1.6. Alometria

Durante o crescimento, alguns animais podem exibir um grau de alometria [gr.: alo = desigual; metria =medida], mudança brusca nas proporções de seus corpos (Figura 4.6). Para explicar isso, há várias hipóteses evolutivas, que analisam as vantagens adaptativas que cada forma traz ao respectivo período de vida. A alometria também pode ser observada entre linhagens próximas, como é o caso de alguns ungulados, como girafídeos e brontoteriídeos (Figura 4.7).

Figura 4.6 Ilustração da alometria no crescimento humano. A locomoção, no início da vida, é pouco útil (a criança é carregada pela mãe), mas a expressão facial é essencial para sua comunicação e sobrevivência. Isso poderia explicar o crescimento alométrico em humanos.
Fonte: CEPA


Figura 4.7 Ilustração da alometria na filogenia de brontoteriídeos, neárticos e já extintos. A cabeça tendeu a aumentar ao longo do tempo, mas não tanto quanto os chifres.
Fonte: CEPA

A esta altura, possivelmente ficou evidente como a evolução pode atuar nos mecanismos de desenvolvimento. Ernst Haeckel, zoólogo alemão do séc. XIX, chegou a enunciar a Lei Biogenética (ou da recapitulação), a qual costuma ser sintetizada em uma frase emblemática: “a ontogênese recapitula a filogênese”. Segundo Haeckel, as transformações observadas ao longo do desenvolvimento ontogenético de um organismo recuperam, reproduzem as transformações pelas quais teria passado a espécie ao longo da evolução, refletindo a filogenia da espécie à qual o organismo pertence. Até pouco tempo atrás (principalmente, antes das acusações de fraude, muitas delas póstumas, que sofreu), a lei de Haeckel costumava ser mencionada, às vezes de forma distorcida, para explicar, por exemplo, as modificações morfológicas e comportamentais durante a vida humana.

Contemporâneo de Haeckel e vigoroso opositor, Ernst von Baer propõe uma outra hipótese para explicar as semelhanças detectadas em embriões de diversas linhagens em suas etapas ontogenéticas iniciais. Segundo o raciocínio de von Baer, isso ocorre basicamente por três motivos: i) as características embrionárias são tanto mais simples e generalizadas quanto mais iniciais forem; ii) as estruturas simples permitem pouca plasticidade morfológica e baixa variabilidade; iii) as etapas iniciais são extremamente sensíveis às variações, pois elas serão carregadas por todo o desenvolvimento e, possivelmente, potencializadas no animal maduro, tornando-o quase sempre inviável; dessa forma, variações geralmente se efetivam, se perpetuam, quando se dão em etapas mais tardias do desenvolvimento. Hoje sabemos que essas transformações são desencadeadas geneticamente; os desdobramentos desse complexo fenômeno são estudados por um ramo recente da biologia conhecido como biologia evolutiva do desenvolvimento (ou “evo-devo”).