O presente curso tem por foco fazer um recorte diacrônico na crítica anticolonial nos séculos XIX, XX e XXI, com a finalidade de assinalar vozes portuguesas presentes nas redes de escritores, críticos literários e intelectuais que produziram obras contrárias ao regime colonial, incentivando, assim, a prática de uma literatura de resistência nas colônias, centrada na afirmação das culturas locais e na independência política. Nesse conjunto de autores e obras, é inevitável tratar também de escritores e intelectuais provenientes das colônias, que, pós-independências, vão se tornar autores canônicos de suas futuras literaturas nacionais. Todavia, nosso percurso privilegia escritores e intelectuais oriundos da metrópole que aderiram à resistência dos povos colonizados e que cumpriram o papel de contribuir, a seu modo, para a construção de tais redes de escrita anticoloniais. O objetivo do curso é delinear algumas dessas redes, como aquela que envolve portugueses, goeses, moçambicanos, entre outros, no oceano Índico e na Ásia, ou a que se liga ao Panafricanismo e à Negritude nas colônias africanas. De forma bastante incipiente, tentaremos também tomar a luta antirracista em Portugal como parte desse processo. Valorizaremos trabalhos mais individualizados, como determinadas obras de Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Alves Redol, Orlando da Costa, assim como aqueles que se dedicaram mais assiduamente à literatura produzida no espaço colonial, como Amândio César, Manuel Ferreira, Vimala Devi e Manuel de Seabra, Alfredo Margarido, mesclando literatura, crítica e política. No período pós-independências, críticos e escritores como Eduardo Lourenço, José Saramago, António Lobo Antunes, Boaventura de Sousa Santos serão objeto de análise do curso, assim como intelectuais que revisitam a cultura e a história colonial mais recentemente, como Miguel Vale de Almeida, Michel Cahen, Margarida Calafate Ribeiro, Teresa Cunha, Manuela Ribeiro Sanches, entre outros. A atuação das mulheres nas lutas anticoloniais também é valorizada no decorrer do curso, quer no período colonial, quer no período pós-independências, trazendo nomes como Berta Menezes Bragança (Goa), Orlanda Amarílis (Cabo Verde), Noêmia de Sousa (Moçambique), Deolinda Rodrigues (Angola), Maria Aurora Couto (Goa), Isabel Figueiredo (Moçambique), Teresa Cunha (Moçambique/Timor Leste) e Rosa Maria Perez (Goa).