Até o final de 2013, havia no país o único instituto de pesquisa habilitado para o desenvolvimento de medicamentos cujos testes poderiam ser feitos em animais. O nome era Instituto Royal, que possuía duas unidades de atuações: São Roque (SP) e Porto Alegre (RS). Na unidade de São Roque, ocorriam pesquisas pré-clínicas em Beagles, uma raça específica de cachorro (animal não roedor) com características físicas de crescimento convenientes para diversos testes.


Após uma crescente onda de boatos e comoções não embasadas em evidências prováveis, movimentos de manifestações surgiram na frente da unidade de São Roque e culminaram na invasão do instituto. Equipamentos de valor calculado em +80 mil reais foram quebrados, 178 Beagles foram sequestrados da instalação, com outros números de animais que por ali se mantinha sob controle. Os estragos ao instituto foram tantas, que após 19 dias o Instituto anuncia o fechamento da sua unidade de São Roque.


Este episódio atingiu a comunidade científica em cheio pois não só havia um reflexo da ignorância da pesquisa científica por parte da população leiga (além do prejuízo da pesquisa farmacêutica no país), como também um sentimento de vergonha e alerta para os próprios cientistas da área.


Portanto, independente de sua área de pesquisa (como a minha, a Matemática Pura), é importante possuir um acervo de argumentos para tratar de uma questão tão importante da sociedade brasileira como esta. Com isso, deixo aqui um explicativo com links direcionados para responder os principais argumentos realizados no caso. É extenso, mas vale a pena a paciência.



Pesquisa de medicamentos em animais não são necessárias!


Embora muitas questões éticas estejam envolvidas sobre o uso de animais em testes de medicamentos, a condição de obrigatoriedade de seu uso é discutível até certo ponto. Para muitas pesquisas, é inviável o surgimento de tecnologias alternativas para pesquisas sem largar o ritmo da demanda social. No seguinte vídeo, o Divulgador Científico Pirula rebate a alguns argumentos utilizados, e faz recomendações de outras fontes.






Havia maus tratos com os Beagles!


A perícia feita com os animais não constatou maus tratos nos animais, como segue a seguinte Perícia não encontra indícios de maus tratos a animais do Instituto Royal.



Pelo menos sabemos cuidar deles!


Logo após a invasão, a Royal se comunicou sobre as acusações feitas para o instituto. De acordo com a Bióloga Silvia Ortiz, gerente geral do Royal, "Os ativistas disseram que retiraram os animais do Instituto Royal por causa de supostos maus-tratos, mas quem cometeu maus-tratos com os animais foram eles". Os detalhes podem ser acompanhados na matéria publicada no Estadão, Para instituto Royal, ativistas é que maltrataram os animais.


Ah, mas até parece que roubar alguns animais faz tanto estrago assim. As indústrias possuem dinheiro!


Embora possamos discutir quem são os maiores responsáveis por este tipo de dano: se as pessoas que invadiram os institutos, ou muitos dos cientistas que se calaram no surgimento dos boatos, ou até as reitorias das universidades que pouco promovem programas de extensão (ou a legislação sobre esses programas), é importante concordarmos dos danos que a Royal sofreu - e por consequência, o país. 


A matéria Fechamento do Royal deixou lacuna para o País, escrita pelo jornalista científico Herton Escobar, no Estadão, retrata bem o desenrolar de uma série de eventos após o fechamento, como o legado deixado, o incentivo de novas pesquisas farmacêuticas, e as resoluções criminais. 


Síndrome de Cassandra


Por fim, termino este material com uma das maiores pessoas que atualmente combate politicamente este tipo de situação. O nome dela é Natalia Pasternak, Bióloga e Divulgadora Científica. É uma das responsáveis na criação do Instituto Questão Ciência, e tem a seguinte fala no TEDxUSP: A Ciência Brasileira e a Síndrome de Cassandra. Além de falar do exemplo do Instituto Royal, ela abrange outros exemplos sociais, como a fosfoetanolamina, além de falar a voz que @s cientistas possuem na sociedade - no caso, a Síndrome de Cassandra. 




Zuletzt geändert: Sonntag, 18. November 2018, 03:50