Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Letras e Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Antropologia

 

 Disciplina – Família, política e conflito social (FLS5220) - 8 créditos

 

 Professora - Dra. Ana Claudia Duarte Rocha Marques

 Objetivos

O  propósito desse curso é, primeiramente, discutir concepções analíticas de família no interior da antropologia tendo por referência empírica privilegiada (mas não exclusiva) universos sociais brasileiros. Em seguida, serão discutidas as condições em que aquelas unidades familiares de fato se realizam (ou, por outra, os limites envolvidos em seu entendimento enquanto unidades). Nesta discussão, as relações de conflito, da política e da economia intervêm, em articulação a concepções simbólicas e morais, como elementos fundamentais para a construção da noção de família, tanto quanto os mais recorrentemente sublinhados da solidariedade e da consanguinidade.

 

 Justificativa

Ao tema da família é proposta uma abordagem que toma esse objeto em sua operacionalidade. Ao invés de assumi-lo em seus contornos definidos, ou mesmo da busca de definições absolutas ou de sua função, trata-se de observar seu funcionamento social, nas suas várias pertinências (econômicas, políticas, de sociabilidade), inclusive nas suas aparentes incoerências. Tal abordagem permite questionar modelos analíticos arraigados na disciplina e em particular sobre a organização sócio-política em comunidades no Brasil.

 

Avaliação

Seminários, trabalho final em moldes a serem definidos ao longo do curso


 

 

Programa e Bibliografia

 

Obs. O programa está sujeito a alterações pontuais com vista à distribuição de leituras obrigatórias e complementares.

 

 

 

03/09 Apresentação do curso

 

10/09 – Família e grupo doméstico

 

 

* Almeida, Mauro. 1986. “Redescobrindo a família rural”.RBCS 1(1):63-83.

* FORTES, Meyer. 1974“O ciclo de desenvolvimento do grupo doméstico”. Brasília: Editora Universidade de Brasília (Cadernos de Antropologia 6). 32 p.

SANTOS, José V. T. dos. Colonos do Vinho. Estudo sobre a subordinação do trabalho camponês ao capital. São Paulo: Hucitec. 1928. Caps. 2 e 3, pp.25-133.

 

Textos complementares

* Segalen, Martine. 1999. Sociologia da Família. Lisboa: Terramar. Cap. 2 “Grupos domésticos pp. 39-68).

CHAYANOV, A. 1986. “Peasant farm organization”. In. The theory of peasant economy. D. Thorner, B. Kerblay & R.E.F. Smith (eds). Madison, Wis: The The University of Wisconsin Press. Cap. 1 The peasant family and the influence of its development on economic activity. (ed 1966 pp 53-69)

 

 

17/09 Oikos. Casa, trabalho, produção e consumo no campesinato

 

GARCIA Jr. A. Terra de Trabalho. Trabalho familiar de pequenos produtores. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1983. PP. 159-189 (“A casa e o consumo familiar”)

 

 

Brandão, Carlos R. “Parentes e parceiros, relações de produção e relações de parentesco entre camponeses de Goiás”. In A. A. Arantes et al (orgs). Colcha de Retalhos: estudos sobre a família no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp. 1994. PP. 115-160

 

Heredia, Beatriz. A Morada da Vida. Trabalho familiar de pequenos produtores do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1978. Pp. 105-120 (cap. 4 “Roçado-roçadinho”).

 

WOORTMANN, Klaas. 1990. “ ‘Com Parente não se Neguceia’. O Campesinato como Ordem Moral”. Anuário Antropológico/87. Editora a Universidade de Brasília/Tempo Brasileiro. Pp 11-73.

 

Leitura Complementar

 

Garcia, Afrânio & Heredia, Beatriz. “Trabalho familiar e campesinato”. América Latina, ano 14, n. 1-2 - jan./jun. 1971.pp. 11-21.

 

Candido de Mello e Souza, A. 1964. Os Parceiros do Rio Bonito. Estudo sobre o capira paulista e a transformação de seus meios de vida. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora. 1964. PP. 184-209.  (“A vida familiar do caipira”).

 

24/09 Outras casas

WOORTMAN, Klaas. “Casa e Família Operária”. Anuário Antropológico/80. Fortaleza/Rio de Janeiro: Edições da UFC/Tempo brasileiro. 1982. Pp. 119-150

 

*FONSECA, Claudia. Família, fofoca e honra: etnografia das relações de gênero e violência em grupos populares. Porto Alegre: Ed. Da UFRGS. Cap. 2 (53-88)

UFC. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. PP 199-221.

 

____. Olhares antropológicos sobre a família contemporânea. Manuscrito. https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=olhares+antropol%C3%B3gicos+sobre+a+fam%C3%ADlia+contempor%C3%A2nea

 

BÁDUE, A. F. e RIBEIRO, F. A. “Economia do aperto: Bolsa Família, dinheiro e dívida no dia a dia de mulheres paulistanas”. In. Ana Claudia Marques e Natacha Simei Leal (orgs.) Alquimias do Parentesco. Casas, gentes, papeis, territórios. Rio de Janeiro, São Paulo. Gramma, Terceiro Nome. Pp.103-134.

 

 

01/10 Ainda outras

 

SLENES, Robert. 1999. Na senzala, uma flor. Esperanças e recordações na formação da família escrava. Nova Fronteira. Caps. 1 (pp. 27-68) e *4 (pp. 237-259).

 

DUMANS GUEDES, A. 2013. O trecho, as mães, os papéis. Etnografia de movimentos e durações no norte de Goiás. São Paulo: Anpocs, Garamond Universitária. Cap. 3 (pp. 177-240. Especialmente 219-240)

MANTOVANELLI, T. 2018. “Casas de alvenaria e casa Mẽbêngôkre: concepções Xikrin sobre família dos brancos”. In. Ana Claudia Marques e Natacha Simei Leal (orgs.) Alquimias do Parentesco. Casas, gentes, papeis, territórios. Rio de Janeiro, São Paulo. Gramma, Terceiro Nome. Pp. 169-204.

 

Leitura complementar

Sarti, C. A. A Família como Espelho: um estudo sobre a moral dos pobres. Tese de doutorado, PPGAS/USP. Cap. 3 “A família como universo moral”.

NEVES, Delma P. 1985. “nesse terreiro, galo não canta. Estudo do caráter matrifocal de unidades familiares de baixa renda”. Anuário Antropológico 83. Fortaleza: Edições UFC. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. PP 199-221.

 

WOORTMANN, K. & WOORTMANN, E. “Monoparentalidade e chefia feminina. Conceitos, contextos e circunstâncias (mm). 99p. PDF disponibilizado. www.abep.nepo.unicamp.br/XIIIencontro/woortmann.pdf

 

 

8/10   Negócios de família

Bauer, Michel. 2002. “De l’hommo economicus  au pater familias. Le patron de l’entreprise entre le travail, la famille et le marché”. In. Martine Segalen (ed.) Jeux de Familles. Paris: CNRS Editions. Pp. 23-42.

 

Piscitelli, Adriana. Jóias de Família. Gênero e Parentesco em histórias sobre grupos empresariais brasileiros. Rio de Janeiro: Ed. Da UFRJ. 2006. PP. 117-151 (“Interseções”); complementar: 207-245 (“visão dos especialistas”).

 

Lima, Maria Antónia P. De. 2003. Grandes Famílias, Grandes Empresas. Ensaio Antropológico sobre uma elite de Lisboa. Lisboa: Publicações Dom Quixote. Cap. VI “O pé do dono é o adubo da terra”. Pp.289-302.

 

Yanagisako, Sylvia J. Producing culture and capital. Family firms in Italy. Princeton: Princeton University Press. Cap. 5 “capital and gendered sentiments” e conclusão (145-274; 174-190

 

Leitura complementar

MARQUES, Ana Claudia. Percurso e Destino: Parentesco e família no sertão de Pernambuco e Médio-Norte do Mato Grosso. Tese de Livre-Docência, Departamento de Antropologia/FFLCH/USP. Cap. 5. "Negócios de família" pp. 128-169.

 

15/10 Substâncias do parentesco

 

Schneider, D.M. 1984. A critique of the study of kinship. Ann Harbor: University of Michigan Press. Caps. 9 e 14 (97-112; 165-180). Strathern, M. 1992. After nature: English kinship in the late teentieth-century. Cambridge: Cambridge University Press. (cap. 2, pp. 47-87).

Abreu Filho, Ovídio. Parentesco e Identidade Social. Anuário Antropológico 80, Rio de Janeiro, v. 1, p. 47-67, 1982.

Carsten, J. “The substance of kinship and the heat of the hearth: feeding, personhood, and relatedness among Malays in Pulau Langkawi. American Ethnologist 22(2):223-241.

GOW, Peter. “O parentesco como consciência humana: o caso dos piro”. MANA 3(2), 1997 (pp.39-65).

 

Leituras complementares

Schneider, D.M, 1968. American kinship. A cultural account. New Jersey: Prentice-Hall 148 p (cap. 4. Pp. 57-75)

 

MACHADO, I.J.R. 2013. A Antropologia de Schneider. Pequena introdução. São Carlos: Edufscar. 117p.

 

SAHLINS, M. 2011. “What kinship is (part 1)”. Journal of the Royal Anthropological Institute (N.S.) 17, 2-19

______. 2011. “What kinship is (part 2)”. Journal of the Royal Anthropological Institute (N.S.) 17, 227-242

 

22/10 não haverá aula

 

 

29/10 Imagens do parentesco

Bouquet, Mary.  1996 ‘Family trees and their affinities: the visual imperative of the genealogical diagram’,  Journal of the Royal Anthropological Institute 2: 43-66.

____. ‘Figures of relations: reconnecting kinship studies and museum collections’ in J. Carsten (ed) Cultures of relatedness. Pp. 167-190.

Holmes, J. Teresa. 2009. When blood matters: making kinship in colonial Kenya. In. Bamford, S & Leach, J. (eds.) Kinship and beyond. The genealogical model reconsidered. NY/Oxford: Berghahn Books. Pp. 50-83.

Strathern, M. 1992. After nature: English kinship in the late teentieth-century. Cambridge: Cambridge University Press.

 

Astuti, Rita. 2000. “ Kindreds and descent groups: new perspectives in Madagascar”. In. J. Carsten (ed.) Cultures of relatedness. Cambridge: Cambridge University Press. (pp. 90-103)

 

 

 

Leitura complementar

Fortes, Meyer. 1953 The structure of unilineal descent groups. American Anthropologist 55: 17-41 [E; also in Fortes, Time and social structure, and other essays]

 

Freeman, J. D. 1961. “On the concept of kindred”. Journal of the Royal Anthropological Institute 91: 192-220.

 

 

05/11 Linhas e planos

 

* BOURDIEU, Pierre. 1980. “La maison ou le monde renversé”. In. Le Sens Pratique. Paris: Les Éditions de Minuit. Pp. 441- 467. Versão em inglês - Pierre Bourdieu 1990 ‘The Kabyle House or the World Reversed.’ Appendix in The Logic of Practice. Stanford: Stanford University Press, pp. 271-283. versão em português (A casa ou o mundo às avessas) feita pelo Marcio Silva publicada num volume "Textos Didáticos", 16, do IFCH-Unicamp, organizado pela Mariza Corrêa ("Três ensaios sobre a Argélia e um comentário").

Bahloul, Joëlle. 1996 The Architecture of Memory: A Jewish-Muslim Household in Colonial Algeria, 1937-1962. Cambridge: Cambridge University Press. Cap. 1 “Foundations” (pp. 11-27)

 

BLOCH, M. “The resurrection of the house amongst the Zafimaniry of Madagascar /​ Maurice Bloch”. In. About the House: Lévi-Strauss and Beyond Cambridge ; New York : Cambridge University Press, 1995. Pp69-83

 

Edwards, Jeanette. 2000. Born and bred: idioms of kinship and new reproductive technologies in England. Oxford: Oxford University Press. Cap. 5. “houses and homes” (pp. 105-134)

 

ARCO NETO, N. DELA B. A educação vem de casa: família e escola na periferia de São Paulo. Tese de Doutorado em Antropologia Social. PPGAS-FFLCH-USP. Cap. 2. Pp. 73-122.

 

12/11 Aparentamentos

 

ALVES, Y. 2018. “Sob a luz e o calor do fogo: A criação entre os moradores de Pinheiro e as interconexões entre casas, famílias e corpos”. In. Ana Claudia Marques e Natacha Simei Leal (orgs.) Alquimias do Parentesco. Casas, gentes, papeis, territórios. Rio de Janeiro, São Paulo. Gramma, Terceiro Nome. Pp. 205-232.

CARNEIRO, A. 2015. O povo parente dos Buracos. Sistema de prosa e mexida de cozinha. Rio de Janeiro: E-papers. Cap. 4. Pp. 157-208.

VIVEIRA, S. de A. 2015. Resistência e Pirraça na Malhada Cosmopolíticas quilombolas no alto sertão de Caetité . Tese de Doutorado. PPGAS/Museu Nacional/UFRJ. Cap. 1, pp. 43-86.

Bodenhorn, Barbara. 2000. “’He used to be my relative’: exploring the bases of relatedness among Iñupiat of northern Alaska. In. In. J. Carsten (ed.) Cultures of relatedness. Cambridge: Cambridge Universitt Press. (pp. 128-148)

 

 

Leitura complementar

MARQUES, A.C. e SIMEI LEAL, N. 2018. “Introdução. Alquimias do Parentesco”. In. Ana Claudia Marques e Natacha Simei Leal (orgs.) Alquimias do Parentesco. Casas, gentes, papeis, territórios. Rio de Janeiro, São Paulo. Gramma, Terceiro Nome. Pp. 25-66

MARQUES, A. C. prelo. “A casa, o umbigo, o mundo

 

19/11 Demos e Domus

Palmeira, M. & Heredia, B.. 2006. O Voto como Adesão . Teoria e Cultura, v. 01, p. 35-58.

VILLELA, J.M. 2009. "Família Como Grupo? Política como agrupamento?". Revista de Antropologia, v. 52, p. 201-246, 2009

PERUTTI, D. 2018. “Políticas do Território e Territórios da Política em uma família quilombola de Goiás”. In Alquimias do Parentesco. Casas, gentes, papeis, territórios. Rio de Janeiro, São Paulo. Gramma, Terceiro Nome. Pp. 67-102.

MORAWSKA, A C. 2018. “Luto e memória das Mães da Saudade de Peixinhos” In. Ana Claudia Marques e Natacha Simei Leal (orgs.) Alquimias do Parentesco. Casas, gentes, papeis, territórios. Rio de Janeiro, São Paulo. Gramma, Terceiro Nome. Pp. 25-66

AQUINO, C. R. F. 2014. “Cotidiano e política da luta por moradia no centro de São Paulo”. Revista Antropolítica, n. 36, p. 149-178, Niterói,1. sem. 2014

 

Leituras complementares

VILLELA, J.M. & MARQUES, A.C. (2017). “O sangue e a política: sobre a produção de família nas disputas eleitorais no sertão de pernambuco” Repocs, v.14, n.27, jan/jun. 2017

Comerford, John C. Como uma família: sociabilidade, territórios de parentesco e sindicalismo rural. Rio de Janeiro: Relume Dumará. 2003. PP. 257-325. (“contra reputações: os sindicatos e sua credibilidade”)

 

 

 

 

26/11 Conhecimento do sangue

 

STRATHERN, Marilyn. “Necessidade de pais, necessidade de mães”. Estudos Feministas 3(2): 303-329).

 

FONSECA, Claudia. “A vingança de Capitu: DNA, escolha e destino na família brasileira contemporânea”. Seminário "Estudos de Gênero face aos dilemas da Sociedade Brasileira". São Paulo: Fundação Carlos Chagas.

 

____. 2004. A certeza que pariu a dúvida: paternidade e DNA . Estudos Feministas, Florianópolis, 12(2): 264, maio-agosto/2004

 

Hayden, C. 1995 ‘Gender, Genetics, and Generation: Reformulating Biology in Lesbian Kinship’. In Cultural Anthropology 10 (1): 41-63.

 

 

Cassidy, R.. 2009. “Arborescent culture: writing and not writing racehorse pedigrees”. In. Bamford, S & Leach, J. (eds.) Kinship and beyond. The genealogical model reconsidered. NY/Oxford: Berghahn Books. Pp. 24-49.

 

SIMEI LEAl, N. 2018. “Das biogenéticas, distinções e inconsistências: a produção de pedigrees em rebanhos zebuínos brasileiros”. In. Ana Claudia Marques e Natacha Simei Leal (orgs.) Alquimias do Parentesco. Casas, gentes, papeis, territórios. Rio de Janeiro, São Paulo. Gramma, Terceiro Nome. Pp. 271-304.