1.5. Aspectos Embriológicos

Outros aspectos do crescimento que devem ser considerados dizem respeito à embriologia (abordada sob uma óptica evolutiva no Tema C) e ao desenvolvimento. Embriologicamente, os vertebrados são triploblásticos (animais cuja gástrula [gr. gaster = barriga; lat. -ula = pequena] possui ectoderme, mesoderme e endoderme), deuterostômios (nos quais o blastóporo—uma invaginação da blástula [gr. blastos = botão, broto] — origina o ânus) e apresentam clivagem radial indeterminada: as células no início das divisões celulares ainda não estão destinadas a locais e funções específicos, são totipotentes, podendo diferenciar-se em qualquer célula do adulto; é o caso das células-tronco embrionárias. Seu celoma é enterocélico (i.e., surge como evaginação do arquêntero, o “intestino antigo” da gástrula) e neurulação (processo no qual uma dobra dorsal da ectoderme origina o tubo neural). As demais particularidades do desenvolvimento são variadas entre as linhagens de vertebrados, dependendo, principalmente, da quantidade inicial de vitelo (substância nutritiva do embrião) presente no ovo.

http://midia.atp.usp.br/video/redefor-ano2/ensino-biologia/Neurulation.flv
Legenda: diferentes fases embriológicas, da clivagem à neurulação.

Se desejar fazer o download do vídeo, clique aqui.

Em relação ao que sucede às etapas iniciais do desenvolvimento embriológico, alguns traços importantes na história evolutiva do grupo devem ser igualmente salientados. Vertebrados descendem de ancestrais segmentados, e carregam este legado consigo. O valor adaptativo da segmentação (que deve ter surgido mais de uma vez no curso evolutivo) é atribuído tanto ao aumento da eficácia na transferência de forças em um sistema hidráulico (Figura 4.5 — no caso de anelídeos e panartrópodes, a segmentação ou metamerização é muito mais extensa) quanto ao aprimoramento na capacidade de compartimentalização e especialização de sistemas de órgãos (especialmente na segmentação heterônoma de alguns invertebrados, na qual os segmentos diferem entre si em forma e função). Adicionalmente, a repetição de estruturas úteis, ao longo de um eixo longitudinal, é possibilitada através da expressão de determinados conjuntos gênicos; de maneira geral, esses são genes de segmentação e genes homeobox [gr.: homoios = semelhante; ing.: box = caixa], que estabelecem o padrão do corpo e regulam seu desenvolvimento. Até em animais muito derivados, como tartarugas e macacos, pode-se reconhecer a segmentação ao observarmos suas costelas, cinturas escapular e pélvica, musculatura abdominal, pares de nervos e vértebras, características que permitem aos vertebrados potencializar a exploração do ambiente.

Figura 4.5 Esquema ilustrando o mecanismo de transferência de forças internas em um esqueleto hidrostático em relação às musculaturas longitudinais e circulares: a) impulsos musculares na escavação de um verme; b) sem segmentação, a força exercida pelos músculos é máxima em todos os pontos; c) com segmentação, a força exercida pelos músculos possui pontos mínimos, o que garante a economia energética ao animal.
Fonte: CEPA

A presença de metamorfose [gr.: meta = em seguida, sobre; morfos = forma] na sequência ontogenética de alguns vertebrados é outra estratégia, que deve ter surgido várias vezes na história dos animais. A vantagem evolutiva que esse tipo de desenvolvimento (denominado “indireto” porque as formas juvenis, ou larvas, são morfologicamente bastante distintas dos adultos) traz é a ocupação de diferentes  nichos ecológicos (conjunto de atividades que uma espécie realiza durante seu ciclo de vida) durante o crescimento do organismo, diminuindo, assim, a competição intraespecífica. Em algumas espécies, a heterocronia [gr.: heteros = diferente; chronos = tempo] deve ter sido o resultado evolutivo de milênios de interações ecológicas, tornando possível a existência de adultos pedomórficos, com características juvenis, através de dois processos básicos: a neotenia [gr.: neo = novo; tenio = manter] e a progênese [gr.: pro = antes; genesis = origem].

Veja algumas imagens de Salamandras adultas ilustrando a heterocronia em Caudata (ramo de anfíbios que representa os urodelos atuais): Bolitoglossa occidentalis, progenética, na qual o crescimento gonadal é acelerado. Veja também, Necturus maculosus, neotênica, na qual o crescimento somático é desacelerado.