Nosso curso, nesse ano, tem seu foco nos aspectos discursivos de três formas de dominação: patriarcalismo, colonialismo e capitalismo. Visamos entender as relações entre tais formas, suas sobreposições, interações, usos e potencializações mútuas, além de eventuais conflitos a partir de conceitos da psicologia social, e mais especificamente, a partir da implicação da linguagem em tais fenômenos sociais.  

A escolha por examinar o discurso como forma de dominação se justifica na medida que esta forma traz consigo o enigma do que La Boétie chamou de servidão voluntária, em oposição à servidão por força bruta ou violência. Em outras palavras, o quê, no interior ou na essência da própria vontade, nos leva a voluntariamente ocupar o lugar dos dominados. Campo por excelência da Psicologia, portanto, e mais especificamente, campo da Psicologia Social, com suas teorias sobre o sujeito implicado em suas relações com os outros. 

 A servidão voluntária pode ser efeito da persuasão pelo discurso ou de identificações com os lugares discursivos, ou, em outras palavras,  dos efeitos performativos do discurso. Se a persuasão visa mudar as opiniões, crenças, valores, a performatividade atinge as identidades como tais, isso é, o modo como os sujeitos se pensam e agem, inseridos em um contexto social. Os efeitos performativos dão uma espessura ontológica à superfície ideológica das diferenças.  Cada uma das três formas de dominação acima possui efeitos performativos nos sujeitos e suas relações sociais. Estudaremos exemplos atuais destes a partir de textos críticos aos mesmos: no patriarcalismo, tais exemplos serão retirados das críticas à dominação de gênero; no colonialismo, daquelas ao racismo; e, no capitalismo, levantaremos exemplos de discursos identitários que legitimam a produção de desigualdade pelo capitalismo.