Para ler a Arte...

A Arte... foi impressa em 1595.

 Apesar de estar redigida em um português bem semelhante ao de hoje em dia, a forma como esse português era representado em um texto impresso pode parecer-nos meio difícil de decifrar hoje. Eis algumas informações para ajudar a leitura:

  • Raramente se acentuavam as palavras.

  • Ainda se usavam letras duplicadas e grupos como th, ph, etc: grammatica, difficuldade, theologo.

  • Usava-se muito a letra ſ, que se parece muito com um f, mas é na verdade uma forma alternativa (longa) da letra s minúscula. A forma longa costumava aparecer no início e no meio das palavras, enquanto que a forma curta quase que só se usava no fim, mas podia também ser usada no meio: Braſil, eſtes (estes), aſsi (assim).

  • Não havia diferença entre u e v na escrita. A letra maiúscula era sempre V. A forma v se usava no início das palavras, e u nas outras posições: vltima vogal (última vogal), vſo (uso), vniuerſal (universal), ouuera (houvera), ſerue (serve).

  • Não havia diferença entre i e j na escrita. A letra maiúscula era sempre I. Não se faz tanta confusão nas palavras portuguesas, mas sim nas palavras tupis: jtâ (itá), vjtecôbo (ûitekobo), adiectiuo (adjetivo).

  • Muitas vezes o y tomava o lugar do i em ditongos e em outras posições: foy (foi), ey (hei), yxê (ixé).

  • Não se usava hífen para separar o pronome do verbo: deyo (dei-o), vſaſe (usa-se), deſejandoo (desejando-o).

  • Muitas vezes um m ou n se substituía por um til (~): eſtãdo (estando), algũa (alguma), cõiunctiuo (conjuntivo).

  • A terminação verbal -am se escrevia -ão: acabão (acabam), vſão (usam).

  • Como a Arte... foi escrita por um padre para ser usada por padres, há muitas expressões em latim: vt (ut = como), &c (et cætera = etcétera), in principio dictionis (no princípio da dicção/palavra), & ſic in reliquis temporibus vt ſupra (e assim nos tempos restantes, como acima), maxime (principalmente), abſolute (absolutamente), ſimpliciter (simplesmente), in fine (no fim), vel (ou), excipe (exceto), etc.

  • A cedilha (¸) se chamava zeura.

  • Antes de se citar uma letra ou palavra, escrevia-se uma vírgula: o qual não he, m. nem, n. (o qual não é "m" nem "n").

  • A letra h se acrescentava em algumas palavras e se retirava em outras: he (é), hũa (uma), auia (havia), oje (hoje).

E há outros tantos detalhes, que não mencionarei. A título de exemplo, eis a "tradução" do primeiro parágrafo:

Nesta lingoa do Braſil não ha f. l. s. z. rr. dobrado nem muta com liquida, vt cra, pra, &c. Em lugar do s. in principio, ou medio dictionis ſerue, ç. com zeura, vt Açô, çatâ.

Nesta língua do Brasil não há f, l, s, z, rr nem (encontro de consoante) muda com (consoante) líquida, como cra, pra, etc. Em lugar do s no início ou no meio da palavra, serve ç, como açô [a-só], çatâ [s-atá].

A digitalização

Procurei manter o texto fiel ao original, sem modernizar ou corrigir as grafias das palavras. Muitos erros podem ter sido incluídos durante o processo de digitalização, pelos quais peço desculpas.

O processo foi concluído em 2002-06-14.

Emerson José Silveira da Costa ("Ensjo" ou "Iperusununga").

Última atualização: segunda-feira, 14 set. 2020, 15:57