As comissões do Senado Federal também discutem temas de interesse da população. Um deles é um problema prático no controle do mormo (falsos positivos). Neste vídeo, vocês podem ver a Epidemiologia em ação, no mundo real. Algumas considerações sobre o vídeo (com os tempos indicados):
00:00 - 3:50 - Panorama geral sobre mormo (zoonose causada pela bactéria Burkholderia mallei, cujos reservatórios são equídeos)
Apresentação dos participantes (produtores e Dr. Guilherme Marques, chefe do DSA)
03:51 - 6:44 - Depoimento de Flávio Obino Filho (Presidente da Câmara Setorial de Equideocultura do MAPA)
Sobre a frase ”diretrizes nacionais e Estados fazem o que querem”: MENTIRA (MAPA determina políticas e delega competência para os Estados, seguindo a política nacional)
Estados não podem fazer menos que a regra nacional, mas podem exigir controles além desses
Para o trânsito, é necessário teste diagnóstico junto com GTA
06:45 - 8:19 - Descrição dos problemas com a maleína (teste de hipersensibilidade com a aplicação de maleína na pálpebra, se animal estiver infectado, haverá inchaço dos olhos em 48h, com secreção e conjuntivite)
08:20 - 14:38 - Defesa do Western Blot (WB) (teste de biologia molecular e bioquímico, anteriormente utilizado para confirmação do mormo) como prova confirmatória
Argumentação confusa do proprietário: critica o protocolo diagnóstico, judicializaria, mas diz que não podemos deixar o mormo sair do controle?!
Sobre a maleína: antigamente, triagem era feita com fixação de complemento (FC) e maleína como confirmatória; problema da maleína é que a reação de imunidade celular, eventualmente pode ser devida a uma reação cruzada (Streptococcus equi, por exemplo), gerando falsos positivos; vantagem da maleína é a falta de necessidade de rede de frio, apropriado para países pobres
Judicialização: normativa diz que animal positivo deve ser eutanasiado; a demora não é culpa do SVO, mas da Justiça
Estruturação dos SVO: o atendimento às propriedades eventualmente é lento, mais ainda nos Estados onde a equideocultura (ou a pecuária) não seja prioritária (poucos veterinários); custo do envio das amostras também é elevado; quando teste é exigido para transito, a demanda é enorme (o diagnóstico deveria que ser o mais rápido possível, para evitar perdas econômicas)
Se o sistema oficial não tiver capacidade, SVO deveria habilitar laboratórios privados (padronizações por ISOs e auditoria por uma companhia terceira)
WB: começou a ser exigido no Brasil, mas por problema de gestão do PNSE, pois o teste era importado, começou a faltar
Revolta dos produtores de equinos (a mesma coisa com leishmaniose)
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16:29 - 28:29 - Depoimento de Sophia Baptista de Oliveira (Agropecuária Maripá): compila resultados de testes na sua propriedade
Preocupação não é com a sensibilidade (como ela fala), mas o VPP (que só é possível ser avaliado se a prevalência for conhecida)
VPP do WB no Nordeste é diferente da interpretação no Sul e Sudeste, por exemplo
Ela se refere à (baixa) especificidade, quando fala de reações cruzadas
Estudos de prevalência, estudos observacionais, sistema de vigilância e fatores de risco seriam necessárias
Vocês têm capacidade de argumentar (mo MAPA tem?)
Pensem em uma argumentação técnica robusta para se livrarem, por exemplo, de ações judiciais
Sobre o “twinning program”: não precisamos disso, pois para validar diagnósticos, há outras formas (certificações ISO, submissão à avaliação internacional - OIE manda painel de soros sem dizer quais os positivos e negativos, depois se verifica o número de acertos)
Transporte correto da amostra: ela está correta, por isso a coleta é oficial
Por isso se faz somente UMA coleta (garantia da repetibilidade), se forem coletadas outras amostras, podem ser introduzidas outras variáveis que podem alterar o resultado (até mesmo a Justiça não se admite re-coleta, mas sim a contra-prova, ou seja o mesmo teste com a mesma amostra)
Testes com diagnósticos discrepantes da potra: não existe prova diagnóstica perfeita (o objetivo de um programa é um e do indivíduo, outro - sempre vai haver sacrifício de animais sadios, o que se busca é minimizar isso, portanto isso deve ser pactuado com os produtores)
A Epidemiologia é pouco considerada nos programas, além disso a formação em Epidemiologia no país é parca (microbiologistas vindo falar de mormo…)
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51:27 - 54:36 - Depoimento de Simone Matheus Pongitore (Haras 4 Irmãos - SP): contra a interdição do haras
Comentários lamentáveis do Senador Otto Alencar (BA), criticando o Dr. Guilherme Marques
Como o SVO é encarado como inimigo pelos produtores (sendo que os protege)
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1:14:12 - 1:17:15 - Depoimento do Dr. Guilherme Marques (Chefe do DSA)
Sensibilidade do sistema de vigilância: capacidade do sistema de encontrar doentes
1:17:15 - 1:19:48 - Depoimento do Dr. Guilherme Marques (Chefe do DSA)
Comunicação de risco: deve ser pactuada com os produtores (deve ser demonstrado o custo do andamento do programa)
1:19:48 - 1:28:44 - Depoimento do Dr. Guilherme Marques (Chefe do DSA)
Apesar de não calculada, “se todos os positivos fossem falso positivos, ainda assim a especificidade da prova seria elevada” (isso deveria ser expresso de uma forma mais clara: faltam estudos de prevalência e validação do teste diagnóstico no Brasil)
Classe dos produtores de equinos é diferenciado: testa constantemente, diferente de pequenos produtores (que não testam), se vitimiizando como alvo do SVO, enquanto a massa não era alvo (essa argumentação tem base, pois o programa tem problemas)
1:28:44 - 1:33:10 - Depoimento do Dr. Guilherme Marques (Chefe do DSA)
Dr. Guilherme não aborda a diferença de performance dos testes no Brasil e Alemanha (o teste deveria ser validado no Brasil)
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1:39:57 - 1:46:05 - Depoimento do Senador Ronaldo Caiado (GO): comentários sobre o SVO
Falta de conhecimento epidemiológico pelo MAPA
Questionamento do setor privado bem estruturado (pago)
Senadores fazendo comentários com viés político (todo programa sanitário tem um preço do erro)
As falhas tem que ser dimensionadas, para que o número de falso-positivos seja o menor possível e tudo isso seja pactuado com o setor produtivo
Arcabouço legal protege o SVO legalmente, mas precisa-se de um desenho mais claro do programa
Tornar palpável a Epidemiologia, uma vez que essas discussões são relevantes, e porém mal endereçadas
O objetivo deste vídeo era expor vocês à Epidemiologia na vida real