Realizar atividades experimentais no ensino de Ciências é fundamental para a aprendizagem de
conceitos científicos: não há professor, pesquisador ou educador da área que discorde desse preceito.
No entanto, observa-se que a adoção dessa prática é muito rara por parte da maioria dos professores,
tanto em sala de aula quanto em laboratório; na maioria das escolas públicas, é uma prática
esporádica, assistemática e sem metodologia definida.
Apesar de muitos professores de Física se mostrarem sinceramente insatisfeitos com essa
situação, essa insatisfação raramente se materializa em alguma ação ou mesmo reivindicação
individual ou coletiva; trata-se de um conformismo, ou mesmo passividade, muito difícil de
compreender, uma vez que parte de profissionais que atribuem a essa prática pedagógica tanta
importância. Quando questionados a respeito das causas dessa postura contraditória, a maioria aponta
principalmente estas quatro grandes deficiências estruturais das escolas: falta de material e de
equipamentos; falta de local adequado para realizar as atividades; falta de tempo para o seu preparo;
e, por fim, número insuficiente de aulas na carga horária.
Alguns reconhecem o próprio despreparo para realizar atividades experimentais; segundo eles,
trata-se de uma deficiência de sua formação, que não teria contemplado adequadamente a prática
didática dessas atividades. No entanto, talvez por causa desse mesmo despreparo, poucos se dão
conta da existência de dificuldades mais relevantes: as de natureza pedagógica, que, a nosso ver, são a
verdadeira causa da precariedade da prática experimental em nossas escolas.
É raro que um professor tenha dificuldade em selecionar e resolver exercícios ou problemas de
qualquer tópico de seu programa de Física. São raros, também, os que enfrentam dificuldades em
avaliar a competência de seus alunos na resolução desses exercícios e problemas. Aliás, exercícios eproblemas geralmente constituem o conteúdo básico - quando não o único - das provas. Por isso, são
raros os professores de Física que não exigem de seus alunos a resolução de exercícios e problemas, na
própria sala de aula ou em casa. Quando se trata de atividades experimentais, no entanto, a situação
muda completamente.
A primeira dificuldade é encontrar atividades relacionadas a todos os tópicos do programa.
Mesmo na improvável hipótese de o professor dispor de todas as condições estruturais para realizá-
las, há inúmeros conteúdos para os quais elas simplesmente não existem ou são impossíveis de ser
realizadas em salas de aula ou laboratórios escolares, mesmo se bem equipados. Como é, no caso da
Física, das leis de Newton, da relação entre trabalho e energia cinética, do princípio da conservação da
energia, da lei da gravitação universal, das leis da termodinâmica, da lei de Coulomb e de praticamente
todos os tópicos de Física moderna.
Para a maioria dos conteúdos, porém, existem atividades possíveis de serem realizadas; algumas
delas, inclusive, nem exigem equipamentos ou instalações especiais para tanto. O estudo da óptica,
por exemplo, pode ser facilmente apresentado ou acompanhado em praticamente todos os seus
conteúdos por meio de atividades experimentais de baixo custo e de fácil realização até mesmo na sala
de aula; o mesmo ocorre com a estática, tópico do currículo de Física que pode até ser abordado
exclusivamente por meio dessas atividades. Nem por isso se observam, em relatos de pesquisa sobre
ensino de Física, indícios do uso frequente de experimentos com óptica ou estática.
Por causa dessas constatações, formamos a convicção de que são de natureza pedagógica os
obstáculos que efetivamente dificultam e desestimulam o emprego de atividades experimentais,
independentemente das dificuldades estruturais ou do despreparo dos professores. Assim, o início
deste trabalho será dedicado a uma abordagem crítica da origem e das características desses
obstáculos.
- Docente: Cristiano Rodrigues de Mattos