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Partindo do debate antropológico sobre as relações entre “natureza” e “cultura” e as possibilidades de uma etnografia para além do “humano”, o curso propõe um enfoque específico na vida das plantas, em suas interações com outros humanos e não-humanos. Ao percorrer diferentes abordagens acerca do tema, o objetivo é situar as plantas no debate contemporâneo que busca repensar os instrumentais teóricos e metodológicos da disciplina, considerando também o diálogo com outras áreas de conhecimento, como a arqueologia, a ecologia, a biologia vegetal, a política, a filosofia e as artes. A primeira parte aprofunda as teorias antropológicas que fundamentam as questões centrais do curso. Entre os temas chaves a serem desenvolvidos, podemos destacar: os diferentes modos de conceber o “vivente”; a comunicação interespecífica para além da linguagem humana e da ênfase no simbólico; a crítica à noção de “domesticação” e “excepcionalismo humano” por meio das noções de “co-evolução” e de “espécies companheiras”, assim como da emergência da “etnografia multiespécies”; a problemática do “Antropoceno”, considerando outras alternativas de conceitualização inspiradas também pela “proposição cosmopolítica” e pelas possibilidades “da vida pós-ruina”. A segunda parte se dedica à leitura de trabalhos que, para além da antropologia, apresentam uma crítica à cegueira relacionada à vida vegetal, sobretudo, no pensamento ocidental. Serão discutidas propostas etnográficas que focalizam as interações sensoriais, corporais e afetivas entre plantas, humanos e outros não-humanos, especialmente nas artes e ciências botânicas. A terceira parte, por sua vez, propõe um aprofundamento nas sociocosmologias ameríndias, ressaltando as concepções locais sobre as interações entre humanos e plantas, mundos e viventes, as relações multiespécies e seus efeitos nas paisagens. Os principais eixos temáticos que compõe esta parte são: florestas antropogênicas, domesticação de plantas e paisagens nas terras baixas; crítica ao conceito de domesticação e à oposição entre “selvagem” e “domesticado”; os sistemas agrícolas tradicionais e a contribuição dos povos indígenas para a agrobiodiversidade; a leitura crítica dos conceitos de “animismo”, “perspectivismo” e “multinaturalismo” do ponto de vista das plantas; as relações entre cultivo, gênero, parentesco e xamanismo; a agência de plantas embriagantes e venenosas concebidas na chave do “anti-alimento”. Na quarta e última parte, nos voltamos para as distintas práticas e saberes agrícolas, ressaltando os valores éticos e estéticos envolvidos em suas formas de produção e circulação. Começamos explorando os contrastes entre as culturas de tubérculos e de cereais em contextos diversos. Em seguida, o contraste será redimensionado e tensionado ao abordarmos, por um lado, o modelo científico-industrial hegemônico do agronegócio e, por outro, tantas outras possibilidades, aqui representadas pelos modos de vida e as agriculturas indígenas. Nos deteremos em algumas histórias de ambientes devastados e formas de existência impactadas, mas também de luta e resistência aos projetos de cerceamento e aniquilação da vida.
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