A feição de retrato do Brasil que subjaz à experiência do romance de 1930 advém do caráter representativo mobilizado na intenção de captar o todo da nação. O desenho de país condicionado pela opção documental faz pensar no predomínio dos espaços abertos e comuns, talvez cenário mais característico para a figuração dos conflitos sociais. Contudo, na contramão dessa inferência, chama atenção que grande parte dos enredos do romance a partir dos anos de 1930 se desenvolva rente à esfera do mundo privado por oposição ao público. Se a tendência à apreensão do real parece mais afeita tanto à escolha dos espaços compartilhados, quanto à representação neorrealista, cabe ponderar a respeito da grande quantidade de obras que privilegiam os espaços menores, da vida doméstica, bem como da relação entre esses espaços, a sociedade e certa compleição formal. Por outro lado, em direção oposta ao romance da intimidade, a experiência romanesca local também se entronca à moderna prosa no ocidente, assumindo o desafio de captar as nuances da pólis periférica. Assim, o curso aborda manifestações do romance brasileiro entre 1930-1960 a partir da dicotomia estabelecida entre obras cujos enredos se desenvolvem majoritariamente no espaço da casa, que se circunscrevem, portanto, às relações da vida privada e os romances que se passam majoritariamente no espaço da rua, desdobrando experiências do espaço público. Da aproximação entre as obras escolhidas, referendadas quer pelo espaço da casa, quer pelo espaço da rua, bem como do confronto entre estas duas tendências, emerge o esboço da história da formação do país entre a sobrevivência das velhas estruturas e a emergência do mundo livre.