Célia, 34 anos, vem ao seu plantão no hospital trazendo Amanda, que tem 4 meses e 20 dias com quadro de tosse e cansaço há 4 dias. Ambas são naturais e procedentes de Bauru. Célia é filha de Genésio, tabagista inveterado que está em investigação para um quadro pulmonar de falta de ar progressiva e que mora com a família na casa. Ela, porém, não fuma, nem bebe, teve 3 filhos sem intercorrências. Amanda, a caçula nasceu de parto normal, com gestação de 36 semanas e pesando 3,510 Kg. Eles moram numa casa com 3 quartos (ela divide 1 quarto com a irmã do meio, que tem o Sacola, um gatinho siamês.

Ela informa que há 4 dias Amanda começou a tossir, há 3 dias apresentou quadro de secreção nasal clara e inodora. Ela informa ter medido a temperatura 1 vez por dia, sendo o pico 38,1°C.  Ontem à noite Amanda começou a piorar ficando mais cansada e parecendo que tinha um gato miando no peito. A criança não apresenta história previa de alterações gastrointestinais ou dermatológicas. Vacinação atualizada.

Célia conta que Amanda teve um quadro de chiado no peito aos 2 meses de idade, mas foi quadro leve que o médico do pronto socorro falou para só observar. Já a do mês passado foi bem grave, porque ela precisou ficar internada por 10 dias e tomou antibiótico.

Na admissão você observa que Amanda está em Regular estado geral, desidratada 2+/4+, dispneica 3+/4+ com esforço respiratório. A ausculta mostra sibilos difusos. Não há alterações cardiovasculares nem sinais de irritação meníngea. A oroscopia e otoscopia estão normais.

Já na admissão, vendo o desconforto respiratório medica com salbutalmol em Spray e observa melhora significativa mas ainda com taquidispneia (FR = 50  ipm), saturando 90% em ar ambiente. Seu colega de plantão pergunta: O que você faria? E você imediatamente responde: “Eu internaria”. E assim o faz, prescrevendo O2 em cateter nasal, prednisolona e salbutamol.

A radiografia de tórax mostra o quadro abaixo:


No dia seguinte você observa que a criança está em bom estado geral, ativa, reativa hidratada, acianótica com FR = 40 ipm e saturando 97% com o cateter de O2. Afebril no período, aceitando bem amamentação, sem alterações do sono. A ausculta apresenta sibilos difusos, e retração subcostal leve. Mantem a conduta espaçando o Salbutamol.

Dois dias depois com manutenção da melhora você retira o cateter de O2 e substitui o Salbutamol em Spray por formoterol em nebulização. No dia seguinte você dá alta para a criança com uso domiciliar de formoterol em nebulização até regressão completa dos sintomas.

Célia pergunta pra você imediatamente: Amanda tem asma? Eu tinha uma tia que tinha asma e sofreu tanto...

Você esclarece que não, que não dá prá chamar o quadro de Amanda de Asma e nem dá prá se ter certeza nesse momento se ela vai ter esse quadro para sempre...

Célia faz uma expressão preocupada e desconfiada e pergunta: tem alguma coisa que eu posso fazer? Olha Doutor, eu tentei prevenir essas coisas com meu pai, falava que ele ia ainda morrer por causa daquele maldito cigarro, olha aqui como tá o pulmão dele hoje


O que eu posso fazer pra evitar que o pulmão da minha Amanda complique, doutor?

Última modificación: martes, 15 de agosto de 2023, 08:58