O objetivo do curso é mesclar trajetória, obra e método, de maneira a captar os conceitos e interpretações de Furtado em fluxo, ou seja, partindo da sua historicidade. Parte-se ainda do pressuposto que qualquer perspectiva de "atualização" do seu legado requer a compreensão do seu método histórico-estrutural, de modo a oferecer interpretações alternativas aos desafios vividos pela sociedade brasileira na sua contemporaneidade. Portanto, a ementa combina um mergulho na sua trajetória a partir dos seus "anos de formação", aproveitando-se da sua obra autobiográfica em três volumes e dos "diários intermitentes", publicados em 2019. Mas não se detém a avaliar o seu percurso que compreende o doutorado na Sorbonne, a atuação na CEPAL e SUDENE, e depois no Ministério do Planejamento, os anos de exílio como professor em universidades do exterior, e o regresso ao Brasil quando participa da transição democrática e estrutura o Ministério da Cultura. As diversas atividades exercidas por Furtado se nutrem de suas utopias e projetos de transformação do Brasil, que transparecem nas suas obras. Dessa forma, a trajetória não pode ser traçada fora das obras, ao passo que as obras respondem às motivações políticas de cada momento do país e do contexto internacional, sendo escritas a partir da posição que o intelectual ocupa nesse quadro mais amplo. O curso prima pela interdisciplinaridade, como não poderia deixar de ser, no caso desse intelectual que logrou introduzir uma perspectiva histórica no tratamento das estruturas econômicas, incorporando questões e abordagens que transcendem o universo da economia, e adentram nos territórios da geografia, da cultura e da sociedade. Vale ressaltar que, por mais que Furtado tenha sido objeto e sujeito de várias teses e livros desde os anos 2000 - que fazem parte da bibliografia do curso; o seu método, horizonte de análise, assim como os conceitos por ele cunhados e aprofundados ao longo de sua vida, não têm praticados em sua integralidade pelos economias e cientistas sociais da universidade brasileira, muitas vezes circunscritos à suas especialidades acadêmicas. Em síntese, Furtado tem sido mais citado do que acionado como ponto de partida para novas formulações teóricas, históricas e propositivas.