Programação

  • AULA I - 5 DE AGOSTO

    Apresentação do programa de curso e introdução geral à história da arte moderna

    Na primeira aula, houve a apresentação do programa e uma breve introdução à história da arte moderna. As aulas deverão funcionar da seguinte forma: a primeira parte da aula será em sala, e a segunda, nas galerias do museu, onde duas obras serão apresentadas.  Assim, pretende-se que o aluno aprenda a ver uma obra de arte; compreenda os processos de criação, a relação objeto e contexto e as teorias de análise formal; e forme um repertório de arte moderna.

    Como a disciplina tem estreita relação com o acervo do MAC USP, um dos pontos mais importantes da disciplina será tratarmos da narrativa de arte moderna projetada pelo acervo do museu, comparando-a com a narrativa consolidada nos manuais de arte moderna.

    Partiremos de alguns pressupostos. Em primeiro lugar, consideraremos que a arte moderna abrange aproximadamente o período entre 1860 e 1950 - isto é, está entre o impressionismo e o advento da arte concreta e abstracionismo. Podemos pensar esse período em quatro grandes momentos:

    1- 1860-1890: questionamento da instituição artística;

    2- 1890-1920: instauração das vanguardas históricas e advento do primitivismo;

    3- 1920-1945: momento do chamado "Retorno à Ordem";

    4- após 1945: consolidação das experiências de abstração.

    A experiência de internacionalização é um dos aspectos importantes da arte moderna e algumas de suas características são o estabelecimento de uma vanguarda, as inovações da linguagem formal da arte na Europa e a questão da formação de um público para a arte moderna.

    Na segunda parte da aula, discutimos rapidamente dez obras produzidas no período. A intenção foi de ilustrar, em primeiro lugar, de que nem tudo feito em arte nesse período pode ser considerado arte moderna. Essas obras também serviram para mostrar que a arte moderna construiu-se no embate com a arte acadêmica do século XIX e que os modernistas estabeleceram outra relação com a tradição artística, questionando a ideia de imitação. 

    Lista de obras que vimos e discutimos em sala de aula:

    Slide 1 Adolphe William Bouguerau, O Nascimento de Vênus, 1879, ol/tl, Musée d'Orsay, Paris

    Slide 2 Pedro Américo, A Carioca, 1882, ol/tl, MNBA, RJ

    Slide 3 –  Édouard Manet, Mulher com papagaio, 1866, ol/tl, Metropolitan Museum, Nova York

    Slide 4 Castagneto, Paisagem com rio e barco ao seco em São Paulo Ponte Grande, 1895, ol/tl, MASP, São Paulo

    Slide 5 – Paul Cézanne, Maçãs e laranjas, 1899 ca., ol/tl, Musée d'Orsay, Paris

    Slide 6 Emiliano di Cavalcanti, ilustração para A Meia-Noite dos Fantoches, 1922, coleção particular

    Slide 7 Wassily Kandinsky, Composição VIII, 1923, ol/tl, Solomon Guggenheim Museum, Nova York

    Slide 8 Ismael Nery, Estátuas vivas, 1931, ol/cartão, coleção particular

    Slide 9 Henri Rousseau, Os jogadores de futebol, 1908, ol/tl, Solomon Guggenheim Museum, Nova York

    Slide 10 Cícero Dias, Visão Romântica do Porto do Recife, 1930 ca., ol/cartão, Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM, RJ

    Indicação de leitura:

    HOBSBAWM, Eric John. Capítulo 6 - "As artes, 1919-1945" In: Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. São Paulo : Companhia das Letras.

    Obras para visitar:

    Masp: as cinco obras de Paul Cézanne.

    • O Negro Cipião (1866-1868)
    • Paul Alexis Lê um Manuscrito a Zola (1869-1870)
    • Rochedos em L´Estaque (1882-1885)
    • Cézanne em Vermelho (1890-1894)
    • O Grande Pinheiro (c.1896)

  • AULA II - 12 DE AGOSTO

    Moderno, modernismo, arte moderna

    Na segunda aula vimos o significado do termo moderno, tal como analisado pelo historiador da cultura Raymond Williams e por T. J. Clark, historiador da arte.

    Termo moderno

    Na análise de Raymond Williams, o autor nos dá um panorama histórico das origens e acepções deste termo, que acaba por se cristalizar como um equivalente de "atual" e "contemporâneo", ganhando também um sentido de progressão. William nos lembra, entretanto, que a partir de meados da década de 1950 (com o advento das práticas artísticas que chamamos de contemporâneas), o modernismo - pautado por um conceito de moderno como "contemporâneo" - passa a ser retrospectivo, isto é, passa a ser datado.

    Já T.J. Clark analisa o moderno a partir da crítica de certa ideia formalista de arte moderna, em que esse estaria diretamente ligado ao fenômeno de abstração e à afirmação da superfície bidimensional da tela, na pintura. Ele introduz, assim, o conceito de flatness (achatamento) para reavaliar a análise formalista da pintura.

    Flatness (superfície)

    Flatness significa bidimensionalidade ou achatamento, que na leitura de um crítico modernista como Clement Greenberg está ligada à pintura abstrata e à ideia da pintura moderna que se exprimiria pelo seu maior grau de abstração. Clark retoma a noção de flatness no período de 1860 a 1918 e nos lembra que tal termo estaria ligado a três aspectos principais:

    • análogo a “popular”; ideia de que a pintura é um trabalho manual honesto

    • equivalente de modernidade; duas dimensões de pôsteres, etiquetas, gravuras de moda, fotografias

    • não-ruptura da superfície (Cézanne); uniformidade do olhar ele mesmo; forma de nosso conhecimento das coisas

    A seguir, discutimos três obras que parecem exemplificar três aspectos importantes da pintura moderna e da ideia de modernismo:

    MANET:

    Olympia (1863, óleo/tela, Musée d'Orsay, Paris) de Édouard Manet

    Esta obra causou escândalo e colocou em xeque as práticas acadêmicas de pintura: trabalha com uma superfície e uma pincelada que dão ideia de inacabamento; não faz uso da perspectiva linear para construir o espaço dentro da composição; e trata de um conteúdo da vida moderna. Ao mesmo tempo, Olympia promove uma atualização (releitura) das seguintes obras da tradição artística:

    - Vênus de Urbino (1538 ca., óleo/tela, Galleria degli Uffizi, Florença) de Ticiano

    - Vênus adormecida (1510 ca., óleo/tela, Gemäldegalerie, Dresden) de Giorgione

    CÉZANNE

    Cézanne olha para Manet como se ele fosse a tradição e atualiza-o, com a obra Uma Olympia moderna, de 1873 (óleo/tela, Musée d'Orsay, Paris).

    PICASSO

    As moças de Avignon, de 1907 (óleo/tela, MoMA, Nova York).

    A partir da análise dessas três obras e das referências que os artistas buscaram na tradição (Manet) e nas experiências da segunda metade do século XIX (Cézanne e Picasso), observamos os três aspectos importantes que caracterizariam, a princípio, a pintura moderna:

    1- A atitude desses artistas de contrapor-se às instituições artísticas do século XIX (a academia de belas artes e os salões de arte por ela promovidos)

    2- A ruptura com a tradição artística que, ao mesmo, tempo a retoma para atualizá-la para as questões modernas – Manet, por exemplo, que toma Ticiano e Giorgione como problemas de composição, de pintura

    3- A reinvidicação da originalidade nas práticas artísticas

    Indicações de leitura:

    ARGAN, Giulio Carlo. “Édouard Manet, Le déjeuner sur l'herbe” In: Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, pp. 94-98.

    CLARK, T. J. “The Painting of Modern Life” In: FRASCINA, Francis & HARRIS, Jonathan (orgs.). Art in modern culture. London: Phaidon, 1995, pp.40-50.

    HARRISON, Charles. “Impressionismo, modernismo eoriginalidade” In: Modernidade e modernismo. A pintura francesa no século XIX. São Paulo: Cosac Naify,1998, capítulo 2.

    WILLIAMS, Raymond. When Was Modernism?In: FRASCINA, Francis & HARRIS, Jonathan (orgs.). Art in modern culture. London: Phaidon, 1995, pp. 23-27.

  • AULA III - 19 DE AGOSTO

    Modernismo no Brasil / Institucionalização da arte moderna

    A terceira aula começou com a revisão dos termos “moderno” e “modernismo”, vistos na aula anterior, para introduzirmos o caso do Brasil.

    A partir, principalmente, das premissas lançadas por Annateresa Fabris e Tadeu Chiarelli, no que diz respeito à presença/existência de uma vanguarda, no Brasil, tratamos dos seguintes pontos:

    1-      A questão do descompasso entre a experiência modernista na Europa e no Brasil, tomando-se por pressuposto que esta caracteriza-se pela existência/presença de uma vanguarda.

    2-      Esta vanguarda fundamentar-se-ia em certa atitude de contestação/enfrentamento das instituições artísticas por parte dos artistas modernistas, e corresponderia à adoção de novas linguagens plásticas – que, no caso brasileiro, não seria identificável até a Semana de 22.

    3-      O modernismo no Brasil teria se instaurado no momento em que a Europa já teria superado as experiências vanguardistas e teria se voltado para uma linguagem plástica entendida como mais conservadora e classicizante, que caracterizou o ambiente do chamado Retorno à Ordem.

    4-      Os críticos modernistas brasileiros – em especial Mário de Andrade – fazem do modernismo um projeto para uma arte brasileira, cujas raízes podem ser vistas em algumas figuras emblemáticas do passado: no período colonial, em Aleijadinho, e no século XIX, em Almeida Júnior.

    Para discutirmos esses elementos, analisamos as seguintes obras:

    ALMEIDA JÚNIOR

    Caipira picando fumo (1893) - óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP

    ANITA MALFATTI

    Tropical (1917) - óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP

    LASAR SEGALL

    Bananal (1927) - óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP

     

    Na segunda parte da aula, tratamos dos processos de institucionalização da arte moderna, na Europa, nos EUA, e no Brasil, focando a discussão na criação de algumas instituições importantes, a saber:

    Exposições Internacionais de arte moderna (e contemporânea):

    - a Bienal de Veneza, fundada em 1895

    - a Bienal de São Paulo, fundada em 1951, tomando a Bienal italiana por modelo

    - a Documenta de Kassel, criada em 1955 como forma de redenção da Alemanha dos anos do Nazismo e a marca deixada pela Exposição de Arte Degenerada, em Munique, em 1937

    Museus de Arte Moderna:

    - o MoMA, em Nova York, criado em 1929, como modelo privilegiado para criação de outros museus de arte moderna no mundo (inclusive no Brasil)

    - o MAM de São Paulo, fundado em 1948

    E outras instituições que contribuíram para a divulgação de arte moderna, no Brasil, como o MASP (fundado em 1947). Neste último caso, vimos como o modo de apresentação museográfica do acervo de arte antiga muito deve a uma visão moderna da história da arte.

    Indicações de leitura para esta aula:

    ALTSCHULER, Bruce. Salon to Biennial: Exhibitions That Made History. Volume I: 1863-1959. Londres/Nova York: Phaidon Press, 2008. [em especial parte sobre Bienal de Veneza e Exposição de Arte Degenerada].

    CHIARELLI, Tadeu. “Tropical, de Anita Malfatti: reorientando uma velha questão” In: Um modernismo que veio depois. São Paulo: Alameda Editorial, 2008, pp. 51-66.

    FABRIS, Annateresa (org.). Modernidade e Modernismo no Brasil. Porto Alegre: Zouk Editora, 2010 (2a. edição), pp. 9-24.

    Principais Eventos de institucionalização e Instituições de Arte Moderna

    1890: Abaixo-assinado para a doação de “Olympia” de Édouard Manet ao Louvre

    1895: Criação da Bienal de Veneza

    1896: Efetivação da doação Caillebotte para o Museu do Luxembourg, em Paris

    1919: André Farcy na direção do Musée de Grenoble, França – início das aquisições de arte moderna (por via de doações)

    1922: Galeria do Jeu de Paume vira uma espaço de exposições temporárias e apresentação de mostras de artistas internacionais

    1929: Fundação do MoMA, Nova York

    1936: Exposição “Cubism and Abstract Art” no MoMA

    1930-40: Fundação de outros museus de arte moderna (França, por ex.)

    1951: Criação da Bienal de São Paulo

    1955: Criação da Documenta de Kassel

  • AULA IV - 26 DE AGOSTO

    Modernismo e Arte Moderna: “Autorretrato” de Amedeo Modigliani e “A negra” de Tarsila do Amaral (7o. andar)

    A imagem do artista – originalidade/modernismo

     -        obras de Modigliani e Tarsila que veremos são aproximadamente do mesmo período, produzidas no ambiente da Escola de Paris

    -        Analisá-las como dois autorretratos (embora o da Tarsila não seja, teoricamente)

    -        internacionalismo X nacionalismo – os mesmos elementos serviram para os dois argumentos

    -        técnica de originalidade dos dois artistas

    -        elementos de primitivismo/exotismo

    -        questão do “flatness”

    -        hibridismo e superação dos diferentes vanguardismos

    1- Amedeo Modigliani, “Autorretrato”, 1919, óleo/tela, originalmente do acervo do antigo MAM de São Paulo – Coleção Francisco Matarazzo Sobrinho e Yolanda Penteado

    Proveniência: Comprada pelo Casal Matarazzo para o antigo MAM, em 1946, em Milão

    EXPOSIÇÕES:

    1946 – Exposição de homenagem a Modigliani organizada pela Associação de Artistas Amadores de Milão, abril-maio (quando a obra foi adquirida)

    1949 – A Nova pintura francesa e seus mestres – De Manet a nossos dias, no MAM

    1990/91 – Modigliani, 70 anos depois, MAC USP

    2002 – Modigliani, l'ange au visage grave, no Musée du Luxembourg, Paris

    PUBLICAÇÕES IMPORTANTES:

    SCHEIWILLER, Giovanni. Amedeo Modigliani (Arte Moderna Italiana nº 8). Milão: Ulrico Hoepli, 1a edição, 1927; 2ª edição, 1932; 3ª edição, 1950.

    Mostra di Modigliani, aprile – maggio 1946. Milão: Associazione fra gli Amatori e Cultori delle Arti Figurative, 1946.

    Imagens referenciais para a obra:

    Fotos de Modigliani em seu ateliê, publicada no volume de Scheiwiller em 1950

    Modigliani, “Retrato de Paul Guillaume”, 1916, óleo/tela, Museo del Novecento, Milão

    Édouard Manet, “Retrato de Émile Zola”, 1868, óleo/tela, Musée d'Orsay, Paris

    Modigliani se pinta em um robe de chambre, sentado na cadeira de seu ateliê, segurando sua paleta na mão. Está em pleno trabalho de criação. As pinceladas rápidas e a superfície transparente da tela nos fazem pensar na agitação do artista, como tomado por uma inspiração. A ideia do pintor genial/heróico também se afirma pelas possíveis referências de Modigliani para conceber seu autorretrato. O ambiente em que se faz retratar remete a fotografias que o artista tinha de seu próprio ateliê em Paris, entre 1916 e 1917, de onde não só sobrevivem retratos dele próprio, como de seu primeiro galerista apoiador, isto é, Paul Guillaume. De um ponto de vista muito semelhante, Modigliani também faz o retrato de Paul Guillaume – galerista em ascensão naquele momento e grande promotor de outros nomes da Escola de Paris. Ademais, haveria talvez dois retratos de personagens célebres da Paris moderna que reverberam aqui: de um lado, o retrato de Émile Zola pintado por Manet ainda nos anos 60 do século XIX; e os retratos de Auguste Rodin feitos por Edward Steichen, também em seu robe de chambre, que o escultor havia utilizado para moldar o corpo de seu monumental “Balzac”, de 1894. Por outro lado, as formas alongadas da figura, do rosto, e o contorno muito fino da silueta remetem às figuras que Modigliani fez em escultura, nos primeiros anos da década de 1910, impactado em parte pela fascinação entorno do Primitivismo. Todos esses elementos colocam Modigliani no ambiente internacional da capital francesa, mas nos anos 1930, eles seriam usados para demonstrar sua vinculação com sua terra natal.

    Entre 1928 e 1933, o pintor Mario Tozzi, ao lado de Renato Paresce, Giorgio de Chirico, Alberto Savinio, Massimo Campigli e Filippo de Pisis, realizaria uma série de exposições do chamado Grupo dos Italianos de Paris. Com o suporte da crítica de Waldemar George e do galerista Léonce Rosenberg, esses artistas italianos foram sendo incorporados às coleções de arte moderna que iam se formando. Essa também foi uma tentativa, dessa vez de fora para dentro, de afirmação da arte moderna italiana no ambiente internacional. De fora para dentro, na medida em que esses artistas se organizaram assim por iniciativa própria e com o apoio do ambiente artístico parisiense, para depois ser promovido dentro da Itália.

    2- Tarsila do Amaral, “A Negra”, 1923, óleo/tela, originalmente do acervo do antigo MAM de São Paulo

    Proveniência: comprada pelo MAMSP da artista, em 1951

    EXPOSIÇÕES:

    1926 – Galerie Percier, Paris

    1931 – 1ª. Exposição Individual da artista no Brasil (em São Paulo e no Rio de Janeiro)

    1933 – Exposição Individual da artista

    1950 – Exposição “Tarsila 1918-1950”

    PUBLICAÇÕES IMPORTANTES:

    1953 - Sérgio Milliet, coleção “Artistas Contemporâneos no. 4”, organizada pelo MAMSP: texto de apresentação fala da estadia parisiense de Tarsila, onde ele e a artista se conhecem em 1923. Milliet fala das aproximações cubista e surrealista de Tarsila.

    - É a própria artista que diz que esta obra é “pré-antropofágica” e lembra que um dos desenhos para ela serviu de ilustração do poema “La Formose” de Blaise Cendrars (sobre sua viagem ao Brasil, em 1924).

    - Tarsila menciona, em seu texto “Pintura Pau Brasil e Antropofagia” (Revista Anual do Salão de Maio, no. 1, SP, 1939) que a “Negra” precede a pintura pau Brasil e fala que foi o crítico francês Waldemar George, em Paris (1928), que primeiro a vinculou à noção de antropofagia.

    Imagens referenciais para a obra:

    - Estudo para “A Negra”, coleção Mário de Andrade (IEB-USP) e Estudo para “A Negra”, Pinacoteca Municipal – CCSP

    - “A Caipirinha”, 1923, óleo/tela, coleção particular

    - Almeida Júnior, “Caipira picando fumo”, 1893, óleo/tela, Pinacoteca

    VER: Jorge Coli, “Obra em contexto”, jornal de divulgação da mostra “Arte Conceitual e Conceitualismo” (FIESP/SESI – Paulista), junho/agosto de 2002. [Programa Obra em contexto]

    Obras para visitar:

    Pinacoteca: as obras de natureza-morta, de Pedro Alexandrino.

    Masp:  “Retrato de Leopold Zborowski” (1916-1919), de Amedeo Modigliani.

  • AULA V - 2 DE SETEMBRO

    Vanguardas históricas: “Formas únicas e continuidade no espaço” de Umberto Boccioni e “Estrada de ferro central do Brasil” de Tarsila do Amaral (3º. Andar)

    Na quinta aula vimos as vanguardas históricas Expressionismo (Alemanha), Cubismo (França), Futurismo (Itália), Construtivismo (Rússia), Dadaísmo e Surrealismo. Tratamos, em particular, do futurismo e suas relações com o modernismo no Brasil.

    O futurismo se lança como uma experiência internacional, quando Filippo Tommaso Marinetti lança o Manifesto Futurista no jornal Le Figaro, em 1909, em Paris. As duas primeiras exposições futuristas também acontecem na capital francesa.

    Quando a vanguarda se lança no Brasil, este movimento já havia terminado no âmbito internacional. Annateresa Fabris propõe uma leitura do futurismo entre os modernistas paulistas, em que a estratégia marinettiana é lançada para legitimar o debate modernista no Brasil.

    Para tratarmos da questão da vanguarda, no Brasil e fora, analisamos as seguintes obras:

    Formas únicas e continuidade no espaço” de Umberto Boccioni.

    Estrada de ferro central do Brasil” de Tarsila do Amaral.

    Indicações de leitura:

    AMARAL, Aracy. Perfil de um acervo: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. São Paulo: Ex Libris, 1988. (Em especial os verbetes das obras que temos visto em aula, no espaço de exposição).

    BIROLLI, Zeno; PUGLIESE, Marina. Os gessos de Boccioni e as posteriores traduções em bronze (artigo). In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ESCULTURA MODERNA, 2012, São Paulo. Boletim... São Paulo: MAC USP, nov. 2012. Disponível em: <http://www.mac.usp.br/mac/conteudo/academico/boletim/pdfs/MARINA_PORT.pdf>.

    MAGALHÃES, Ana Gonçalves. Apresentação (apresentação completa). In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ESCULTURA MODERNA, 2012, São Paulo. Boletim... São Paulo: MAC USP, nov. 2012. Disponível em: <http://www.mac.usp.br/mac/conteudo/academico/boletim/pdfs/HOME_APRESENTACAO.pdf>.

    SILVA, Marina Barzon. Cronologias. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ESCULTURA MODERNA, 2012, São Paulo. Boletim... São Paulo: MAC USP, nov. 2012. Disponível em: <http://www.mac.usp.br/mac/conteudo/academico/boletim/cronologias.html>.

    SILVA, Marina Barzon. O tempo de Formas Únicas de Continuidade no Espaço (apêndice). In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ESCULTURA MODERNA, 2012, São Paulo. Boletim... São Paulo: MAC USP, nov. 2012. Disponível em: <http://www.mac.usp.br/mac/conteudo/academico/boletim/pdfs/APENDICE.pdf>.

    Tarsila do Amaral [apresentação de Sérgio Milliet]. São Paulo: MAM, 1953.

    Página principal do “Seminário Internacional de Conservação de Escultura Moderna”: <http://www.mac.usp.br/mac/conteudo/academico/boletim/conteudo.html>.

    Obras para visitar:

    Masp: “O atleta” (“Busto de homem”) (1909), de Picasso.

    Masp:A Compoteira de Peras” (1923), de Fernand Léger.

  • AULA VI - 16 DE SETEMBRO

    O ambiente do chamado “Retorno à Ordem”: “Autorretrato” de Alberto da Veiga Guignard e visita à exposição “Classicismo, realismo, vanguarda: pintura italiana do entreguerras” (5º. andar)

    Na sexta aula conhecemos o ambiente do chamado “Retorno à Ordem”, ou seja, o retorno do classicismo. Todavia, este movimento não é propriamente um retorno, mas uma reformulação da arte que correspondeu ao novo momento fundamentado na tradição. Neste contexto, o grupo Novecento, fundado em 1922 pela crítica Marguerita Sarfatti, pretendeu resgatar e promover a identidade nacional italiana.

    Ademais, vimos a relação do Brasil com este período: artistas como Portinari, Di Cavalcanti, Milton da Costa (do Rio de Janeiro), Paulo Rossi Osir e aqueles ligados ao grupo Santa Helena circulam no ambiente italiano nos anos 1930.

    Sobretudo no que diz respeito à promoção do Grupo Santa Helena, isto coincide com o momento em que havia um desejo de Mário de Andrade e de Sérgio Milliet em institucionalizar a arte moderna através da criação de um museu. Este programa tem início com a criação da  biblioteca municipal de São Paulo (1925), do departamento de cultura do município de São Paulo (1935) e do atual IPHAN (fundado como SPHAN, em 1937).

    Para tratarmos deste assunto visitamos a exposição “Classicismo, realismo, vanguarda: pintura italiana do entreguerras” que teve por objetivo exibir as primeiras obras que deram origem ao acervo do antigo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).

    Entre as obras da exposição que vimos com mais detalhes estão:

    “A advinha”, de Achille Funi (1924)

    “Os pescadores”, de Mario Sironi (1924)

    “Gladiadores com seus Troféus”, de Giorgio de Chirico (1930/31)

    “Oceano Indiano”, de Scipione [Gino Bonichi] (1930)

    “Autorretrato”, de Alberto da Veiga Guignard (1931), pintor brasileiro com práticas artísticas ligadas ao ambiente da Itália.

    Para Sarfatti, os artistas que melhor representam o Novecento italiano são Funi e Sironi.

    Indicações de leitura:

    MAGALHÃES, Ana Gonçalves. Classicismo, realismo, vanguarda: pintura italiana no entreguerras. São Paulo: MAC USP/PRCEU, 2013.

    MAGALHÃES, Ana Gonçalves. Exposição “Classicismo, Realismo, Vanguarda: Pintura Italiana no Entreguerras” (palavra da curadora). São Paulo: MAC USP, 2013. Disponível em: <http://www.mac.usp.br/mac/EXPOSI%C7OES/2013/italiana2/curadora.htm>.

    MAGALHÃES, Ana Gonçalves et alli. Exposição “Classicismo, Realismo, Vanguarda: Pintura Italiana no Entreguerras” (verbetes). São Paulo: MAC USP, 2013. Disponível em: <http://www.mac.usp.br/mac/EXPOSI%C7OES/2013/italiana2/verbetes.htm>.

    Página principal da exposição “Classicismo, Realismo, Vanguarda: Pintura Italiana no Entreguerras”. São Paulo: MAC USP, 2013. Disponível em: <http://www.mac.usp.br/mac/EXPOSI%C7OES/2013/italiana2/home.htm>.

  • AULA VII - 23 DE SETEMBRO

    Abstracionismo e Figurativismo: “Composição” de Fernand Léger e “Árvores à beira-d'água” de Jean Bazaine (6º. andar)

    Na sétima aula abordamos as noções de abstracionismo, arte que não imita o mundo, e figurativismo, isto é, na arte que se baseia ainda no modelo natural. Neoplasticismo (Mondrian) e pintura não-objetiva (Malévitch) são equivalentes para o termo abstracionismo. Alguns artistas de destaque da experiência abstrata são Wassily Kandinsky, Paul Klee, Piet Mondrian e Kazimir Malévitch.

    Tratamos também dos desdobramentos das experiências abstratas ligadas ao construtivismo e à Bauhaus, que na década de 1930 deram origem a grupos como o Cercle et Carré e Abstraction Création, e o movimento de Arte Concreta. 

    No caso do Brasil, marca-se a chegada das experiências abstratas com a mostra inaugural do antigo MAM de São Paulo, "Do figurativismo ao abstracionismo" (1949), e as exposições de Alexander Calder (MASP, 1948) e Max Bill (MASP, 1950), no Brasil.

    Vimos as obras “Composição” de Fernand Léger (1938), proveniente da doação de 1946 de Nelson Rockefeller e que apresenta uma incidência do surrealismo, e o óleo sobre cartolina “Árvores à beira-d'água” de Jean Bazaine (1944), que resgata as obras de Picasso e Matisse.

    Para finalizar, falou-se sobre a atualização do acervo do antigo MAM que esteve em diálogo com o seu próprio tempo, isto é, as obras adquiridas representavam a arte de sua época.

    Obras importantes:

    Consultar no site do MoMA (http://www.moma.org/explore/collection/index) os sete desenhos à guache de Fernand Léger:

    Study for Cinematic Mural, Study I (1938-39)

    Study for Cinematic Mural, Study II (1938-39)

    Study for Cinematic Mural, Study III (1938-39)

    Study for Cinematic Mural, Study IV (1938-39)

    Study for Cinematic Mural, Study V (1938-39)

    Study for Cinematic Mural, Study VI (1938-39)

    Study for Cinematic Mural, Study VII (1938-39)

    Indicações de leitura:

    CAT. EXP. Fernand Léger, relações e amizades brasileiras. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2009.

    CAT. EXP. Do figurativismo ao abstracionismo. São Paulo: Museu de Arte Moderna, 1949. [Ver em especial o texto de Léon Dégand]

  • AULA VIII - 30 DE SETEMBRO

    REVISÃO

    1- Moderno, Modernidade, Modernismo

    • a partir de Eric Hobsbawm: conjunto de atitudes e elementos de inovação “formal” que anteciparam os acontecimentos – vanguarda; importância de sua relação com os meios de comunicação (disseminação das formas modernistas)

    • tempos cronológicos diferentes:

    moderno – Idade Moderna e termo usado desde, pelo menos, o século XVI para designar aquilo que é relativo aos modos/hábitos contemporâneos

    modernidade – instaurada com a revolução francesa e a revolução industrial, século XIX

    modernismo – relativo à virada formal/ideológica das vanguardas; para a história da arte: dos anos 1890 até anos 1950.

    OBRAS VISTAS: Amedeo Modigliani, “Autorretrato” (1919) e Tarsila do Amaral, “A negra” (1923)

    2- Bidimensionalidade e Vanguarda

    • a partir do texto de T.J.Clark: “flatness” como sinônimo de vanguarda e de modernismo; a afirmação da superfície plana da tela que refletiria o elemento “popular” da arte, sua “honestidade”, sua relação com produtos dos meios de comunicação; a uniformidade do olhar/forma do nosso conhecimento sobre as coisas

    • Vanguardas: experiências artísticas do início do século XX (sobretudo as duas primeiras décadas) e que foram tomadas como paradigmáticas para a definição de arte moderna

    OBRAS VISTAS: Umberto Boccioni, gesso de “Formas únicas de continuidade no espaço” (1913) e Tarsila do Amaral, “Estrada de ferro Central do Brasil” (1924)

    3- Institucionalização da Arte Moderna

    • a incorporação paulatina e a posteriori da produção modernista nos museus

    • as mostras de arte moderna: Bienal de Veneza, Bienal de São Paulo e Documenta de Kassel X Exposição de Arte Degenerada

    • a criação dos museus de arte moderna e seus critérios: MoMA, MAM-SP e MAM-RJ

    4- Modernismo no Brasil

    • a partir de Annateresa Fabris: como ela trabalha com a definição de vanguarda para falar de um fenômeno de vanguarda no Brasil

    • Semana de 22: modernismo = futurismo; estratégia vanguardista

    • a partir dos seminários dos textos de Mário de Andrade e Mário Pedrosa

    • figurativo e alegórico

    • identidade nacional

    • embate São Paulo x Rio de Janeiro

    5- “Retorno à Ordem” e as acepções de Realismo e Classicismo

    • Realismo e Pintura Social: desde Courbet, no século XIX

    • Realismo e retomada dos valores clássicos da tradição artística: ambiente do chamado “Retonro à Ordem”

    OBRAS VISTAS: Achille Funi, “A adivinha” (1924) e Alberto da Veiga Guignard, “Autorretrato” (1931)

    6- Abstracionismo e Figurativismo

    • as primeiras experiências de abstração, na década de 1910: Kandinsky, Malévitch, Mondrian e Klee

    • a introdução do debate sobre a abstração no Brasil: exposição “Do figurativismo ao abstracionismo”

    • abstracionismo “híbrido” - entre figuração e abstração: experiências de Matisse e Picasso para a produção da década de 1940: referências ao cubismo, ao surrealismo e ao impressionismo

    OBRAS VISTAS: Fernand Léger, “Composição” (1938) e Jean Bazaine, “Árvores à beira-d'água” (1944)

    PROJEÇÃO:

    Discutimos, a partir das imagens abaixo, a maneira através da qual os artistas “atualizam” a tradição artística:

    • Num primeiro momento, Édouard Manet assim procede ao trabalhar com uma técnica de pintura entendida como moderna (achatamento dos planos, pinceladas aparentes, constrastes de claro e escuro sem passagens de modelação), aliada à atualização do conteúdo da representação (as figuras do “Almoço na relva” que são personagens da vida moderna)

    • Num segundo momento, o gesto de Manet é retomado pelos artistas das gerações seguintes, para reatualizá-lo e para afirmar a arte moderna como uma nova tradição da arte

    SLIDE 1: Giorgione, “O concerto campestre”, 1508-9, Musée du Louvre; Marcantonio Raimondi (cópia de Rafael), divindades fluviais – detalhe de “O julgamento de Páris”, 1514-18, British Museum; Édouard Manet, “O almoço na relva”, 1862-63, Musée d'Orsay, Paris.

    SLIDE 2: Claude Monet, fragmentos de “O almoço na relva”, 1865-66, Musée d'Orsay, Paris; Pablo Picasso, “O almoço na relva ('d'après Manet'”, 1960; Alain Jacquet, “O almoço na relva”, 1964, Centre Georges Pompidou, Paris.

    No caso do Brasil, essa ideia de “atualização” também pode ser observada, e vem aliada à “invenção” de uma tradição local – que foi o que vimos no exemplo do slide 3

    SLIDE 3: Jean-Baptiste Debret, “Negra tatuada vendendo caju”, 1927, gravura; Anita Malfatti, “Tropical”, 1918, Pinacoteca do Estado de São Paulo.

    Exercício de análise – obras propostas:

    SLIDE 4: Lasar Segall, “Morro vermelho”, 1926, coleção particular; Emiliano di Cavalcanti, “Samba”, 1925, coleção Boghici, RJ.

  • AULA IX - 7 DE OUTUBRO

    ATENÇÃO: esta aula ocorrerá no 7º andar, às 09h00.

    Expressionismos: “A boba” de Anita Malfatti e “Autorretrato” de Marc Chagall (7º. andar)

    Primitivismos; visita à exposição “José Antônio da Silva em dois tempos”

    Expressionismo

    O expressionismo surge com traços do pós-impressionismo de Vincent van Gogh e de Paul Gauguin, como a composição da luz, o resgate de técnicas tradicionais da gravura, e a cor que adquire caráter simbólico e dimensão subjetiva. Neste mesmo período em que a psicanálise é inventada, as paisagens e figuras deixam de captar o instante e passam a ser quase o estado psíquico do artista – principalmente a partir da experiência de Van Gogh. No cinema, o expressionismo é caracterizado pelo contraste claro-escuro e a intensificação da expressão dos atores.

    Este movimento, no Brasil, se reflete na arte de Lasar Segall e, por exemplo, na pintura “A boba” (1915-1916) de Anita Malfatti, realizada depois da experiência da artista, primeiro na Alemanha, e depois nos EUA. Esta obra não remete à ideia de naturalismo e sua composição e volume, assim como em “Autorretrato” (1914) de Marc Chagall, são construídos a partir da pincelada da cor.

    Há ainda o expressionismo abstrato norte-americano e o neoexpressionismo (transvanguarda) nos anos 1980.

    Primitivismo

    O primitivismo está associado à descoberta da arte tribal africana. Também são apreendidos como “primitivas” as formas produzidas por paciente mentais, por crianças. Em senso mais alargado, “primitivo” seria “o outro” (ver texto Antliff e Leighten).

    Para contextualizá-lo visitamos a exposição “José Antônio da Silva em dois tempos”. José Antônio foi um artista autodidata, “descoberto” em São José do Rio Preto por Lourival Gomes Machado, entre 1946 e 1947. Dali suas obras vão para a Galeria Domus, para a I Bienal de São Paulo e para a Bienal de Veneza; e também são adquiridas por Pietro Maria Bardi, enquanto diretor do Masp.

    A exposição no MAC USP aponta dois momentos do artista, tendo em vista as coleções das quais as obras são provenientes: a de Francisco Matarazzo Sobrinho (1948 e 1952) e a do crítico de arte e psicanalista Theon Spanudis, a partir de 1953.

    Vimos, em especial, duas obras, “A chuva” (1948), da coleção Matarazzo, cujo tratamento da imagem é mais espontâneo, e “A tempestade” (1957), da coleção Spanudis, obra que não apresenta uma narrativa e que possui tratamento gráfico, no qual Spanudis via evidências do que ele chamou de um “construtivismo brasileiro”, ligado  à  experiência da abstração geométrica nos anos 1950 no Brasil. 

  • AULA X - 14 DE OUTUBRO

    Surrealismo, pintura metafísica e suas apropriações: “Enigma de um dia” de Giorgio de Chirico, “Germinação” de André Masson e “Figura” de Ismael Nery” (7º. Andar)

    O surrealismo é uma resposta à experiência futurista e surge do questionamento da racionalidade da arte e da influência da psicanálise e da filosofia moderna, sobretudo de Nietzsche. De Chirico, nascido na Grécia e com formação em Munique, é considerado o precursor deste movimento, do qual participam, entre outros, seu irmão Alberto Savinio e Carlo Carrà. Em sua obra Enigma de um dia(1914), que pertenceu à coleção de Oswald de Andrade e possui uma versão no MoMA (no total são cinco versões), tudo é estático e há o uso de formas chapadas e em terceira dimensão. Apollinaire é o primeiro a usar o termo metafísicopara o trabalho de De Chirico, arte esta que não possui vínculos com qualquer realidade natural ou histórica [...] Não tem finalidades cognitivas nem práticas, não tem qualquer função(ARGAN, 1992, p.372).

    Interessado no processo de criação humana, André Breton tinha fascínio pelas teorias freudianas e pela arte do inconsciente, com isso, deu a conhecer a escrita e o desenho automático, do qual podemos tomar como exemplo a Série trágicade Flávio de Carvalho.

    No dadaísmo participaram artistas e poetas, como Hans Arp e Tristan Tzara que originaram o círculo de discussão Cabaré Voltaire. Em 1920, em Berlim, ocorreu a Mostra Dada. O termo dadasignifica negação, o que supõe uma arte esvaziada de conteúdo, questionando a própria arte. Este movimento faz uso de técnicas como fotomontagem e colagem e incorpora elementos do dia-a-dia, em vez dos tradicionais. Assim, chega a ser visto como não-arte, por considerar que os artistas nada inventam. No Brasil, o artista Jorge de Lima é identificado com este movimento.

    Associadas ao surrealismo estão o guache sobre papel Germinação(1942) de André Masson, artista exilado na zona rural de New Preston nos Estados Unidos, e Figura(c.1927-1928) do brasileiro Ismael Nery, obra com carga melancólica e formas sobrepostas.

    Indicações de leitura:

    • Biblioteca digital de teses e dissertações da USP (BDTD): Thiago Gil de Oliveira Virava, "Uma brecha para o surrealismo: percepções do movimento surrealista no Brasil entre as décadas de 1920 e 1940", ver introdução e capítulo 1. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27160/tde-14112012-223853/pt-br.php>.
    • Eduardo Subirats, "Do surrealismo à Antropofagia" In: Jorge Schwartz (org.). Da Antropofagia a Brasília. São Paulo: Cosac Naify, 2002.
    • CHIPP, Herschel Browning. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1988. Ver o capítulo sobre o surrealismo, o dadá e a pintura metafísica, p. 371-461.
  • Aula cancelada - 21 DE OUTUBRO

    Arte Concreta: “Unidade tripartida” de Max Bill (térreo) e “Figuras sobre uma estrutura” de Joaquín Torres García (7o. andar) - Cancelada

  • AULA XI - 4 DE NOVEMBRO

    Colagem e assemblage: “Duke Size” de Kurt Schwitters e “Ídolo hermafrodita” de Edoardo Paolozzi (6o. andar)

    Foram apresentados em aula três procedimentos baseados no Cubismo, no Dadá e no Construtivismo que pretenderam romper e destruir com aqueles tradicionais, em uma espécie de “retorno” das práticas vanguardistas.

    Tais procedimentos são a colagem em “destruição à pintura”, a assemblage no lugar da escultura e o ready-made (termo originado de prêt-à-porter e que significa pré-fabricado) que rearranja o que já existe, motivo pelo qual a crítica mais conservadora diria que o ready-made, por exemplo, não é um trabalho de arte. Contudo, o gesto do artista está na ideia e não exatamente na obra produzida, como em “A fonte” (1917) de Marcel Duchamp.

    Neste momento são utilizados materiais como alumínio, acrílico, plástico e resinas, além de mecanismos motorizados, portanto há uma interação entre arte e indústria observada em “Ídolo hermafrodita” (1962) de Eduardo Paolozzi. Ele é associado à geração de artistas que promoveram o Pop na Inglaterra. Devido à técnica utilizada, Paolozzi opera suas obra em escala doméstica e produz objetos únicos que não são possíveis de serem reproduzidos.

    “Ídolo hermafrodita” juntamente com “Expansão controlada” (1967) de César Baldaccini são expostas na galeria do MAC USP a partir de 1968, por Walter Zanini,  enquanto diretor do museu, em substituição à obra então em exposição de Max Bill, escolha que pode ser entendida como aquela que marca a virada do moderno para o contemporâneo na arte.

    Para ilustrar o procedimento de colagem, vimos “Duke Size” (1946) de Kurt Schwitters que mantém a mesma característica da obra Paolozzi, isto é, a não reprodução. Schwitters, que estudou em Berlim e Dresden, cria uma nova categoria de arte denominada Merz; em 1947, o Merz Barn (Merzbau) é reconstruído pelo MoMA. Suas práticas são redescobertas pelos artistas dos anos 1960.

    Links:

    - Picasso. Link do MoMA. Disponível em: <http://www.moma.org/interactives/exhibitions/2011/picassoguitars//picassos-studio/01.php>.

    - Kurt Schwitters. Link do MoMA. Disponível em: <http://www.moma.org/explore/inside_out/2012/07/09/in-search-of-lost-art-kurt-schwitterss-merzbau>.

    - Link  sobre artistas mulheres ligadas ao Dadá. Disponível em: <http://flavorwire.com/485924/10-female-dadaists-you-should-know/>.

    Indicações de leitura:

    • PEDROSA, Mário."Colagens cubistas, colagens dadaístas" In: Modernidade cá e lá, vol. 4. São Paulo: Edusp, 2000, pp. 243-246. (anexo)
    • SCHMALENBACH, Werner. "Prefácio" cat. Kurt Schwitters. VI Bienal de São Paulo. São Paulo: Consulado Geral da Alemanha, 1961. (anexo)
    • MAGALHÃES, Ana. [Verbete inédito sobre a obra do Schwitters preparado para um volume da série MAC Essencial, org. Tadeu Chiarelli]. (anexo)
     
  • AULA XII - 11 DE NOVEMBRO

    Informalismos: “Cabeça trágica” de Karel Appel e “Composição” de Pierre Soulages (6o. andar)

    O informalismo está relacionado à abstração não-geométrica e à noção de gesto. De um lado, há a França com as experiências desta abstração e, do outro, os EUA com o expressionismo abstrato, defendido Clement Greenberg,

    As vertentes da abstração não-geométrica são a Art Brut (arte bruta) que envolve a pesquisa sobre os não-artistas, a arte do inconsciente e os desenhos infantis; a Art Informel (arte informal) e o Tachismo, que reforçam o registro do processo do fazer e não somente do objeto acabado.

    Os grupos deste período são o Situacionismo internacional, o Acionismo vienense, o Fluxus (entre aproximadamente 1955 e 1956, que utiliza-se de performance) e o grupo CoBrA (junção dos nomes Copenhague, Bruxelas e Amsterdã). Este reivindica uma nova cultura, tendo na cor e no gesto sua melhor expressão. É uma referência importante para as gerações futuras e tem como expoentes Karel Appel, Asger Jorn, Corneille e Pierre Alechinsky.

    No Brasil, o informalismo (abstração lírica) chega na década de 1950, destacando-se nomes como os de Antônio Bandeira, Iberê Camargo e Yolanda Mohalyi. Neste contexto são importantes as Bienais de 1957 e 1959 com a proliferação das tendências estrangeiras de abstração não-geométricas.

    Na galeria do MAC USP vimos “Cabeça trágica” (1957) de Karel Appel – obra feita sem pincel, que não possui um projeto ou um estudo preliminar, e na qual a combinação de cores é muito importante, trata-se de um trabalho que reivindica uma pintura essencialmente humana – e “Composição” (1959) de Pierre Soulages, produzida a partir de raspagens horizontais e verticais feitas com espátula. “Claudius” (1986), de Gerhard Richter, pode ser entendida como uma espécie de paródia das obras dessa geração, uma vez que a ideia do gesto é estetizada, por assim dizer.

    Indicações de leitura:

    - FERNANDES, Ana Cândida F. de Avelar. O informalismo no Brasil: Lourival Gomes Machado e a 5ª Bienal Internacional de São Paulo. In: VII Encontro de História da Arte. Unicamp, 2011, p. 31 - 40. (em anexo)

    - READ, Herbert. História Concisa da Pintura Moderna, cap. 7. São Paulo: Martins Fontes

    - ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna, “O Debate Artístico na Europa” (p. 534 e ss.)

    Link:

    - Coleção Savitsky. Disponível em: <http://www.savitskycollection.org/>. (Documentário)

  • AULA XIII - 18 DE NOVEMBRO

    Arte Concreta: “Unidade tripartida” de Max Bill e “Figuras sobre uma estrutura” de Joaquín Torres García (3o. e 7o. Andares) – com profa. Heloísa Espada

    O conceito de arte concreta é utilizado em 1930, quando o artista e agente cultural Theo van Doesburg (também editor da Revista De Stijl) propõe, por meio de manifestos, uma verdade absoluta da visualidade que se apoia na autonomia da obra – que implica em uma arte pura, livre de qualquer figuração – e na universalidade.

    A arte concreta pode ser vista como uma derivação da arte abstrata geométrica e há nela um desejo de harmonia que transcende a visualidade. Com isso, a matemática mostra-se importante no que se refere à elaboração do pensamento abstrato como em “Composição aritmética” (1929-1930) de van Doesburg, em que esta lógica matemática rege a organização dos espaços. Em algumas obras, nota-se também o uso da teoria da percepção denominada Gestalt.

    Em Paris, as ideias de van Doesburg foram disseminadas pelo Cercle et Carré (Círculo e Quadrado), um dos grupos do período, que durou menos de um ano e seus componentes não se identificavam com o Surrealismo e com o Retorno à ordem. Um dos fundadores do grupo foi o uruguaio Joaquín Torres García que produziu nesta fase “Figuras sobre uma estrutura”, uma cena de rua composta com paleta de meios-tons. Já o grupo Abstração-Criação formou-se a partir do grupo anterior aliado a alguns dos integrantes do De Stijl.

    Max Bill, ex-aluno da Bauhaus e artista importante para a América do Sul e para a Suíça, foi o principal propagador das ideias de Theo van Doesburg. Sua obra “Unidade tripartida”, peça única, esteve em exposição no Masp em março de 1951 e no mesmo ano participou da 1ª Bienal de Arte de São Paulo, sendo ali premiada. A obra, feita de aço inoxidável e cujo processo de produção é desconhecido, é considerada emblema da união entre arte e indústria.

    No Brasil, o termo arte concreta consolida-se em 1950. Nesta época, o Masp e o antigo MAM estavam situados no mesmo edifício, próximo da Biblioteca Municipal de São Paulo. Eram nestes lugares que ocorriam discussões entre os artistas da cidade. No ambiente nacional, destacam-se o grupo Frente, do Rio de Janeiro que teve Ivan Serpa e Abraham Palatnik como membros, e o grupo Ruptura em São Paulo, do qual participaram Geraldo de Barros e Waldemar Cordeiro. Para esses artistas – nacionais e estrangeiros, a arte é entendida como uma forma de produção de conhecimento.

    Indicações de leitura:

    AMARAL, Aracy (supervisão, coord. geral e pesquisa). Projeto Construtivo Brasileiro na Arte: 1950 – 1962.  Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna; São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1977. [Ver textos do Theo van Doesburg e do Mondrian].

    FABRE, Gladys & HÖTTE, Wintgens. Van Doesburg and the international avant-gard: constructing a new world. London: Tate Publishing, 2009.

    FERRAZ, Geraldo. "Uma página anterior (Max Bill, Pintor, Escultor e Arquiteto no Museu de Arte)". O Jornal, Rio de Janeiro, 23 maio 1951.  In: FERRAZ, Geraldo. Retrospectiva: figuras, raízes e problemas da arte contemporânea. São Paulo: Cultrix; Editora da Universidade de São Paulo, 1975.

    MARAR, Ton. Max Bill e a Matemática ou Brevíssima introdução à classificação topológica das superfícies como recurso para um outro nível de compreensão da "Unidade Tripartida". São Carlos, SP: 2003. (anexo).

    SEUPHOR, Michel. L’art abstrait 1918 – 1938. Paris: Maeght Editeur, 1972.

  • AULA XIV - 25 DE NOVEMBRO

    Revisão para a prova

  • AULA XV - 02 DE DEZEMBRO

    PROVA SEMESTRAL

    Orientações para a avaliação final: 

    • A prova será composta por 5 questões dissertativas, o aluno deverá escolher e responder a 4 delas. Observação: haverá uma questão referente à análise comparativa de obras (no formato do exercício aplicado em aula) que será obrigatória.
    • Estudar as obras vistas nas galerias do MAC USP.
    • A prova pretende avaliar o conhecimento de arte moderna adquirido pelo aluno, em uma abordagem panorâmica.
    • Respostas da prova à caneta.
    • Sem consulta.