O mote do curso é uma tirada de Foucault no curso Nascimento da biopolítica, de 1979, a propósito de Adam Smith: “a economia política é uma ciência sem totalidade, é uma ciência ateia”. Pareceu oportuno explorar o sentido desse verdadeiro achado, ainda que não necessariamente na direção indicada por Foucault. Interessa examinar alguns textos clássicos de David Hume e Adam Smith, buscando aí os vestígios de uma operação discreta e difusa, embora não menos incisiva, de revisão crítica de certos pressupostos da Metafísica moderna. Examinando noções como as de economia, ordem, equilíbrio, natureza e finalidade, o curso pretende oferecer uma perspectiva acerca da obra desses autores, apresentando elementos de modo a, 1) reposicioná-los na história da filosofia, para além da oposição entre empirismo e criticismo; 2) rever a atribuição a eles de limitações conceituais de origem ideológica, identificadas pela crítica da economia política no século XIX; e 3) problematizar qual teria sido sua real contribuição às linhagens de pensamento liberal e conservador que deles se apropriaram posteriormente. A ênfase das análises e discussões recairá sobre o primeiro desses itens, por ser aquele sem o qual os outros dois não poderiam ser devidamente abordados. Espera-se com isso oferecer uma perspectiva original e estimulante sobre uma questão que, ao que nos parece, ainda não caducou: a permanência da metafísica nos saberes positivos e a necessidade de problematizar esse fenômeno a partir de uma perspectiva filosófica.