Ao se tomar a formação do mundo contemporâneo e as relações internacionais através de um corte cronológico longo, uma das abordagens mais provocativas para se analisar o período consiste em discutir as várias pontes existentes entre os projetos de modernidade europeus construídos no XIX e finalmente impostos ou cobiçados, transferidos ou adaptados a diversos espaços e culturas ao longo do século XX. Apesar do imperioso e intenso combate ao eurocentrismo protagonizado pelas Ciências Humanas nas últimas décadas, as experiências sociais, políticas e econômicas que o velho continente experimentou também contribuíram para uma formação de mundo e são parte das conexões existentes no globo, mesmo se longe de serem as únicas ou as mais importantes. Assim, as grandes transformações que o XIX conheceu na Europa, como a emergência dos nacionalismos de existência, a Revolução Industrial, o início dos processos de urbanização e os novos embates ideológicos auxiliam fundamentalmente a entender as guerras mundiais, a Guerra Fria, a sociedade de massas e da utopia do XX. Um estudo crítico das relações internacionais ocidentais, aqui proposto, torna-se ainda mais relevante quando o objeto de interesse faz parte explicativa fundamental da construção das formas contemporâneas de Estado, particularmente embebidas ou centradas na violência política.