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Tudo indica que o século XXI terá de renascer após a pandemia. Apesar dos imensos avanços da ciência e da tecnologia (C&T), a humanidade foi surpreendida por eventos há muito anunciados, mas nunca levados suficientemente a sério por autoridades de países desenvolvidos e emergentes. A atual crise gerada pela Covid-19 já deixou em seu rastro pelo menos três grandes marcas: a primeira está cravada no alto custo em vidas e sequelas que feriram populações imensas em um curto espaço de tempo. Somente no Brasil as mortes superaram o patamar dos 120 mil óbitos e continua crescendo; a segunda responde pela aguda recessão e consequente diminuição do emprego, de salários e de renda, fechamento de empresas e desorganização da economia, com aumento das desigualdades e da pobreza; a terceira, está ligada à corrosão institucional e à disseminação do medo e da perplexidade na sociedade.

A enorme onda de insegurança que percorre os países afetará de modo duradouro o modo de se viver e trabalhar, com impactos de longa duração na economia mundial, particularmente danosos aos países em desenvolvimento. Um dos maiores desafios para o Brasil será a barrar o movimento de regressão que se manifesta em vários setores da sociedade, em especial nas áreas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). A busca dessa interação e o sentido social que permeou a pesquisa em meio à crise deram sentido a alguns tópicos que a crise da COVID-19 fez aflorar:

(i) A cooperação irrompeu com força, em especial pela estatura dos desafios de colocados pelo coronavírus, que só podem ser equacionados com a interação e fusão de estratégias diferenciadas. (ii) Assim como o vírus, a pesquisa foi levada a superar aceleradamente as fronteiras nacionais, em contraste com o discurso nacionalista rasteiro de vários governos. (iii) A profusão de bancos de artigos veiculados publicamente antes da revisão por pares para publicação em revistas científicas indexadas é a marca desse período. Esses bancos viveram uma explosão de artigos de pesquisadores do mundo todo que escolheram a abertura e à crítica de seus trabalhos como forma de acelerar o fluxo de conhecimento. (iv) A interdisciplinaridade mostrou-se essencial para o enfrentamento do vírus que possui características multifacetadas e ajudou a abrir os clusters e reposicionar disciplinas, a começar pelas ligadas às humanidades. (v) A cooperação interinstitucional permitiu a ampliação dos fluxos de conhecimento e abriu oportunidades de absorção, aprendizagem e de catching-up para muitos países, em áreas chave, ligadas ao novo ciclo tecnológico. (vi) O distanciamento físico acelerou o desenvolvimento e a pesquisa em todas as dimensões digitais, da automação e das tecnologias de Inteligência artificial.  Esse movimento aberto em várias dimensões potencializa o ciclo científico e tecnológico que estava em curso e que tende a ser redimensionado. 

Mais do que nunca o Brasil precisa construir um novo ambiente para a C&T, com financiamento adequado e estabilidade, capaz de formar novas gerações de cientistas capazes de internalizar e ajudar a elevar o patamar de tecnologias críticas, a exemplo da Inteligência Artificial.

1.     O presente curso está formatado para introduzir o debate sobre a Sociologia Digital, a partir da evolução recente e do potencial de impacto da ciência, tecnologia e inovação na sociedade. A sociologia digital é um campo de estudo em formação que busca a reinvenção da pesquisa social. Na raiz de seu empenho, a preocupação com o diálogo entre disciplinas diversas, como a ciência da computação, filosofia, psicologia, neurociências, direito e as engenharias. Para além da análise do comportamento de dados, seu alvo é o delineamento do digital como fundante da interatividade social contemporânea.

2.     Nesse universo, as tecnologias de inteligência artificial ganharam destaque e proeminência ao se conformarem cada vez mais como tecnologias de propósito geral. Ao viabilizarem interações inéditas entre a vida social, a economia, a política e a cultura, o desenvolvimento recente das tecnologias de inteligência artificial, representam um ponto de inflexão na trajetória da ciência moderna e colocam desafios imensos para o desenvolvimento de países como o Brasil.