Programação

  • Textos

  • Tópico 3

  • Cenário 1 - Motivação

    Zona de desconforto: quem madruga ganha ouro


    A conquista do Mundial poderia nos levar a armadilhas – leia-se acomodação. Oras, éramos campeões. Os Jogos Olímpicos de 2004 ainda estavam distantes. Havia tempo de preparação. Mas Bernardinho tratou de evitar qualquer coisa desse tipo. É mais um dos méritos dele em toda nossa geração – e, claro, de todo o grupo. Na manhã seguinte à conquista, já no aeroporto para voltar ao Brasil, estávamos todos felizes, descontraídos e querendo chegar logo em casa. Bernardo nos encontrou, reuniu o grupo inteiro e avisou que, em 2003, os treinos seriam antecipados em uma hora.  Ao invés de nove, entraríamos em quadra às oito. Ele nos tirou da zona de conforto – e criou o que chamou de zona de desconforto. Não havia o que fazer.

    Houve questionamentos.  Mas o “patrão”, como eu carinhosamente comecei a chama-lo, já estava decidido. Dali em diante, quando começávamos a achar que tudo estava indo bem, ele vinha com alguma novidade. Podíamos xingar, brigar, discutir. Mas tudo positivamente. Era isso que mantinha nossa motivação.  Era o que me fazia, quando acabava um campeonato, apoiar na rede e pensar: “E agora?”.  Com o tempo aprendi a controlar isso. E, nós mesmos, quando víamos tudo dando certo, mexíamos em algo. Brincávamos que, se tudo estava bem, algo estava errado. Era hora de mudar.  A cada vitória, a cada título, teríamos de treinar mais, pois os outros vinham com tudo para cima da gente.  É o preço que se paga por estar no topo.

    Fonte: Giba & Montes, L. P. Giba Neles! (2015). Porto Alegre: Editora Globo.


    QUESTÕES


    1) “Era isso que mantinha a minha motivação.” Quais foram os fatores que Giba identificou como sendo responsáveis pela manutenção de sua motivação? Qual teoria melhor explicaria esse processo?

    2) De que maneira a ação do técnico Bernardinho, em antecipar o horário do treino, poderia contribuir para o desenvolvimento da motivação? Fundamente sua resposta nas “diretrizes para desenvolver a motivação”.

    3) Como o aumento da carga de treino poderia contribuir para a motivação, segundo a Teoria da Atribuição?

    4) Além de aumentar o tempo de treino, quais outros métodos para ajudar a desenvolver a motivação dessa equipe de vôlei poderiam ser utilizados? Justifique sua resposta relacionando-a com as indicações oferecidas por Weinberg & Gould (2008).

    ATENÇÃO!

    Por favor, identifiquem o grupo tanto no nome do arquivo quanto no próprio arquivo.

    Exemplo de título do arquivo: Cenário 1- Motivação_ GRUPO A

    Apenas uma postagem por grupo.

    Coloquem os nomes dos membros do grupo no arquivo.



  • Cenário 2: Ativação, Estresse e Ansiedade

    O ÚLTIMO SALTO

    O estádio do Engenhão está em festa. Esta é mais uma noite em que o jamaicano Usain Bolt competirá nos Jogos Olímpicos do Rio. Lotação máxima. Simultaneamente ocorre a final do salto em distância. São dois os atletas favoritos a se tornar o campeão olímpico daquela edição, o sul africano Luvo Manyonga e o norte americano Jeff Henderson, que disputam o ouro centímetro a centímetro. Eles chegam ao penúltimo salto e o resultado ainda está indefinido. A decisão ficará para a última tentativa. Torcida e comentaristas notam a nítida diferença de postura entre Jeff e Luvo, que se comportavam de maneiras bem distintas durante a prova. Luvo demonstrava estar super concentrado e parecia não comemorar seus bons saltos. Já Jeff comemorava cada marca como uma vitória, tentava levantar a torcida a cada salto. O que passaria pela cabeça dos dois naquele momento decisivo? Luvo mantêm o fone de ouvido, tenta controlar a situação evitando se preocupar com o resultado, pois sabe que isso pode deixá-lo nervoso. Ele olha para Jeff como quem pensa: “Ele vai perder o controle, pois essa euforia é traiçoeira”. Jeff, por outro lado, parecia inquieto, a tensão da competição refletindo-se em seu corpo: frequência cardíaca elevada, mãos suando frio. Ele olha para o rival como quem pensa: “ Esse cara está apático – desse jeito não vai melhorar seu salto: onde está a adrenalina?!!”.

    QUESTÕES

    1.É possível dizer que um ou outro dos saltadores esteja estressado com base no relato do Cenário? Justifique.

    2. Com relação à ansiedade-traço e à ansiedade-estado, como se pode caracterizar as condições psicológicas de ambos os atletas?

    3. Como as explicações para as relações entre ativação e desempenho ajudam a compreender a diferença de conduta entre os saltadores? Será que a opinião que um atleta tem sobre o outro é adequada?

    4. Quais aspectos relativos ao modo de lidar com a ativação podem estar favorecendo ou prejudicando o desempenho dos atletas?

     


  • Cenário 3: Liderança

     Episódio Controverso

      Em dezembro de 2009, como resultado de sua trajetória vencedora até ali, o técnico de futebol Dorival Junior, chega ao Santos Futebol Clube com o apoio da diretoria para um projeto vitorioso em 2010. Nos anos anteriores surgira no Santos uma nova  geração de jogadores, cujos principais expoentes eram Ganso e Neymar. Foi contando com esses “garotos” e outros jogadores experientes como Robinho e Edu Dracena, que o Santos sagrou-se vencedor de dois campeonatos naquele ano, o Paulista e a Copa do Brasil. Mas foi outro episódio que chamou a atenção da mídia e dos comentaristas esportivos: a demissão do seu técnico no Campeonato Brasileiro.

            Meses antes, durante o Campeonato Paulista, o técnico ilustrou o bom momento do time em depoimento para o site Terra: "Nós estamos sabendo enfrentar qualquer situação e isso tem me deixado contente, pois mostra que o grupo tem assimilado a nossa filosofia de trabalho. Nada foi implantado ou colocado diretamente no elenco, pelo contrário. Tudo aqui é muito bem conversado e o resultado está aparecendo dentro de campo, com a boa campanha que estamos fazendo, já assegurando a classificação para fase final... Ainda é cedo para dizer se seremos campeões, porém, esses jogadores já merecem um reconhecimento de todos nós por tudo o que realizaram até aqui na competição“. Nada parecia poder abalar aquele grupo. Os números e títulos eram animadores. 

           Porém, durante um jogo contra o Atlético Goianiense o  jogador Neymar não aceita a negativa de Dorival Junior para bater um pênalti, responde e gesticula com desdém para o mesmo. Edu Dracena, capitão da equipe, dirige-se ao jogador exigindo outra postura e também é alvo de gestos indisciplinados, arrancando do técnico da equipe adversária o depoimento de que ali criavam um monstro. Dorival Junior pune o jogador com suspensão e essa atitude gera sua demissão. Os demais jogadores se solidarizaram com o técnico, tido como companheiro daquela “garotada”, mas a presidência  decide pela sua saída.

           Para o ex-volante santista Roberto Brum, “o Dorival precisava ganhar o comando do grupo, e isso só ia acontecer com a punição ao Neymar. O Dorival precisava ser respeitado. Ele é uma autoridade e o Neymar tinha que entender isso”. 

    O time perdeu o jogo seguinte, um clássico contra o Corinthians.

    Questões:

    1. O cenário permite identificar na conduta de Dorival Júnior  qualidades próprias aos estilos de liderança autocrático e democrático? Quais e em que momentos?

    2. Conforme o Modelo de Liderança de Mediação Cognitiva não apenas os fatores situacionais e os comportamentos manifestos devem ser considerados na compreensão da liderança. Valendo-se da manifestação de Roberto Brum, como a postura de Neymar pode ser interpretada com relação à orientação de liderança predominante de Dorival Junior?

    3. Como avaliar a relação entre o comportamento do líder e o desempenho e a satisfação dos personagens?

    4. A suspensão aplicada a Neymar pelo técnico pode ser compreendida como atitude de um líder ou de um instrutor? Por que?


  • Seminário 1: Motivação

  • Seminário 2: Ativação, Estresse e Ansiedade

  • Cenário 4: Estabelecimento de Metas

    Dois diários:  Malysse e Murakami

    MALYSSE: Sexta-feira, 27 de outubro de 2006.

    (…)Nunca senti a menor sensação agradável fazendo musculação.” (p. 76 e 77)

    MURAKAMI: 5 de agosto de 2005 – Kauai, Havaí.

    “Para seguir em frente, é preciso manter o ritmo. Isso é o mais importante em projetos de longo prazo. Assim que você estabelece o ritmo, o resto vem a reboque. O problema é conseguir fazer com que a roda fique girando a uma determinada velocidade – e chegar a esse ponto exige o máximo de concentração e esforço de que a pessoa é capaz” (p. 12).

    MALYSSE: Segunda-feira, 16 de abril de 2007.

    (…) Estética e saúde: dar-se prazer a si próprio, ter objetivos físicos e atingi-los, cultivar sua força… Eis aí elementos que parecem faltar ao meu personagem… Para mim, tudo está na cabeça e eu não consigo, de fato, me sentir bem com meus músculos… (p.117)

    MURAKAMI

    5 de agosto de 2005 – Kauai, Havaí.

    “Não me levam a mal – não sou totalmente anticompetitivo. Interesso-me muito mais por atingir os objetivos que fixei para mim mesmo, de modo que, nesse sentido, corridas de longa distância caem como uma luva para uma disposição de espírito como a minha. Mesmo que não consiga fazer o tempo que esperava, contanto que tenha o sentimento de satisfação de ter feito o seu melhor – e, possivelmente, ter feito alguma descoberta significativa sobre si mesmo no processo –, então isso é uma realização em si, um sentimento positivo que ele pode levar consigo para a corrida seguinte” (p. 15 e 16).

    “Apenas corro. Corro num vácuo. Ou talvez eu deva me colocar de outra forma: corro a fim de conquistar um vácuo. Mas, como seria de se esperar, um pensamento ocasional vai invadir esse vácuo. A cabeça de uma pessoa não consegue se manter um vazio completo. As emoções humanas não são fortes ou consistentes o bastante para sustentar um vácuo. O que quero dizer é que o tipo de pensamentos e ideias que invadem minhas emoções quando corro permanece subordinado a esse vácuo. Na falta de conteúdo, eles não passam de pensamentos aleatórios que giram em torno desse vácuo central. (...)E nós meramente acolhemos essa vasta expansão e nos deixamos embriagar. (p.21 e 22)

    MALYSSE: Terça-feira, 17 de abril de 2007.

    Mudar de corpo para mudar de vida? Decididamente, para mim, o problema não é de ordem teórica. O problema é que, quando estou na academia me pergunto o que estou fazendo lá. Minha imaginação nunca se estimula com os halteres. (...) Não sei nem por que estou nessa, nem se esse trabalho voltado para mim mesmo vai me mudar. Estou no teatro do absurdo do corpo sem músculos… (p.118)

    MURAKAMI: 14 de agosto de 2005 – Kauai, Havaí.

    “Largar o cigarro foi uma espécie de resultado natural de correr todo dia. Não foi fácil largar, mas não dava para continuar fumando e correndo ao mesmo tempo. O desejo natural de correr cada vez mais se tornou uma poderosa motivação para me impedir de voltar a fumar, e uma grande ajuda em superar os sintomas da abstinência. (p.39)

    “Quando estava na escola, não dava muita bola para as aulas de educação física, e sempre odiei o Dia do Esporte. Isso acontecia porque as coisas me eram impostas. Nunca suportei que me forçassem a fazer alguma coisa que eu não queria fazer, em um momento que eu não queria fazer.”(p.35)

    MALYSSE: Terça-feira, 24 de abril de 2007.

    Nunca gostei de fazer musculação. E, como não consigo, na prática, separar meu corpo dos meus pensamentos, morro de tédio no meio das repetições musculares. Eu permaneço colado aos aparelhos como uma mosca, o tempo todo batendo as asas do pensamento, sem mexer uma fibra. (...) Tentei muito me convencer de que eu poderia me recompor, malhar e me disciplinar, mas de qualquer forma, é preciso forçar… Encontro, sempre, uma forma de fugir. Não dá para se recompor, e eu acho que somente atividades físicas que assumem a ligação corpo-imaginação em movimento podem me seduzir. (p. 125 e 126)

    MURAKAMI: 14 de agosto de 2005 – Kauai, Havaí.

    (...) ter o tipo de corpo que ganha peso facilmente talvez seja uma benção disfarçada. Em outras palavras, se não quero engordar tenho de dar duro todo dia, prestar atenção no que como e cortar as extravagâncias. A vida pode ser difícil, mas, contanto que você não poupe esforços, seu metabolismo melhorará enormemente com esses hábitos, e você terminará muito mais saudável, para não dizer mais forte.” (p.41)

    “Quando conto para as pessoas que corro todos os dias, tem gente que fica muito impressionada. “Você deve ter uma tremenda força de vontade”, às vezes escuto. Mas não acredito que seja apenas força de vontade que capacite a pessoa a fazer alguma coisa. Creio que fui capaz de correr durante mais de vinte anos por um motivo simples: isso me cai bem. (...) Mas por mais determinada que seja a pessoa, por mais que possa odiar a idéia de perder, se não for uma atividade da qual realmente gosta, não vai continuar nela por muito tempo. Mesmo que o faça, não seria nada bom para a pessoa.” (p. 42 e 43)

    QUESTÕES

    1. No que se refere ao estabelecimento de metas, quais problemas para sua efetividade podem ser identificados nos trechos do Diário Acadêmico de Malysse?

    2. Identifique os tipos de metas objetivas e as qualidades com que as diferentes metas estabelecidas podem ser reconhecidas nos trechos de diário de Murakami. Ao fazê-lo, relacione as descrições do autor com o que o conhecimento em Psicologia do Esporte indica como razões para sua efetividade.

    3. Apontando a diferença entre metas objetivas e subjetivas, mostre como as últimas comparecem nos diários dos dois autores.

    4. Weinberg e Gould escrevem que “a maior parte das pessoas não precisa ser convencida de que as metas são importantes; elas precisam de instrução para estabelecer metas efetivas e criar um programa para atingi-las” (p.364). Considere as reflexões de Murakami, bem como as três necessidades humanas básicas da teoria da autodeterminação, e então descreva como metas subjetivas poderiam estimular o estabelecimento de metas objetivas fazendo uma articulação com o caso de Malysse.

    Referências Bibliográficas:
    Malysse, S. (2008). Diário Acadêmico. (V. L. Vieira, trad.) São Paulo: Estação das Letras e Cores.
    Murakami, H. (2010). Do que eu falo quando eu falo de correr. (C. de A. Leite, trad.) Rio de Janeiro: Objetiva.
    Weinberg, R.S. & Gould, D. (2008). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. (C. Monteiro, trad.). 4. ed.. Porto Alegre: Artmed.

  • Cenário 5: Comportamento e Adesão ao Exercício

    Suzie “kill” her own laziness

    Sábado de manhã e lá estava Suzie acelerando o passo em torno da grande praça circular em frente a seu prédio. A rotina se repetia sob uma condição. Bastava conferir se na sexta-feira o Globo Repórter iria alertar para os benefícios de comer bem e se exercitar, como meio para evitar horrorosos problemas de saúde. Em sendo o caso, lá estava Suzie um passo à frente do horror e acelerando. Fogo de palha. O domingo era o dia da preguiça. Ao longo da semana, saindo do call center, em que trabalhava, Suzie voltava pra casa. Um pote de sorvete häagen-dasz no colo e a fidelidade a séries de TV consumiam seu tempo livre. Exceções? Os dias do rock, quando vestia uma de suas camisetas pretas de banda e encontrava os amigos pra assistir a um bom cover de clássicos do gênero. Sim, a foto de Suzie estampa o seu texto sobre comportamento e adesão ao exercício. Serviria para o “antes e depois” e foi tirada como parte do plano de metas feito por Cacá, o bem intencionado professor que a recebeu na academia. A chegada de Suzie ali tinha ocorrido após se negar a continuar assistindo aos alertas de sexta à noite. Estava cansada de ser fogo de palha e não queria mais ouvir falar em saúde, saúde, saúde... Queria, sobretudo, sair da preguiçosa inércia que cheirava a tédio e mofo. Quando a viu, Cacá não teve dúvidas em tomá-la como um desafio próprio e um exemplo na academia, do que teve ainda mais certeza quando viu seus colegas fazendo chacota de Suzie nas dependências privativas a funcionários. Já em sua chegada, Cacá não hesitou. Adiantou-se em propor um programa para emagrecimento, conduzindo sua avaliação enquanto mencionava índices disso e daquilo, sua associação com doenças e riscos, o tempo que previa para adaptá-la aos treinos e para reduzir significativamente seu peso. Notando que Suzie se sentia constrangida na academia, disse: “Suzie, em psicologia do exercício chamamos isso de ansiedade física social. Mas com nosso trabalho conjunto você logo deixará de sentir isso e terá orgulho de seu corpo. Você tem um bom corpo. Basta cuidarmos do jeito certo e você vai ficar de parar o trânsito”. Ainda que um pouco embaraçada, naquele momento Suzie teve tempo de pensar que Cacá devia ser um profissional competente, todos aqueles dados, o conhecimento sobre psicologia... Só que aquilo tudo quase não lhe dizia respeito. Cacá não perguntou a Suzie, porque estava lá. Deu por certo que era pra emagrecer. Sim, Suzie queria emagrecer. Mas não parar o trânsito. Há tempos que ela tinha feito as pazes com seu corpo cheinho. Almejar uma mudança radical parecia o mesmo que se trair, se render às opiniões das coquetes dos tempos de escola que, mesmo não sendo tão hábeis como ela nos esportes, sempre a diminuíram pelo que, no mais educado dos eufemismos, chamavam de aspecto arredondado. Suzie sofrera com isso. Aprendera sobre a crueldade e, na adolescência, se afastara o quanto pode da educação física, mesmo sendo uma das melhores alunas na disciplina. Já em casa, sem conseguir dormir, sentiu raiva de Cacá por fazê-la reavivar essas memórias e ser mais um a querer encaixá-la na fôrma da “boa forma”, “boa” desculpa pra infernizar a vida alheia. “Academia”, seguiu pensando, “maldita a hora em que me deixei levar a esse antro de conformismo e homogeneização social”. Amanda. Em nome de Amanda, a amiga negra, única a se solidarizar com ela na escola frente às ofensas recebidas, ensinando-lhe o que aprendeu de Martin Luther King, que “uma pessoa deve ser julgada pelo seu caráter, não por sua aparência”, em nome dela, a amiga já morta, Suzie enfrentaria a academia. Também era em nome da luta contra a preguiça e do tédio, claro. Mas Amanda lhe faria companhia. Também era em nome da luta contra a preguiça e do tédio, claro. Mas Amanda lhe faria companhia. Google: ansiedade física social... Não era nada daquilo. Suzie não tinha ansiedade física social, era bem resolvida com seu corpo. Só não topava ser ofendida e já tinha aprendido a desdenhar dos olhares de esguelha que repreendiam seu corpo volumoso. Então, Cacá não era tão competente assim. Meses depois, o professor, agora bem mais próximo a Suzie, a ouvia contando a história do dia em que se encontraram pela primeira vez. Suzie ria, enquanto a rodinha formada em torno dela na academia pegava garupa em seu humor cativante. Seu jeito fácil já tinha conquistado o pessoal e ela dizia que Cacá devia se envergonhar pelo que tinha feito. “Sabe por que venho aqui, Cacá? Não é pelo peso que queria perder, esse já perdi e não pretendo deixar de ser arredondadinha. É porque resgato o que tiraram de mim lá atrás. Mas principalmente porque você acertou no rock quando começou a colocar pilha em mim, pondo pra tocar e cantando: “Oh Suzie Q, oh Suzie Q, oh Suzie Q, baby I Love You. I like the way you walk. I like the way you talk...”


    Questões

    1. O “efeito globo repórter” vivido por Suzie pode ser apropriadamente descrito por qual teoria ou modelo de comportamento de exercício? Justifique sua resposta.

    2. Em relação às estratégias para aumentar a adesão ao exercício, que tipo de abordagem contempla melhor o envolvimento de Suzie na academia? Como ela pode ser descrita em acordo com a especificidade do caso de Suzie?

    3. Em que estágio do Modelo Transteórico Suzie se encontra no início do cenário? Qual a relação da auto-eficácia de Suzie com o estágio em que se encontrava no final do cenário?

    4. Avalie que tipo de recurso para adesão ao exercício foi usado por Cacá e como ele poderia aperfeiçoar sua abordagem psicológica junto aos clientes, tendo em consideração tanto as palavras que Suzie dirige a ele quanto o texto.

  • Atividade: Coesão de Grupo

  • Cenário 6: Lesões Esportivas e Psicologia

    O filme da sua vida toda

    Dizem que o seu pensamento se reflete no seu corpo, que os pensamentos positivos ou negativos se refletem no seu corpo. Isso eu acho que é bem verdade, porque aconteceu comigo. Quando lesionei o meu joelho eu vivi isso. Eu estava feliz pra caramba! E de repente, de um dia para o outro, de uma hora pra outra me pego sentado no banco de um carro com o joelho torcido. Passa o filme da sua vida toda, do que você fez na sua vida toda. Nada podia te impedir e na outra hora você está ali parado, mal pode andar, mal pode se mexer direito, tem que depender dos outros. Isso não é legal, mas está melhorando. Eu tinha vários pensamentos ruins, eu mal conversava com as pessoas, ficava mais comigo mesmo, mais sozinho. E é muito ruim, porque quando você fica sozinho, você começa a pensar besteira, querendo ou não. Você pensa besteira que se reflete em besteira.

    Machucar-se é ruim pra qualquer pessoa. Mas, talvez, quem não seja atleta não tenha a dimensão do que seja isso pra nós. O fato é que, quando você é um atleta, é uma coisa muito dura você machucar, porque você quer voltar a correr e não pode! Você não pode fazer o que mais quer fazer na vida. Aí vai virando aquele bolo, a cabeça vai virando aquela bagunça, você quer desistir de tudo. Aí tem aquelas pessoas que falam ‘não’, outras que falam ‘sim’. Aí vai da tua cabeça, você tem que ter a cabeça bem focada naquilo que você quer, se você tiver a cabeça aberta, aí qualquer coisa que a pessoa fala você desvia os pensamentos pra outros cantos.

    Medo que eu tinha antes de descer a escada, depois da lesão. Medo de correr, medo de tudo. Medo de tudo por que... nossa! Porque eu acho que a dor é um dos traumas mais difíceis de superar. E eu senti muita dor, muita dor. Tanto que eu chorei. E eu acho que esse é um dos medos mais difíceis. Eu tinha medo de tudo, medo de andar, medo de virar, medo de saltar, medo de tudo, medo de tudo e eu tive de superá-los sozinho. Eu tinha ajuda só que, querendo ou não, se você, vamos supor, se uma pessoa quer te ajudar e você se fechar, num importa o que ela falar, não vai adiantar porque você vai estar fechado. E muito tempo na minha lesão eu fiquei fechado. Não importava o que as pessoas falavam, podia ser a mãe, pai, professor, melhor amigo, não importava. Eu estava fechado muito tempo, foi no tempo que eu fiquei com pensamentos ruins. Mas hoje eu estou bem melhor.

    Ficar fora do jogo, pra mim, é a mesma coisa de me dar uma facada, mesma coisa de querer me machucar mesmo. (...) É muito desgastante psicologicamente, porque não mexe só com o meu querer estar lá dentro, mexe com a minha mente, que é um querer estar lá e eu não posso. Entendeu? Então mexe com o nosso coração, mexe com o nosso sentimento que a gente tem de querer estar lá e não poder estar, por conta de uma lesão, por conta de ter se machucado, entendeu? E não saber ao certo quando é que você vai voltar.

    É lutar sozinho, sabe como é? Não sei descrever. Eu não sei falar. É como eu falei, é uma coisa interior, ou você vence seus próprios medos, ou então você fica com eles pra sempre. Esse é o sentido do lutar sozinho. Você pensar que não vai poder mais jogar, você pensar em desistir dos seus sonhos, você pensar que a vida não é legal, você pensar que nada é legal, você pensar que tudo acontece com você.

    É muito ruim, muito ruim! Até porque, nesse tempo, eu não conseguia dormir direito. Não me alimentava direito. Eu estudava por obrigação, porque eu tinha que passar. E quando você faz coisa sem gostar é muito ruim, você se torna... não sei, é meio que... você vai fazendo e vai fazendo mal pra você. Eu me sentia desse jeito. Eu fazia as coisas e me sentia mal. Mas com o tempo eu deixei de pensar isso e hoje, hoje é diferente.

    Então decidi mudar, passei a conversar um pouco com as pessoas, conversar um pouco e me divertir, pra poder ter pensamentos bons, refletir em coisas boas para o futuro. E é isso que está acontecendo hoje, pensamentos bons, coisas boas estão vindo, pouco a pouco, mas estão vindo”.

     Questões:

    1. O sujeito do enunciado apresenta reações psicológicas à lesão que podem ser identificadas no cenário. Quais são elas? Justifique.

    2. Mostre como as diferentes fases referentes à lesão comparecem no relato acima e, a partir disso, quais os desafios a serem enfrentados em cada momento.

    3. Como pode ser planejado o apoio social e o enfrentamento do processo de recuperação considerando o tipo de queixa que aparece no relato?

    4. Aponte e justifique qual aspecto é determinante para que o ensino de habilidades psicológicas possa funcionar tendo em consideração especificamente o fechamento relatado pelo personagem.


  • Cenário 7: Crianças e Psicologia do Esporte

    De oito a oitenta

    É, era assim... qualquer coisa e a meninada do colégio escancarava a boca. Até consigo ver: seus corpos eram só solavancos nas gostosas gargalhadas que tomavam a todos num único contágio. Tudo era motivo pra risada e piada. Nas aulas de educação física, então! Porque não tinha aquela formalidade de sala de aula, né? Ali, tudo acontecia. Veja, acho que aquela recalcada devia estar com muita raiva. É, recalcada não, porque a sacana botava tudo pra fora. Recalcada devo ser eu. Ela tinha o dom de fazer da sua raiva uma coisa bonita e engraçada. Todo mundo cascava o bico. Por que raiva? É raiva, porque eu acho que só raiva mesmo é que explica a reação dela. “Rolha de poço, o.b. de baleia...” Tava na cara que era despeito, mas como ela era dessas popularzinhas... O fato é que quando ela vinha pro ataque, não adiantava. Ela podia saltar, virar cambalhota. Se fosse eu na sua frente, a bola não passava. Já quando era o contrário, gol, né? Eu era boa, modéstia à parte, muito boa no hand. Meu time vibrava com minhas defesas e gols. Mas quando ela soltava uma daquelas, todo mundo ria junto, porque ela fazia mesmo ficar engraçado, contornava a situação. “Também, com essa rolha de poço tapando o gol, como a bola vai passar!” Eu comemorava a defesa, engolia a humilhação, depois sorria amarelo e fechava a cara mirando os olhos dela. Só que isso acabava aí. Já ela, fora das aulas de educa, era toda cínica comigo. Virava e mexia me olhava e só com os olhos estava cochichando pra mim, sibilenta como uma cobra, “gorda sebosa...”. Era raiva mesmo, entendeu? Uma vez você me explicou que, em Psicologia do Esporte, sabe-se que um motivo pras pessoas quererem emagrecer é o desejo de auto-afirmação social. E quem já é magro, eu me perguntei depois. Então, inverti o raciocínio. Acho que quando o sujeito é um infeliz, ou lá dentro um inseguro, se afirma diminuindo o outro. Deve ser daí que vem a zoação dos idotas. Tudo bem que todos tenhamos nossas inseguranças, mas contorná-las diminuindo quem é diferente, quem está fora do peso, é bem bobo, você não acha? E o professor da educa? O que fazia? O professor não fazia nada. Minto, vai. Quando vinham os xingamentos e gargalhadas, ele batia lá suas palmas “Êeee... Ôoo, pessoal, parou aí, né? Cadê o respeito?” Ficou em casa, tio João. Não, nem em casa, o respeito sumiu, escafedeu-se. Lá era cada um por si. Se adiantava? Nadica de nada. Até que o seu João segurava, mas acho que por dentro ria junto. Logo começamos a formar times pra competir com outras escolas. Sabe que, pensando hoje, ele parecia ter um pouco de vergonha de mim. Quando podia falava: “imagina como essa menina não jogaria se fosse magrinha”. Era um elogio, mas tão torto, né? Quer dizer, era um elogio? Dizia que precisava de jogadoras que corressem, ágeis na movimentação, rápidas na transição ataque-defesa e defesa-ataque, que dessem cobertura. Certo, e que tivessem boa técnica, força, precisão no lançamento, no tiro, na defesa, isso ele não precisava? Banco, banco, banco... E quando eu entrava perdia a confiança. Claro, também era o alvo da língua ferina das adversárias, da torcida do gato e dos papagaios, principalmente dos papagaios. Cê entendeu, né? Do seu João não tinha incentivo e nem retorno quanto a meu desempenho, o que o via fazendo com suas preferidas. Fui parando de jogar. Quando podia inventava desculpas para não ir às aulas de educa. Nem tentava mais vaga no time. Foi mais ou menos nessa época que Amanda se aproximou de mim. No começo não entendi bem o motivo, mas logo ficou claro. A única negra da escola tinha mesmo que saber o que eu estava passando, porque já era titulada em ser discriminada. Não na educa. Amanda era a Atleta da escola. Isso mesmo, Atleta com A maiúsculo. E isso, me confidenciava, era sua cruz. Nos treinos do clube, onde ela se ocupava umas duas horas por dia, de segunda a sábado, o regime era puxado. Isso não a incomodava tanto. Mas a pressão! A pressão que vinha do pai e do professor, ou técnico: “Você treina pra ser a melhor. E a melhor prova que é a melhor na competição. O que conta é ganhar”. Você imagine. Estava na seleção infanto-juvenil e já queriam colocá-la na juvenil antes da idade mínima. Ela foi campeã do estado, vice-brasileira e bronze num mundial. Íamos à minha casa, minha mãe adorava ela. Fechava a porta do quarto, mostrava pra ela meus discos e introduzia Amanda ao rock. Logo ela estava que nem eu – detestava aquele popzinho mela cueca que a galera do colégio curtia. Alguns rocks ela adotou pra ouvir antes de competir e pra ir aos treinos. Quando estávamos a sós ela contava como era dura aquela pressão. Nunca ouvia elogios se não fosse ganhando, só a vitória importava. Falava também da vergonha que às vezes tinha do pai. Nas competições ele ficava descompensado, berrava com árbitro, com adversário, com ela e até com o técnico dela. Ouvia que sim, ela seria campeã mundial, não uma, mas muitas vezes. Que ela tinha todas as condições de ser a recordista em títulos de todas as categorias em que participasse, e isso só dependia dela mesma, dos próprios esforços e dedicação. A coitada dizia que treinava tanto que nem notava mais melhora em seu desempenho. Só competindo, derrotando ou, o que era raro, sendo derrotada, sabia se estava bem ou não. Um dia me disse: “Suzie, invejo você por ter tempo pra fazer o que gosta, ouvir música, conhecer as bandas, fazer tantas coisas diferentes. Sabe, eu sou isso, sou atleta e ponto”. Eu nem tinha tantos interesses assim, mas era como ela me via. Você sabe? Não voltei a gostar de educa, mas aprendi muito com Amanda. E ela? Um dia espanou. Disse que não queria mais saber de esporte, de ser atleta. Entendeu que aquilo começava a fazer mais mal do que bem. Chegava perto do vestibular e Educação Física era o último dos cursos que ela faria. Foi pra Letras e dizia que eu tinha inspirado o gosto dela através da música, das letras que traduzíamos juntas. Mas logo no primeiro ano Amanda rejeitava tudo o que pudesse parecer com excesso de disciplina. Na verdade, ela foi de oito pra oitenta. Uma balada atrás da outra. Foi na volta de uma dessas, num meio de madrugada que perdi minha amiga pra sempre.

     

    Questões

    1. Quais motivos para o abandono da prática esportiva por parte de Suzie podem ser reconhecidos no cenário?

    2. De acordo com o cenário e com o texto de apoio, como pode ser compreendido o abandono do esporte por parte de Amanda?

    3. Considerando as diferentes condutas dos professores elenque os aspectos positivos e negativos das mesmas, sinalizando qual a conduta ideal a ser adotada por eles e o que a justifica segundo o texto de apoio.

    4. Faça o mesmo com relação à conduta do pai de Amanda e o ideal proposto no texto. Como a motivação dos pais para incentivar os filhos no esporte pode estar alinhada às três necessidades humanas básicas postuladas pela teoria da autodeterminação?


  • PROVA - Respondendo a Carta para Si

    Ao final da disciplina, finalmente você tem a oportunidade de responder a “Carta para Si”, redigida em 19 de agosto de 2022. Naquela ocasião, a disciplina de Psicologia do Esporte e do Exercício ainda era uma expectativa. Responda à sua carta contando para o seu Eu de então sobre como a matéria corresponderá ou não às suas expectativas, mas, principalmente, não deixe de relatar mais detalhadamente alguns temas e conteúdos que marcaram você. Para isso, tampouco deixe de contar a respeito deles ilustrando-os com situações esportivas ou de atividade física pessoalmente já vivenciadas pelo seu Eu de então. Portanto, articule seu cenário pessoal com os conceitos escolhidos de modo a esclarecê-los mutuamente um ao outro. Ao final da carta, conte para o seu Eu de então como a experiência na disciplina participará de sua formação e de sua futura atuação profissionais.


    Nota: Os conteúdos escolhidos por você – dois ou mais conceitos ou temas articulados a um ou mais cenários pessoais – deverão demonstrar, com clareza, a sua apropriação e compreensão do assunto. Lembre-se de articular bem o(os) exemplo(s) que você trouxer na carta com os conteúdos apropriados. Atente-se de que isso é uma carta, portanto aborde os assuntos com suas próprias palavras, evitando o uso das palavras dos autores.


    Limite: Até 4 folhas de Word ( Times New Roman, 12), , espaço entre linhas 1,5.