Discutir a organização temporal da sociedade e as implicações/repercussões dessa organização sobre a organização temporal dos indivíduos e/ou grupos sociais, organização esta vista sob a ótica da Cronobiologia.

Docente Responsável:

Salvador Schavelzon

Objetivos:

A partir de leituras teóricas da antropologia contemporânea, explorar o problema dos limites do humano, num exercício de entendimento da vida de plantas e animais, e de como estes permitem conceber de outra forma nosso mundo, indo além das concepções tradicionais de cultura e sociedade. Revisando etnografias e trabalhos de filosofia, Estudos da Ciência e Tecnologia e Estudos Culturais, a disciplina busca atualizar os alunos nos debates contemporâneos sobre cosmopolítica e relações multiespécies.

Justificativa:

Por distintos caminhos, da teoria antropológica, da etnografia, das práticas sociais, vemos serem questionados os marcos modernos do entendimento sobre o homem, a cultura, a natureza e a sociedade. A delimitação entre tais dimensões, a centralidade e isolamento humano a respeito de outros seres, a participação de não humanos no mundo comum, dão conta de inúmeros fenômenos contemporâneos que nos levam da indústria da alimentação, a biotecnologia e às artes, assim como para as lutas territoriais de povos tradicionais, e também nas cidades e suas periferias, com tecnologias e infraestruturas comunitárias, nos mais diversos campos das metrópoles contemporâneas. A atualidade da discussão, que prolifera em diferentes campos de estudo, configuram a base dessa proposta e das discussões que pretendemos explorar nesta disciplina.

Conteúdo:

O curso revisará discussões contemporâneas da antropologia, filosofia, estudos da ciência e tecnologia e estudos culturais a respeito da relação entre humanos e animais, e da vida das plantas. Consideraremos o debate sobre cosmopolítica, multinaturalismo, virada ontológica, o problema da extinção e processos políticos, como o das lutas ameríndias pelo território nas américas, onde estas questões estejam envolvidos.

Forma de Avaliação:

Trabalho final, participação em sala de aula com discussões e apresentação de seminários temáticos.

Observação:

Bibliografia:

Bird Rose, D. van Dooren, T., Chrulew, Wolfe, C. (Eds) Extinction Studies: Stories of Time, Death, and Generations. Columbia University Press, 2017. 

Bird Rose, D. Wild Dog Dreaming Love and Extinction. Virginia, Virginia University Press, 2011. Cañedo Rodriguez, M. (Ed) Cosmopolíticas, Perspectivas Antropológicas. Editorial Trotta, 2013 

Coccia, E. A Vida das Plantas. Uma Metafísica da Mistura. Florianópolis, Cultura & Barbárie, 2016. 

De La Cadena, Marisol Earth beings. Ecologies of Practice across Andean Worlds. Duke University Press, 2015 

Fausto, Juliana A. Cosmopolítica dos Animais. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2017. 

Holbraad, M. & M. A. Pedersen “1. Other Ontological Turns”, “5. Things as Concepts”. Em: The ontological turn an anthropological exposition. Cambridge University Press, 2017. 

Haraway, D. “Manifesto Cyborg”, 1984. 

______. The Companion Species Manifesto: Dogs, People, and Significant Otherness. Prickly Paradigm Press, 2003. 

______. 2016. Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulhucene. Durham and London: Duke University Press. 

Latour, B. (2018). Qual cosmos, quais cosmopolíticas? Comentário sobre as propostas de paz de Ulrich Beck. Revista Do Instituto De Estudos Brasileiros, (69), 427-441. https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/145662 

Mancuso, S. Revolução das plantas - um novo modelo para o futuro. São Paulo, Ubu Editora, 2019. 

Moore, J. W.. Anthropocene Or Capitalocene?: Nature, History, and the Crisis of Capitalism, Oakcland, PM Press, 2016. 

Plumwood, V. The Eye of the Crocodile. Australia, Australia National University, 2012. 

Povinelli, E. 2016. Geontologies. A Requiem for Late Liberalism. Durham and London: Duke University Press. 

Tsing, Anne The Mushroom at the End of the World: On the Possibility of Life in Capitalist Ruins, Princeton University Press, 2015. 

Schavelzon, S. “Introdução” DOSSIÊ - Cosmopolíticas e Ontologias Relacionais entre Povos Indígenas e Populações Tradicionais na América Latina. Revista de Antropologia (USP, v. 59 n. 3 7-17. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ra/issue/view/9310 

Viveiros de Castro, E. Metafísicas Canibais. Elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac & Naify, p. 288, 2015.



Em termos gerais, a disciplina realiza um estudo panorâmico da área dos Estudos Culturais, com reflexões sobre os diversos sentidos do termo cultura que se fazem presentes e acompanham a proposição dessa área do conhecimento. Esse estudo e essas reflexões são feitos em várias chaves, sendo a histórica a primeira delas. Dessa forma, os tópicos tratados cobrem tanto os primórdios dos Estudos Culturais, na Inglaterra, na década de 1960, como os desdobramentos em termos de Desconstrução, Estudos de Gênero, Estudos Pós-Coloniais, Antropologia Cultural e Multiculturalismo. Na chave antropológica e do multiculturalismo, são abordadas as problemáticas dos Estudos Culturais no Brasil, tendo em vista a sua relação com os Estudos Literários, e na América Latina, tendo em vista a problemática indígena e sua relação com o pensamento marxista nessa região do mundo. Na chave teórica, a disciplina aborda tanto os autores que privilegiam as construções conceituais valorizando o lugar da experiência, do vivido e do simbólico quanto aqueles que enfatizam o papel da estrutura, pois ambos contribuíram para a definição de diferentes vertentes dos Estudos Culturais, a saber aquelas associadas seja aos paradigmas gerais do culturalismo seja aos do estruturalismo. Ainda nesta chave, a disciplina questiona a barreira semântica advinda do conflito “estrutura versus cultura”; assim, em busca de novas rupturas significativas, o programa problematiza a cisão epistemológica alta/baixa cultura,bem como investiga os novos significantes que se fazem presentes nos campos dos estudos de gênero, identidades, etnicidades, sexualidades e que são desvelados sob a forma de discursos, práticas, políticas e performances.