1.4. A muda

Na passagem para o estágio de muda propriamente dita ou ecdise, o animal torna-se pouco ativo ou mesmo totalmente imóvel; geralmente, ele se abriga: se for terrestre, passa a tomar grandes quantidades de ar e, se aquático, água (assista aos seguintes vídeos no final desse subtópico). Isso aumenta a pressão interna e provoca o rompimento do exoesqueleto velho ao longo das linhas de fratura (regiões lineares do exoesqueleto em que falta a exocutícula, existindo, portanto, apenas a endo e a epicutícula, que não são resistentes). Com a ruptura, o animal sai do exoesqueleto velho com seu exoesqueleto novo em grande parte secretado, contudo flexível e enrugado.

Inicia-se, então, a fase de pós-muda, em que o animal, muitas vezes posicionado ao lado de sua exúvia, pouco se movimenta e continua a tomar água ou ar para distender o exoesqueleto novo. Nessa fase, ocorre a deposição paulatina de carbonato de cálcio (caso de muitos crustáceos) ou pontes fenólicas, ligando moléculas de quitina (como nos insetos), nas camadas mais externas da pró-cutícula. Isso resulta na diferenciação da pró-cutícula em duas camadas (ainda menos definidas que na intermuda: compare as figuras 4.4g e 4.4i no subtópico anterior): a endocutícula, que conserva as mesmas propriedades e natureza da pró-cutícula, e a exocutícula, que se torna enrijecida ao final da calcificação (em muitos crustáceos) ou da tanagem (em muitos artrópodes terrestres).

É durante a pós-muda que o animal tem a chance de crescer em tamanho (distendendo seu exoesqueleto — perceba a elevação da dobra interna nas fotografias sequenciais da figura 4.4i) e diminuir em peso por perda de água, principalmente, e de ar. Nessa fase, também os artrópodes terrestres (insetos, principalmente) depositam secreções lipídicas sobre a epicutícula, impermeabilizando-a. Ao final da pós-muda, que pode durar alguns minutos ou mesmo horas, o animal tem um novo esqueleto, rígido e resistente a injúrias físicas e químicas, e volta a ter condições de executar suas funções vitais. Tem início a fase de intermuda.

Os vertebrados, de maneira geral, como possuem esqueleto interno, apresentam crescimento gradual, sem mudanças bruscas, pois herdaram isso de seus ancestrais (trata-se de uma plesiomorfia). Isso não significa que apresentem pouca variação na taxa de crescimento, nem no tamanho máximo; na verdade, a variação pode ser notável, mesmo em táxons próximos (Figura 4.2).

A tendência é os predadores apresentarem taxas de crescimento mais lentas; uma explicação para isso é a de que, ao longo da história dos grupos, as variedades de predadores que cresciam mais lentamente dispunham de um tempo de aprendizado maior, pois passavam mais tempo ao lado dos pais, tendendo a apresentar maior sucesso na caçada.

Entre os herbívoros, é mais frequente encontrar taxas mais rápidas de crescimento. Uma possível explicação é a de que, durante o curso evolutivo, os animais que cresciam mais rapidamente possuíam menor tempo de dependência da mãe, aumentando a chance de sobrevivência da prole e da mãe, o que claramente aumenta o valor adaptativo das espécies.

Há, ainda, exceções à regra. Por exemplo, nos anfíbios, nos quais ocorre metamorfose gradativa sob a influência antagônica de dois hormônios (prolactina e tiroxina), o crescimento é concomitante à metamorfose, mas, à medida que um se intensifica, o outro desacelera. Essa interação hormonal, aliada à influência da disponibilidade alimentar, chega a alterar, em algumas espécies (por exemplo, a salamandra de corredeira Batrachuperus tibetanus), o padrão sigmoide da curva de crescimento.

http://midia.atp.usp.br/video/redefor-ano2/ensino-biologia/Mayfly-Swarming-Wild-Wonders-of-Europe.flv

Legenda: ecdise em efêmeras. Insetos da Ordem Ephemeroptera.

Caso deseje baixar o vídeo 1, clique aqui.

 

http://midia.atp.usp.br/video/redefor-ano2/ensino-biologia/The-Giant-Spider-Crab-Sloughed-Off-Old-Ski.flv

Legenda: caranguejo-aranha-gigante realizando o processo de muda.

Caso deseje baixar o vídeo 2, clique aqui.