A pertinência da utilização do termo “”economia" para o estudo das sociedades pré-capitalistas é objeto de intensa polêmica. K. Polanyi, em sua obra A grande transformação, afirmava que a noção de “economia” é o fruto de uma evolução histórica recente, de uma ““grande transformação”” ao final da qual os fenômenos econômicos foram dissociados da sociedade e, ao mesmo tempo, passaram a constituir um sistema distinto em relação ao qual os outros domínios da vida social deviam estar submetidos. Como mostrou M. Godelier, coube a Polanyi o mérito de ter mostrado que o “econômico” não ocupa, nas sociedades e na história, os mesmos espaços e as mesmas relações sociais, mas pode assumir formas distintas se está ou não “encrustrado” no funcionamento das relações de parentesco ou nas relações político-religiosas. Por outro lado, a perspectiva de Polanyi foi utilizada, muitas vezes, para negar a existência de uma economia nas sociedades pré-modernas. No entanto, estudos recentes têm mostrado que, na Idade Média, os comportamentos em relação à riqueza, à sua produção e à sua transmissão, podem também ser analisados em termos de comportamentos racionais, quer seja em termos de finalidade, quer seja em termos de valor. O objetivo deste curso é discutir as possibilidades e os limites do empregado do termo “economia” para a compreensão das sociedades pré-capitalistas, com ênfase no período medieval.