Nas sociedades contemporâneas, as percepções e as práticas sociais voltadas para os fenômenos da violência e da criminalidade têm sofrido significativas transformações. Quer como resposta às mudanças colocadas pelo capitalismo tardio ou pela assim chamada globalização (cf. Bauman, 1999), quer como aspectos de um novo paradigma da violência que caracterizaria o mundo contemporâneo (cf. Wieviorka, 1997), as políticas criminais ou de segurança pública e as teorias e práticas penais na atualidade parecem distanciar-se significativamente do legado utópico da modernidade ao tornarem-se paulatinamente mais repressivas e discriminatórias. Substituição do Estado Social pelo Estado Penal (cf. Wacquant, 2002), nova cultura do controle do crime e da justiça criminal (cf. Garland, 2001), tais transformações são ainda mais significativas pois não se limitam ao campo da violência e da criminalidade mas incidem sobre as formas mais gerais de assujeitamento dos indivíduos em sociedade. Como afirma Adorno (1998), o esgotamento dos modelos convencionais de controle da violência e do crime na atualidade aponta para transformações mais amplas nos diferentes modos como os indivíduos governam a si mesmos e aos outros na vida social contemporânea. Diante de tais transformações, e no âmbito das políticas de segurança e das práticas penais, o desafio maior consiste em buscar formas alternativas de contenção da violência, formas essas compatíveis com a manutenção do Estado de Direito, com a afirmação dos valores democráticos e com a expansão da cidadania, em contraposição à nova \"férrea prisão\" da cultura contemporânea do controle do crime (cf. Garland, 2001). O objetivo desta disciplina consiste justamente em recuperar aspectos deste debate atual no campo da Teoria Social. Se no momento de emergência da Sociologia como disciplina acadêmica no final do século XIX as questões do crime e da punição emergiram com centrais no debate que se travava na época - que envolvia também outras disciplinas concorrentes, como a recém criada Antropologia Criminal ou Criminologia - na atualidade essas questões parecem voltar ao centro dos diagnósticos acerca da natureza das transformações e dos destinos do mundo contemporâneo. Busca-se, deste modo, desenvolver leituras diversas que estimulem não só o debate em torno desses temas mas também novas pesquisas no âmbito dos estudos sociológicos acerca do crime, do desvio, do funcionamento da justiça criminal, das instituições de controle social, das políticas públicas de segurança etc.