1.2 Por que estou com a câmera e não com um pau?

Essa breve parte tenta mostrar algumas dicas sobre como convencer o jovem a respeitar a vida animal (seja a partir da humana ou até a humana, já que somos, zoologicamente, animais). Muitos deles, conforme já vimos, podem ser usados para algum fim (que acaba se refletindo economicamente) — o que não significa que possam ser usados de qualquer jeito! A postura que o cidadão deve ter é, sim, de respeito, e de conscientização: trata-se de uma questão ética e ecológica. Os recursos de origem animal, quando explorados sem planejamento, geram problemas muitas vezes irreversíveis.

Um exemplo atual foi gerado pela introdução de abelhas exóticas (as de mel) nas Américas, selecionadas artificialmente aqui, mas sem muito controle. O resultado foi essas abelhas melíferas (e principalmente as de linhagem africana, com maior produção e ferocidade) se alastrarem pelo continente, ao invés de ficarem restritas aos apiários. Além de terem causado a morte de centenas de pessoas, começaram a competir com as espécies nativas, subjugando-as sem dificuldade e afetando a forma pela qual as plantas nativas eram polinizadas, ou, ainda, impactando o ambiente de outras formas ao coletar material para construção dos ninhos.

Houve outro acontecimento ainda no início do século passado, quando os canadenses perseguiram o lobo quase à extinção, para que não caçassem os cervos pretendidos pelo homem. Com o fim dos lobos, as populações de cervos aumentaram demais, quase acabando com suas próprias fontes de recursos vegetais. Assim, em pouco tempo (como nas ideias de Malthus, nas quais Darwin se inspirou), acabaram por declinar vertiginosamente.

Nos ambientes urbanos, inteiramente transformados pelo homem, por outro lado, fica nítido o efeito das ações humanas sobre o ambiente — e isso em espécies que não se pretendiam usar, pelo menos diretamente —, principalmente quando se tem uma amostra do ecossistema original nas cercanias da cidade. Neste ponto, podemos até perceber um ponto de equilíbrio do ambiente urbano: tanto que, em determinadas circunstâncias, acabamos vítimas de explosões populacionais dessa ou daquela “praga”.

Em todo o caso, desequilíbrios ambientais não precisam ser caracterizados apenas com a extinção de espécies, como transpareceu nos exemplos acima. Basta uma mudança significativa na estrutura da comunidade biológica para que se identifique prontamente algum nível de dano ambiental; a autorrecuperação depende, ainda, da resistência do meio ambiente e do grau de exposição ao agente ou evento causadores do impacto.

Em alguns casos (e isso não é exclusividade animal!), organismos podem ser estudados e reconhecidos como bioindicadores. Essas espécies, geralmente, são especialistas e bastante sensíveis a alterações ambientais. Os EPT (Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera) são ordens de insetos sem parentesco direto, que vivem em ambientes lóticos (dulcícolas de corredeira) e são excelentes escolhas para biomonitoramento (além deles, existem outras ordens de insetos e outros animais). Quando o ambiente se encontra já levemente poluído (seja com resíduos orgânicos ou inorgânicos), espécies desses grupos deixam de existir no local: dessa maneira, mesmo sem análises bioquímicas complexas já se tem uma forte pista de que a água está imprópria e com sua comunidade original desestruturada em algum nível.


Figura 10.6 Da esquerda para a direita, exemplares de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera respectivamente. Insetos usados em biomonitoramento.
Fonte: Thinkstock.

Essa visão por meio dos três eixos da sustentabilidade (social, ecológico e econômico) sobre o emprego de recursos animais está um tanto ligada à ética (através, por exemplo, da moral e do dever) e ecoa nas leis ambientais. Embora essa relação garanta espaço para amplas discussões filosóficas, as práticas são positivas e devem ser incorporadas pelo cidadão comum.