Objetivos:
No “clássico” Keywords: A vocabulary of culture & society, Raymond Williams (1976) propõe uma lista de termos fundamentais ao debate sociocultural. A partir de uma sociologia da linguagem e tendo o inglês como idioma de referência, o autor explora os significados de cada palavra-chave, os contextos políticos de sua emergência e as mutações sofridas ao longo do tempo. Por serem “significativas e indicativas” de certas grades de interpretação e estruturas de sentimento, essas palavras funcionam como senha de entrada para as diferentes maneiras de definir cultura e sociedade no ocidente. Expondo a historicidade dos conceitos, Williams nos coloca diante de 176 termos que seguem em disputa, sem um significado definitivo ou unívoco (mesmo quando circunscritos a um campo disciplinar específico) e que, não raro, acumulam definições contraditórias entre si. O significado só descansa em completude duradoura, alerta Williams, quando a palavra deixa de frequentar o vocabulário vivo ou quando o paradigma científico ao qual está associada cai em declínio.
Desde então, foram muitos e com variadas intenções os que realizaram experimentos reconhecidamente inspirados pela obra (inacabada) de Williams. Recentemente, para citar um exemplo, o periódico Current Anthropology reuniu, sob a rubrica “keywords in contemporary anthropology”, um conjunto de artigos em torno dos termos neoliberal agency, consumption, identity e flow.
E se nos fosse atribuída a missão de identificar as palavras-chaves correspondentes aos desdobramentos teóricos e conceituais, metodológicos e políticos que vêm ocorrendo no campo da sociologia (e da teoria social) sobretudo a partir dos anos 1980? Por onde e na companhia de que textos começaríamos nossa lista de termos?
Justificativa:
Do vasto repertório de temas, questões, linhagens e autoras que constituem o que se poderia chamar de teoria sociológica, o curso enfatiza, no critério de seleção dos termos a ser visitados, sua relevância epistemológica, i.e. sua pertinência na análise do mundo contemporâneo. Termos que foram incorporados ao vocabulário das ciências sociais e humanas há menos tempo (interseccionalidade, por exemplo) são combinados com termos consolidados no percurso da disciplina e que adquiriram novos predicados (sociedade de risco, capitalismo afetivo etc).
Trata-se de um exercício experimental (e arbitrário, claro!), cuja intenção é proporcionar tanto uma reflexão crítica sobre o repertório de que dispomos como cientistas sociais quanto um debate coletivo sobre a mobilização desse vocabulário como categorias políticas acionadas pelos atores em intervenções práticas e diagnósticos do presente.
Forma de avaliação:
Este curso pressupõe a efetiva participação de todas (matriculadas e ouvintes)! Às pessoas matriculadas caberá produzir, apresentar e compartilhar resumos críticos das leituras que ficarem sob sua responsabilidade. Com isso, ao final do semestre, todas teremos uma pastinha com resumos para a totalidade da bibliografia discutida. A nota final levará em consideração: a qualidade dos textos (resumos críticos) e das apresentações orais (de até 20 minutos), bem como a participação durante as aulas.
Presença: como turma, estaremos todas sob a pressão de fazer o nosso melhor em um ambiente de aprendizado cujos códigos de conduta nem todas dominamos com a mesma desenvoltura e que depende de recursos tecnológicos de que nem todas dispomos. Menos do que uma quantificação da presença nos seminários, o que será levado em conta é o nível de engajamento e o respeito com o coletivo demonstrado por cada uma ao longo do semestre.
(Vale consultar, ao longo do semestre, o trabalho feito pelo Keywords Project: https://keywords.pitt.edu/index.html)