Caso 4: Anselmo
Anselmo, 78 anos, aposentado e autodeclarado negro. Morador da região da Zona Leste de São Paulo, procura a UBS mais próxima de sua casa se queixando que mesmo fazendo uso da medicação indicada para a sua questão de hipertensão, não sente alívio dos sintomas e sua pressão não diminui ao nível desejado.
Vale ressaltar também que Anselmo é fumante há quase 60 anos. O médico responsável pelo atendimento desconfia que Anselmo faça o uso incorreto dos medicamentos, mesmo com o relato do paciente de que segue as orientações do médico corretamente, dado que são os mais indicados para hipertensão, e o manda para a casa, instruindo-o a continuar tomando a mesma dosagem.
Sabendo que tabagismo e hipertensão arterial sistêmica (HAS) são alguns fatores de risco para a ocorrência de acidente vascular encefálico (AVE), meses depois Anselmo dá entrada no HC acometido por AVE.
Abaixo temos uma reportagem que relata um estudo no qual comprova-se que a hipertensão é mais persistente entre pessoas negras:
Além disso, segundo a PNISPN, a hipertensão é mais alta entre os homens e tende a ser mais complicada em negros. Considerando conduta médica adotada e pressupondo que o médico em questão não tinha conhecimento desses dados, vamos refletir sobre alguns pontos:
Partindo do dado que 56% da população brasileira é preta ou parda, e que a maioria dos usuários exclusivos do SUS é negra (67%), como você avalia a cegueira dos profissionais de saúde para as especificidades dessa população, mesmo havendo a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra?
Em um segundo cenário, Anselmo tem enorme contato com a medicina tradicional africana, e faz uso de especiarias, tônicos e remédios naturais fabricados pela benzedeira que frequenta. Com isso em mente, como racismo dialoga com a marginalização dos saberes tradicionais africanos?
Como o racismo institucional influencia nos determinantes sociais da saúde da população negra? E o racismo estrutural?