Prova de Agroecologia sexta-feira, 18 dez 2020
O Sul da Bahia, da divisa com o Espírito Santo até as proximidades do Recôncavo Baiano, apresenta um clima muito peculiar, com características amazônicas, particularmente na região costeira. Não há propriamente uma estação seca, mas apenas menos chuvosa, e a temperatura é constantemente elevada, mas não tórrida. A topografia é variada, e os solos predominantemente são quimicamente pobres. A cobertura vegetal original era a floresta atlântica, que foi substituída por lavouras, particularmente pelo cacau, num sistema de cultivo agroflorestal chamado de cabruca. A produção de cacau ganhou ímpeto nas últimas décadas dos 1800 e se tornou a mais importante atividade regional, até o início da década de 1990, quando a vassoura de bruxa praticamente destruiu essa economia. Os cacauais foram substituídos por pastagens extensivas, e, como o gado extensivo gera menos renda e ocupa menos trabalhadores, o processo resultou no empobrecimento de e desemprego dos antigos trabalhadores das fazendas de cacau.
Por essas alturas, se expandia na região a produção de eucalipto em escala industrial, baseada na terra relativamente barata e no clima excepcionalmente favorável a essa árvore, com rendimentos em polpa entre os maiores do mundo.
Em determinado momento, essa população desempregada, organizada em movimentos por reforma agrária, de um lado, e a indústria de polpa, de outro lado, entraram em conflito, o que gerou um potencial de destruição da imagem da indústria no mercado internacional. No início da década de 2010, houve uma reorganização das indústrias de polpa de celulose, e foi constituída e empresa Fíbria. Nessa configuração, a idéia dominante era que não convinha à empresa estar em conflito com a comunidade em sua área de produção, e se procurou uma forma de acomodar os interesses da indústria de polpa com os da população sem terra. Mas esses interlocutores, indústria e sem-terras, não confiavam um no noutro. Nesse cenário, foi providencial a mediação do falecido Prof. Paulo Kageyama, que tinha a confiança de ambos os lados.
Assim, foi firmado um acordo segundo o qual não haveria novas ocupações, e a empresa contribuiria para a formação de escola de Agroecologia para os assentados em Prado, com o objetivo de criar nos assentamentos sistemas de produção mais sustentáveis, idealmente orgânicos. Esse acordo abrange perto de 1500 famílias assentadas.
Atualmente, além da produção de cacau, que aos se recupera, há um grupo de culturas equatoriais que têm sido exploradas, aí se incluindo a mandioca, a banana, a pimenta-do-reino, a pimenta-da-jamaica, a pimenta rosa, a canela, o cravo, o açaí, a pupunha etc.
Esse é o cenário para o qual você foi convidado a trabalhar, para atuar como assessor para o desenvolvimento dos sistemas de produção de base ecológica nos assentamentos da região. Em média, os lotes têm 10 hectares, e as famílias de 2 a 4 pessoas. Você solicitado a fazer uma apresentação em power point, para expor tanto os possíveis caminhos a seguir, considerando o que você já sabe e o que precisaria saber da região. O salário, bancado pela indústria de polpa de celulose, é generoso. Boa sorte!