3. Conhecendo o nosso Porto

portoGradientes latitudinais de biodiversidade

Como você percebeu, a partir da análise dos mapas, grande parte dos biomas com maior diversidade concentra-se nas áreas mais aquecidas do planeta. Antes de você, já os grandes naturalistas do século XIX – dentre eles, Charles Darwin e Alfred Russel Wallace, os proponentes da teoria da evolução – já escreveram as regiões tropicais  possuidoras de uma grande variedade de espécies.

Ao nos deslocarmos do polo para o equador, verificamos que, de fato, há uma biodiversidade maior nas regiões temperadas do que nas regiões polares, e uma biodiversidade muito maior nas regiões tropicais do que nas regiões temperadas. São os gradientes latitudinais de biodiversidade, que estão presentes em nosso planeta há pelo menos 350 milhões de anos.

Um exemplo de gradiente latitudinal é a variação do número de espécies de mamíferos nas Américas (Figura 4.1).

America Latina

Figura 4.1: Variação no número de espécies de mamíferos nas Américas. As cores mais escuras representam o maior número de espécies.
Fonte: WIILIG et al. Annual Review of Ecology and Systematics. 2003. p. 273-309.

Você pode observar que o número de espécies é baixo nas regiões frias de altas latitudes (por exemplo, no norte do Canadá e no sul da Argentina) e que esse número aumenta em direção às regiões mais quentes, até atingir um valor máximo próximo do equador. Você também pode notar uma forte influência positiva do relevo heterogêneo que caracteriza a cordilheira dos Andes e as cadeias de montanhas da América Central.

Excluindo as poucas exceções – a diversidade de pinguins e focas, por exemplo, é maior nas altas latitudes –, os mais diversos grupos de organismos obedecem a gradientes latitudinais de diversidade nas mais diversas regiões do mundo, o que inclui todos os continentes e oceanos. Esse caráter universal indica que um ou poucos fatores são responsáveis pelo aumento da diversidade, em direção ao equador, de grupos de organismos tão diferentes. Recentemente, foi mostrado que até a diversidade de culturas humanas apresenta um gradiente latitudinal: à medida que nos distanciamos das regiões tropicais, diminui o número de culturas diferentes e, portanto, de línguas distintas!

Os gradientes latitudinais de biodiversidade talvez tenham sido o primeiro padrão biológico a ser abordado pela ciência da Ecologia. Já em 1808, o naturalista alemão Alexander von Humboldt descreveu e tentou explicar os gradientes latitudinais de diversidade. (Figura 4.2)

HumboldtFigura 4.2: Alexander von Humboldt.
Fonte:
CEPA.

Posteriormente, esses padrões foram assunto de obras fundamentais da teoria evolutiva, tendo papel importante nas obras de Charles Darwin e Alfred Russel Wallace, bem como nas obras de alguns dos biólogos mais influentes do século XX.

Aldred Russel
Figura 4.3: Alfred Russel Wallace.
Fonte:
CEPA.

Em um texto de 1878, no qual comenta a diversidade de plantas das florestas tropicais, Wallace (Figura 4.3) escreve em seu livro Tropical nature, and other essays que “À medida que nos aproximamos das regiões de frio polar e aridez desértica, a variedade de grupos e espécies (de plantas) diminui com regularidade...

Mais de 30 explicações já foram propostas para explicar os gradientes latitudinais de riqueza de espécies, e várias delas não são mutuamente exclusivas, ou seja, um conjunto de fatores pode ser responsável pelos gradientes, alguns com maior e outros com menor importância. Mas, por mais incrível que pareça, até hoje não há consenso geral sobre quais explicações são as mais prováveis.

De forma resumida, já se cogitou que esses gradientes são resultado de fatores relacionados à história dos ambientes geográficos, bióticos, abióticos ou, ainda, do acaso.