Programação

    • Investigando a base de dados das revistas Comunicação, Mídia e Consumo e Signos  do  Consumo, esse  artigo  busca  perceber  como  pesquisas  que  trabalham questões de gênero na interface Comunicação e Consumo se apropriam e dialogam com o campo de Estudos de Gênero a partir de sua complexidade e interdisciplinaridade. Os resultados apontam para uma excessiva timidez, tanto em termos da quantidade de materiais que fazem uso dessa relação, quanto em termos da aproximação efetiva do arcabouço temático e teórico conceitual fornecido pelo campo.

    • O presente artigo analisa como El Deber narra (ou não), as mulheres como agentes no processo migratório. Parte-se do pressuposto que as mulheres, agentes importantes dentro dos fluxos migratórios contemporâneos, são mais ainda invisibilizadas dentro do processo, enquanto agentes da migração e enquanto personagens para o jornalismo. A análise de matérias publicadas no periódico boliviano El Deber, em 2018 e 2019, corrobora esta percepção. Elas estão ausentes da maioria das matérias e não aparecem como agentes mesmo quando o jornal se dedica a narrar o processo de remessa de capitais, tão importante para a economia da região. As mulheres, quando aparecem, o são em função de enquadramentos tradicionais de gênero.

    • No contexto da pandemia da Covid-19 o artigo reflete sobre a relação da pandemia com desafios específicos para as mulheres, em função do agravamento da desigualdade de gênero. A partir disto interroga-se sobre a (não) presença das mulheres nas narrativas da Covid-19, tomando como objeto de análise Caderno Especial do O Globo “Boas Práticas da Pandemia”, a partir de adaptação da metodologia de pesquisa do Global Media Monitoring Project . Após a investigação constatamos que, apesar de apresentarem um número importante de mulheres nas matérias, estas reforçam os estereótipos de gênero, mesmo que de forma às vezes sutil.

    • Este artigo aborda a construção de narrativas que fogem ao padrão heteronormativo em quadrinhos, ao tematizar relações amorosas entre mulheres. Apoiando-se em pesquisadoras/res que discorrem sobre gênero e sexualidade, o trabalho contextualiza a construção de heteronormatividade nas HQs, reflete sobre a autoria feminina nos quadrinhos e depois analisa as narrativas em histórias em quadrinhos de autoras que questionam esta heteronormatividade. O objeto empírico é a HQ “Melaço” em que as nove autoras contam histórias que falam de relações homoafetivas femininas. Ao contrário de boa parte das narrativas que enfocam a homoafetividade, estas histórias têm em comum a ênfase em um final feliz. O objetivo é refletir sobre estas produções e sua potencialidade de desconstrução de estereótipos de gênero e sexualidade dentro de um ícone da cultura pop, as revistas em quadrinhos.

    • O presente artigo investiga a presença de mulheres negras em revistas femininas de circulação nacional, buscando perceber como foram visibilizadas e construídas em relação àslutas das mulheres, temática recorrente no mês de março destas publicações. Toma como objeto as edições daquele mês das revistas Claudia e Glamourque são analisadas numérica e discursivamente. Os resultados apontam, conforme o imaginado, para a majoritária presença de mulheres brancas em todos os conteúdos, apesar da presença de mulheres negras em alguns momentos chave, Dossiê. Esta visibilidade limitada, no entanto, não permite perceberas singularidades e complexidades específicas das lutasde mulheres negrase não forneceuma alternativa à construção de uma branquitude hegemônica.

    • Trabalhos recentes que se voltam ao estado da arte das pesquisas em Jornalismo em sua relação com os Estudos de Gênero (MARTINEZ, LAGO e LAGO, 2016; LAGO e MARTINEZ, 2017, NONATO e LAGO, 2017) indicavam “uma relação tênue” entre estes dois campos (BOURDIEU, 1990). Por outro lado, já apontavam para a possibilidade de consolidação desta relação, especialmente a partir de trabalhos de discentes de pósgraduação, disposição esta que parece estar se concretizando não apenas com a defesa de teses e dissertações, mas com o aparecimento de congressos específicos e dossiês temáticos na área da comunicação, bem como a incorporação dessa temática em congressos tradicionais. Também no âmbito profissional o universo das questões de gênero têm se feito presente, como indicam as campanhas contra o assédio, como o #deixaelatrabalhar, ou #jornalistasContraoAssédio, denunciando as contradições de uma profissão cada vez mais feminilizada (Mick e Lima, 2013). Apesar deste movimento, um olhar exploratório inicial indica que as pesquisas ainda são tímidas ao enfocar as relações de gênero a partir de uma perspectiva interseccional (CRENSHAW, 2002), tão cara a boa parte da produção do campo dos Estudos de Gênero no Brasil e na América Latina. Este artigo problematiza esta relação, investigando a produção discursiva na interface Jornalismo e Estudos de Gênero nos principais periódicos dedicados especificamente aos Estudos de Jornalismo (Brazilian Journalism Research e Estudos de Jornalismo e Mídia). Com isso espera-se não apenas identificar esta ausência, mas especialmente indicar teoricamente a importância e necessidade desse aporte para o enfrentamento das desigualdades que se perpetuam, atravessadas pelas construções de gênero.