Respostas Cenário 3 - Esporte e Violência
O MMA é esporte? E o vale-tudo, é ou não esporte? No vale-tudo, vale tudo? Essas são algumas perguntas que poderiam introduzir uma reflexão sobre o tema. Entretanto, pode-se inverter a ordem, começar por alguns fatos e passar a questões mais pontuais.
Quando, em 1995, Rorion Gracie viu a competição que criara, o UFC, ser submetida por seus sócios a regras como o estabelecimento de rounds e limite de tempo para os combates, vendeu os direitos e deixou o negócio:
‘A nossa diferença sempre foi essa. Para eles, era um show de televisão sobre briga. Para mim, o evento era uma briga de verdade, sendo televisionada. E briga de verdade não tem tempo’, diz Rorion. [...]‘O cara pega o outro no estrangulamento, bate o gongo e tem que soltar? Que briga é essa? Isso é uma palhaçada. O tempo vai acabar com o show’, dizia (Awi, 2012, p. 123, 124 e 125).
Jorge Pereira, professor de jiu-jítsu, ex lutador de vale-tudo e promotor de um extinto evento da modalidade nos anos 2000, explica o que almejava com a competição: “Queria voltar às origens do verdadeiro vale-tudo. Como é que o UFC pode dizer que o cara que ganha lá é campeão do mundo de MMA se eles não permitem cabeçada no rosto? Cabeçada é uma das maiores armas da briga de rua. O sujeito é campeão do mundo e não sabe dar uma cabeçada?” Seria um torneio com apenas as três regras de honra: proibição de mordida, puxão de cabelo e dedo no olho. [...] (Awi, 2012, p. 267 e 268).
Jorge se considera um “profissional de guerra do jiu-jítsu”, diz: “‘No dia em que precisarem, eu luto até a morte com qualquer outro faixa preta de qualquer outro estilo, de qualquer peso, só pelo amor ao jiu-jítsu’” (Awi, 2012, p. 147).
De fato, em 1998, preferindo cumprir agenda de combates a tratar uma grave lesão no olho, Pereira perdeu 90% de uma vista: ‘Ficar cego por causa do amor a uma luta é uma coisa para gente honrada. Sei que sou visto como um louco por muita gente, mas acho que fiz a coisa certa, sacou?’, diz” (Awi, 2012, p. 266).
Tendo competido nos tempos em que o UFC ainda se assemelhava mais ao vale-tudo do que ao MMA, Vitor Belfort, que com 19 anos tornara-se o mais jovem campeão jamais visto do UFC, prestes a disputar o título agora com 38 anos, tem como uma de suas causas o banimento das cotoveladas no MMA. A seu ver, os sangramentos provocados por esses golpes desfavorecem o sonho de fazer do MMA uma luta olímpica. Lyoto Machida também defende a proibição, alegando que as cotoveladas causam danos capazes de definir uma luta sem necessariamente exigir habilidade esportiva que diferencie a qualidade de um atleta sobre outro na modalidade.
Valendo-se do conteúdo do Cenário e com base nos argumentos do texto de Roland Barthes, responda às perguntas abaixo:
Referências:
AWI, F. (2012). Filho teu não foge à luta: como os lutadores brasileiros transformaram o MMA em um fenômeno mundial. Rio de Janeiro: Intrínseca.
BARTHES, R. (2009). O que é o esporte? (A. Telles, Trad). Serrote, 3, 96-105. (Original em francês de 1961).