1.3. Representantes do Subfilo Vertebrata: não Amniotas

Grupo de vertebrados tetrápodes que não inclui os répteis, aves e mamíferos, que se caracterizam pela presença de um anexo embrionário: o âmnio.

  • Lampreias (Hyperoartria)

No estudo desses seres, seria ideal que fossem valorizadas as aquisições dessa linhagem (boca circular sugadora, narina mediana dorsal) em detrimento de suas ausências (como "sem mandíbulas"; perceba que, se fôssemos elencar tudo que um organismo não tem, a lista seria interminável!). O termo “Agnatha” (que inclui as feiticeiras, que não são vertebrados) deve ser evitado, assim como todos os grupos não naturais, para que a classificação pareça ao aluno mais objetiva e metódica. Três gêneros de lampreias poderiam ser usados para mostrar o padrão corporal desses animais: Petromyzon marinus (marinha; observe a boca repleta de dentículos e os 7 orifícios faríngeos), Lampetra planeri (dulcícola) e Hardistiella† sp. (extinta). Finalmente, é interessante frisar o hábito parasita desses animais, já que muitos alunos não veem nos vertebrados a possibilidade de parasitismo (que ocorre inclusive nos mamíferos).

  • Peixes cartilaginosos (Chondrichthyes)

Esta é uma das duas únicas linhagens atuais de gnatostomados, vertebrados com mandíbulas e dentes. (Figura 5.4) Esse ramo sofreu três grandes irradiações, a partir do Devoniano, mas todas são caracterizadas por apresentarem clásper nos machos (modificação nas nadadeiras importantes na cópula), escamas placoides (semelhantes a dentes) e um esqueleto de estrutura cartilaginosa calcificada (não pode ser considerado feito de osso, órgão especial presente apenas nos osteíctes). A última irradiação é mesozoica, e a partir dela são encontrados animais com capacidade protrátil da maxila, tal qual a vista num tubarão (e.g.: Carcharodon carcharias). Alguns gêneros sugeridos (quiçá presentes em aquários públicos ou museus, aos quais visitas seriam atividades úteis ao aprendizado de Zoologia como um todo): Chimera monstrosa, Prionace glauca, Carcharodon megalodon†, Sphyrna spp. e Manta birostris.


Figura 5.4 Esquema ilustrando a estrutura mandibular de um gnatostomado (no caso, um condricte). Em verde, os arcos branquiais (dos quais se teriam diferenciado as mandíbulas e maxilas); em rosa, a maxila (condricte, com articulação anterior extra) e a mandíbula. O bulbo olfatório é representado em azul.
Fonte: CEPA

  • Peixes ósseos (Osteichthyes)

Os jovens costumam dizer que as baleias são peixes, instantes antes de serem corrigidos por alguém. Mas não deveria ser assim: atualmente, inclusive, seria mais aceitável que fosse a criança a repreender! Não só as baleias, mas todos os demais gnatostomados não condrictes (desconsiderando as linhagens extintas de Acanthodii† e Placodermi†) são osteíctes. Esses animais possuem ossificação endocondral (aquela na qual os tecidos ósseos crescem usando uma matriz conjuntiva de molde) e ossos dérmicos no opérculo, entre outras características mandibulares e das nadadeiras. Algo marcante nesse grupo é a bexiga natatória: em alguns peixes ósseos derivados, ela perdeu a ligação com o trato digestório (condição fisóclista), mas nos demais, não (condição fisóstoma); em todo caso, aparentemente, a bexiga não aparenta estar relacionada ao surgimento de pulmões, que devem ter aparecido mais de uma vez na evolução dos peixes ósseos.

Desse grande grupo fazem parte os actinopterígios (de nadadeiras raiadas: são mais de 20.000 espécies viventes conhecidas) e os sarcopterígios (de nadadeiras carnosas). Para amostrar um pouco da diversidade de osteíctes, são interessantes peixes como uma piranha (Serrasalmus sp.), um pirarucu (Arapaima gigas), um atum (Thunnus sp.), um cascudo (Loricaria sp.), uma piramboia (Lepidosiren paradoxa), e Acanthostega sp†. Também uma atividade que envolva a manutenção de um aquário na escola (desses simples, de residência) pode ser muito interessante. Veja um exemplo de nadadeira raiada (actinopterígio) e um exemplo de nadadeira carnosa (sarcopterígio).

  • Tetrápodes (Tetrapoda)

Os processos macroevolutivos (aqueles produtores dos grandes saltos adaptativos, como o existente entre os dipnoicos, peixes pulmonados e os anfíbios) podem ser entendidos tanto por equilíbrio pontuado (mudanças bruscas em termos de tempo geológico) quanto por gradualismo (mudanças sutis e progressivas, cumulativas). Talvez o desconhecimento de alguns fósseis e a desconsideração completa da teoria do equilíbrio pontuado (segundo a qual, simplificando, as populações poderiam sofrer mudanças bruscas, nem sempre graduais, ao longo do tempo geológico) estimularam o pensamento de que peixes não-tetrápodes e tetrápodes fossem grupos muito distantes. Romper com essa pré-concepção é fundamental para a compreensão de conceitos sistemáticos, evolutivos e paleontológicos: eis uma boa chance. Os tetrápodes (sobre os quais, aliás, existe certa dissensão na literatura quanto à sua definição, se o grupo inclui poucos ou muitos ancestrais) apresentam um conjunto de novidades evolutivas adquiridas entre o Permiano e o Devoniano, das quais podem ser destacadas a presença de membros com dedos, a camada de células mortas na epiderme, a língua complexa, glândulas diversas, e a perda de fendas branquiais em período pós-embrionário.

As teorias sobre a sequência e a ordem em que se sucederam tais eventos são bastante diversas, mas restam poucas dúvidas quanto ao impacto que tais traços trouxeram aos tetrápodes, que passaram a interagir com e explorar novos ambientes, e de novas maneiras.

Os momentos nos quais se abordam os anfíbios deveriam ser precedidos (ainda que durante uma mesma aula) por uma exposição enfática e sumarizada dos tetrápodes como um grupo natural. Imagens de animais fósseis considerados intermediários entre os dipnóicos e os anfíbios são muito bem-vindas: Panderichthys†, Acanthostega†, Ichthyostega† eTulerpeton† são boas escolhas.

  • Anfíbios (Amphibia)

Os anfíbios, com pouco mais de 6.000 espécies descritas ainda viventes, possuem algumas características particulares, entre as quais a estrutura da pele (glandular, capaz de trocas gasosas) e do ouvido interno.

Três linhagens principais compõem o grupo: Gymnophiona (cecílias: sem pernas, com crânio fechado e compacto. Atente para o fato de que muitos alunos julgam que esses animais sejam anelídeos ou miriápodes, algo que se percebe que é absurdo após simples observação!) e os batráquios Salientia (sapos, rãs e pererecas: geralmente, capazes de vocalizar e dotados de pernas posteriores saltatoriais) e Caudata (salamandras: crânio mais aberto, com ossos perdidos ou fundidos). A diversidade desse grupo — que pode ter se originado no Permiano — é algo que pode ser muito bem explorado em sala de aula: as variações notáveis de forma, cor, desenvolvimento (lembra-se de uma pequena amostra quando falamos do desenvolvimento de vertebrados?), reprodução (com fecundação que pode até ser interna via espermatóforos, no caso das salamandras), e comportamento (inclusive o sexual — Figura 5.5 - cópula em Taricha torosa (dois machos, uma fêmea)) mostram que há mais nesses animais do que apenas sapos-montanha (Figura 5.5).

Enquanto os ancestrais dos anfíbios modernos (Ichthyostega (tetrápode)) apresentavam dentes mais complexos e numerosos (dente labirintodonte, Figura 5.6), uma das características marcantes dos atuais (chamados lissanfíbios) é ter em seus dentes uma parte diferenciada, com tecido conjuntivo, próxima à região de seus soquetes na maxila e na mandíbula (dente pedicelado, Figura 5.6).

A metamorfose presente nos anfíbios é tida como exemplo entre os animais, mas não pode ser considerada a mais severa: basta comparar a metamorfose pós-embrionária de um  com a de um  .

Clicando sobre os botões do quadro abaixo, você encontrará várias fotografias representando a diversidade morfológica dos anfíbios.

Figura 5.5 Interface da atividade interativa, com fotografias representando a diversidade morfológica dos anfíbios.
Fonte: CEPA