A psicologia cultural vem emergindo nas últimas décadas como uma possibilidade de integração entre estudos culturais e psicológicos, defrontando-se com as tensões que emergem na tentativa de interlocução interdisciplinar a respeito das relações eu-outro-mundo. Ao trabalhar com a articulação de disciplinas, tais como a antropologia e a etnologia, a psicologia cultural se aproxima também de questões que dizem respeito à relação de pessoas oriundas de povos autóctones da América (povos indígenas) com a sociedade envolvente (não-indígena). Neste ensejo, o objetivo desta disciplina é apresentar e discutir aspectos éticos, teóricos e metodológicos da psicologia cultural, envolvidos no processo de construção de conhecimento acadêmico com participação indígena. Partimos do pressuposto que a participação indígena no processo de construção de conhecimento na área se caracteriza pela interlocução ativa com discursos e práticas dessas populações que estão situados na fronteira com discursos e práticas da psicologia. As tensões resultantes das diferentes perspectivas que emergem desse encontro dialógico, portanto, caracterizam-se como objeto focal de nossas análises. A opção pelo dialogismo teórico-metodológico tem sido essencial ao campo de pesquisas da psicologia cultural, em sua vertente semiótico-construtivista, viabilizando a emergência de novidades a respeito de processos gerais de construção de significados que se tornam discerníveis em campos culturais diversificados. Para a realização do objetivo proposto, tomaremos como foco aspectos éticos, teóricos e metodológicos da relação Psicologia e Povos Indígenas: 1) quanto aos aspectos éticos, situaremos o debate em torno de posições clássicas e contemporâneas presentes no campo da psicologia em relação à diversidade cultural, às vulnerabilidades psicossociais das populações indígenas e ao processo histórico-cultural constitutivo dessas vulnerabilidades; 2) quanto aos aspectos teóricos, focalizaremos, em especial, os desdobramentos de pesquisas na fronteira interdisciplinar entre o construtivismo semiótico-cultural em psicologia e o perspectivismo Ameríndio em antropologia; problematizaremos as aproximações e afastamentos do olhar dessas diferentes abordagens aos processos culturais de construção de identidades e alteridades; e 3) quanto aos aspectos metodológicos, propomos uma reflexão em torno do dialogismo teórico-metodológico em psicologia, e, portanto, das contribuições e limites do construtivismo semiótico-cultural, para a pesquisa e intervenção no contexto da aproximação da área em relação aos discursos e práticas dos povos indígenas.