A teoria de Darwin e a importância da genética


A teoria da evolução por seleção natural foi elaborada independentemente por dois naturalistas ingleses: Alfred Russell Wallace (1823-1913) e Charles Robert Darwin (1809-1882). Alguns aspectos da vida desses dois naturalistas chamam a atenção: além de ingleses, ambos percorreram os mares e fizeram coletas em arquipélagos e leram os livros de Thomas Malthus (1766-1834) e de Charles Lyell (1797-1875). Enquanto Darwin era contratado para fazer a viagem em uma missão oficial da marinha inglesa, no navio HMS Beagle, Wallace fazia coletas de exemplares de seres vivos para comercializá-las junto a museus de história natural.

Um dos princípios utilizados por Darwin e Wallace na formulação da teoria da evolução por seleção natural é o princípio da hereditariedade. Para que haja seleção natural, é fundamental que os organismos transmitam para os seus descendentes as características que lhes propiciem maior vantagem no ambiente em que vivem. Fazia parte do senso comum da época, assim como é hoje, que os filhos se parecessem com os pais, compartilhando características em comum. Na época de Darwin, não havia uma teoria da hereditariedade que fosse amplamente aceita. Darwin usou a teoria dos pangenes, segundo a qual a informação sobre as características dos indivíduos seria carregada para os gametas por fatores que existiriam em cada um dos órgãos.

Cerca de quinze anos depois da publicação conjunta da ideia de seleção natural por Darwin e Wallace, o monge austríaco Gregor Mendel publicou a sua teoria da hereditariedade, formulada de acordo com os experimentos que realizou com cruzamento entre linhagens de ervilhas. O artigo publicado por Mendel, em 1866, somente teve a repercussão merecida muito tempo depois, em 1900, quando outros cientistas reconheceram que a teoria de Mendel era muito mais abrangente do que foi imaginado pelo próprio Mendel. Mas, ao contrário do que possa parecer, a incorporação da herança mendeliana na teoria da evolução não foi imediata. Darwin enfatizava que a ação da seleção natural era feita em cima de diferenças muito pequenas entre indivíduos, quase imperceptíveis, enquanto os caracteres estudados por Mendel e por outros geneticistas se tratava de variações bem mais perceptíveis que as preconizadas por Darwin como matéria-prima da seleção natural. Somente na década de 1920, as contribuições dos geneticistas de população, especialmente com o trabalho de Ronald A. Fisher, mostraram que mesmo os caracteres com variação contínua, tais como peso, altura etc. são também regidos pela herança mendeliana, particulada. A Genética, durante as décadas de 1930 e 1940, passou a ser incorporada à teoria da evolução, que ficou conhecida como "teoria sintética da evolução", pois foi proposta uma síntese dos conhecimentos recém-adquiridos da Genética e de outras áreas dentro da perspectiva darwiniana. Contribuíram para essa síntese cientistas como Ronald Alymer Fisher (1890-1962), Sewall Wright (1889-1998) e John Burdon Sanderson Haldane (1892-1964), que montaram todo o arcabouço teórico da evolução com o desenvolvimento da disciplina atualmente conhecida como "Genética de Populações". Além do desenvolvimento teórico, outros pesquisadores demonstraram a factibilidade dos processos evolutivos através de experimentos, como Theodosius Dobzhansky (1900-1975), por observações de campo, assim como Ernst Mayr (1904-2005), e também por observações detalhadas do registro paleontológico, feitas por George Gaylord Simpson (1902-1984).

A Genética experimentou avanços espetaculares a respeito dos mecanismos da hereditariedade durante todo o século XX. Atualmente, são conhecidos em profundidade muitos dos mecanismos da hereditariedade, tais como as bases químicas, estruturais e funcionais de ácidos nucleicos, genes e cromossomos. Grandes avanços também foram feitos na comparação do material genético de organismos diferentes.

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Figura 22