3. Diversidade e Unidade: A Aventura Linguística do Português

Mattos e Silva RV. Diversidade e unidade: a aventura linguística do português. Revista ICALP.  2002;1:1-29.


Apontamentos

"A par dos estatutos sócio-políticos diversos mencionados, as configurações linguísticas internas que assume a língua portuguesa nos diversos lugares em que é utilizada são de natureza também diferenciada, decorrente da história própria que viveu a língua, a depender dos factores externos - históricos, sociais, geográficos, demográficos - que determinaram a sua difusão e implantação, em cada um desses locais. Assim sendo, a variação social e a variação espacial da língua têm feições típicas em cada um deles. Sobrepondo-se a essa variação, as normas sociais, configuradas a partir de determinado dialecto de prestígio sócio-político e cultural, considerado standard ou modelo para a sociedade de cada local, também são diferenciadas. / A esse entrecruzar-se de dialectos sociais, espaciais e de normas linguísticas impõem-se as normas específicas da língua escrita que neutralizam muitas das diferenças da fala quotidiana, mas estão longe de anulá-las. A espinha dorsal que, entretanto, une todas essas diferenças se capta em um nível de abstracção maior, que é do sistema de regras comuns que subjaz a essas diferenças, e que dá suporte a que, enquanto fenómeno histórico se possa afirmar que nesses diferentes pontos do globo está, ali, a língua portuguesa e não outra língua". Mattos e Silva, 2002:2.

"...quando se fala de língua portuguesa una, na diversidade de suas manifestações, tem-se em mente - por um lado - a estrutura comum que está na base das suas diversificadas realizações e por outros os factores históricos que a unem e a definem como tal". Mattos e Silva, 2002:4.

"Contrapondo-se à diversidade interna das variantes europeia e brasileira da língua portuguesa, poder-se-ia afirmar, com base no conhecimento científico existente dessas duas variantes de um mesmo sistema linguístico, que a diversidade horizontal em detrimento da vertical pesa mais no português europeu, enquanto no Brasil o contrário se verifica". Mattos e Silva, 2002:23.

"Independentemente dos questionamentos que sobre ela façam, a língua portuguesa viva e sã, e acredito que mais viva do que nunca, floresce no Brasil e se assume, não apenas na sua literatura forte, mas na voz a ser ouvida de cada brasileiro, qualquer que seja sua origem geográfica ou social. Com ela reforça-se a língua portuguesa no seu todo, lusitana ou africana. Diversa e una, em momento de liberdade, revendo criticamente a coerção normativa homogeneizadora, dominante outrora, sempre a esgueirar-se por frestas académicas, a aventura linguística que se definiu historicamente com Afonso Henriques no século XII continua o seu percurso e se afirma como uma das línguas mais usadas no mundo" . Mattos e Silva, 2002:29.


Navegando o texto a partir de alguns conceitos importantes


'Primeira parte'

1. Introdução: língua, 'grammar/language', 'langue/parole'; língua histórica; variante; dialeto; norma linguística; dialeto de prestígio; comunidade de fala; norma oficial; língua de cultura; dialectos diatópicos, dialectos diastráticos, dialectos diacrônicos; dialeto standard; línguas ágrafas; dialeto escrito. 

2. Da diversidade original ao estabelecimento da norma no século XVI:  variação dialetal, multilinguismo, dialetos de transição, dialetos veiculares; 'vulgar', 'vulgares', 'língua vulgar' (sécs. XVI-XVII). 


'Segunda parte'

1. Introdução: dialetologia; mapa dialetal diatópico; Atlas Linguístico; estudos dialetais horizontais; dialetos literários, dialeto de escola; Sociolinguística; contato entre línguas.

2. Glotocídios e nascimentos linguísticos na história da difusão do português pelo mundo:  glotocídio; línguas indígenas, línguas autóctones; plurilinguismo, bilinguismo, unilinguismo; língua majoritária, língua materna, língua estrangeira, língua nacional, língua oficial; pidgin, crioulos, línguas crioulas; (pidgin de) base portuguesa, língua de intercurso, crioulos de base portuguesa.

3. O português do Brasil, língua nacional: língua nacional; minorias linguísticas; política linguística; língua geral, língua geral da costa; língua dominante, nacional e oficial; derivas. isófonas; nivelamento fonético; variação diatópica, variação diastrática, diversidade sociolinguística. 

4. A diversidade e a norma no Brasil do fim do século XX: norma culta, Norma Urbana Culta, norma de prestígio; normas linguísticas em realização, usos linguísticos socialmente controlados; coerção normativa.


Material de apoio interessante para este texto

Página 'Geografia da Língua Portuguesa' no Instituto Camões:
http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/geografia/index.html