecológicos macroclimáticos, geomorfológicos e pedológicos (solo), veremos que seus nichos se encontram mais ou menos superpostos nessas dimensões, caracterizando associações. Chamamos associação a um conjunto de espécies que tendem a re-ocorrer juntas em ambientes similares. Assim, cada bioma terrestre é caracterizado por uma associação de espécies cujos nichos sejam compatíveis com as condições e recursos vigentes. Devemos entender, portanto, que cada bioma só existe dentro de determinados limites quanto aos fatores ecológicos a que nos referimos acima.

Entraremos nos detalhes dos grandes biomas mundiais e mais especificamente dos nossos biomas brasileiros na disciplina de Biodiversidade, aguardem! Por enquanto vamos colocar nossas mãos à obra!