1.2. A Pré-muda

Esses animais são incapazes de crescer continuamente. Para tanto, eles sofrem mudas e ecdises periódicas em números definidos ao longo de seus ciclos de vida (Figura 4.3). Durante o processo de muda (Figura 4.4 no próximo subtópico), bastante investigado em artrópodes e no qual nos basearemos para explicar esse tipo de crescimento, um novo exoesqueleto é secretado pela epiderme do animal enquanto seu exoesqueleto velho vai sendo digerido. Ao final do processo, ocorre a ecdise, que é a eliminação do exoesqueleto velho. O processo é controlado por dois hormônios: a ecdisona (desencadeia e  estimula o processo) e seu antagônico, o hormônio inibidor da muda. Com o aumento da quantidade de ecdisona na hemolinfa desencadeia-se no animal a fase denominada pré-muda.

Inicialmente, ocorre a separação da epiderme do exoesqueleto. Células da epiderme passam a sofrer sucessivas mitoses e tornam-se altas devido à intensa atividade metabólica em seus citoplasmas. Então, já tem início a produção do exoesqueleto novo (representado por sua epicutícula) no estreito espaço surgido entre a epiderme e a porção mais basal da endocutícula do exoesqueleto velho.

Essa epicutícula é permeável tanto à passagem das enzimas proteolíticas produzidas pela epiderme como aos componentes que estão no líquido exuvial e sujeitos a reabsorção pelo animal para incorporação ao exoesqueleto novo em produção; outros tantos elementos do líquido exuvial acabam caindo na hemolinfa.

A endocutícula do exoesqueleto velho vai sendo progressivamente digerida enquanto a pró-cutícula nova vai sendo secretada. Esse antagonismo persiste até ocorrer a muda. O espaço existente entre os dois exoesqueletos é preenchido pelo líquido exuvial (composto de água + enzimas proteolíticas secretadas pela epiderme + componentes da endocutícula do exoesqueleto velho que está sendo digerido, como as moléculas de quitina).

Ao final da pré-muda, o exoesqueleto novo está formado em sua grande parte, o exoesqueleto velho está relativamente fino e bastante frágil ao longo das linhas de fratura, mas nada é notado externamente no animal, que continua ativo, alimentando-se, locomovendo-se etc. Toda a intensa atividade metabólica (evidenciada pelo aumento do número de corpos celulares na hemolinfa na pós-muda — ver Figura 4.4i), em operação no corpo do animal, está mascarada pela presença do exoesqueleto velho que permanece aparentemente intacto, inalterado.


Figura 4.3 Comparação do aumento em tamanho entre artrópodes e não artrópodes. A linha pontilhada representa o crescimento dos tecidos dos artrópodes: você consegue imaginar o motivo pelo qual ele aumenta durante a ecdise?
Fonte: Prof. Dr. Carlos Eduardo Falavigna da Rocha.