A origem da vida



Logo depois que elaborou a sua teoria da evolução, Darwin foi confrontado com a seguinte questão: "Se todos os seres vivos evoluem de seres previamente existentes, como apareceu o primeiro organismo vivo?" Além disso, outra questão óbvia era a seguinte: Se um dia apareceu um ser vivo a partir de matéria inanimada, por que não vemos esse processo ocorrer hoje em dia? Darwin chegou a abordar a segunda questão, em uma carta escrita em 1871 para Joseph Hooker, um botânico com quem tinha grande amizade:

“É dito frequentemente que todas as condições para a produção inicial de um organismo vivo estão presentes e sempre poderiam estar presentes. Mas se (e Oh! esse é um grande “se”) nos pudéssemos conceber em alguma pequena lagoa quente, com todo tipo de sais de amônia e fósforo, luz, calor, eletricidade etc, todos eles presentes de forma que um composto proteico fosse quimicamente formado pronto para sofrer alterações ainda mais complexas. No tempo presente tal composto seria instantaneamente devorado ou absorvido, o que não seria o caso no período anterior a formação dos seres vivos.”

Nesse trecho da carta, Darwin argumenta que, se um organismo surgisse espontaneamente a partir de matéria inanimada, nas condições atuais ele seria imediatamente devorado ou absorvido, mas, se ele estivesse só, poderia dar origem a formas cada vez mais complexas de seres vivos ao longo da evolução.

Lamarck, quando desenvolveu sua teoria da evolução, fez uso do aparecimento contínuo de organismos simples para responder à seguinte questão: "Se os seres vivos tendem a se tornar mais complexos ao longo do tempo, por que ainda existem organismos simples?" Segundo Lamarck, de tempos em tempos, surgiam organismos simples, e o fato de eles ainda existirem seria porque eles teriam aparecido mais recentemente que aqueles mais complexos. Mas temos de considerar que as ideias de Lamarck foram produzidas em uma época em que ainda se aceitava a geração espontânea (ou abiótica) dos organismos simples, já que os experimentos de Louis Pasteur foram realizados posteriormente.

Foi somente na década de 1920 que dois cientistas tiveram, independentemente, a ideia de que as condições da Terra na época da origem dos primeiros seres vivos eram diferentes das condições atualmente existentes. J.B.S. Haldane, na Inglaterra, e Aleksandr Oparin, na Rússia, propuseram que a atmosfera atual resultou do acúmulo da atividade fotossintética durante bilhões de anos e que a atmosfera primitiva era mais redutora e, portanto, menos oxidante. Assim, esses cientistas propuseram a teoria da "sopa primordial", segundo a qual compostos orgânicos poderiam ser rearranjados por ligações químicas espontâneas, em oceanos sob uma atmosfera redutora, até o ponto em que uma combinação específica chegasse a ter a propriedade de facilitar a produção de cópias de si mesma, propriedade essencial dos seres vivos.

A partir da década de 1950, as ideias da “sopa primordial” de Haldane e Oparin começaram a ser abordadas experimentalmente. Stanley Miller, um químico então recém-formado, propôs-se a fazer tal teste sob orientação do também químico Harold Clayton Urey, que já havia recebido um prêmio Nobel de Química pelos seus trabalhos no isolamento do deutério e da água pesada. Aos 23 anos de idade, Miller notabilizou-se por desenvolver o famoso experimento onde, a partir de uma combinação de gases e de água em um aparelho, que simulava as condições atmosféricas presumidas da Terra primitiva, conseguiu obter moléculas orgânicas importantes para a vida.