O curso terá por objetivo mostrar que é possível fazer uma reinterpretação de conjunto do pensamento kantiano a partir (1) do exame das referências fisiológicas presentes em sua obra e (2) da reconstituição do modus operandi da reflexão kantiana, centrada no “ânimo” ou no conjunto de faculdades da mente. Ambiciona-se mostrar que a filosofia crítica pode ser relida em chave fisiológica, mesmo em momentos de afirmação radical da pureza do conhecimento em relação ao físico e ao empírico, como no caso da Estética transcendental. Serão dadas e analisadas evidências de que as fontes fisiológicas em que Kant se fundamenta encontram-se na obra dos médicos Johann Gotthold Krüger e Johann August Unzer, ambos com formação em Halle e seguidores, ainda que indiretamente, de Georg Ernst Stahl. Em estreita articulação com o saber fisiológico está a constituição do núcleo interno da subjetividade, localizada no “ânimo” ou o conjunto das faculdades da mente, noção que está ligada ao sentimento vital ou sentimento de prazer e desprazer. A conceituação kantiana se baseia aqui nas observações do filósofo baumgartiano Georg Friedrich Meier, amigo de Unzer. A reconstituição historiográfica e analítica do pensamento desses autores tornará possível apresentar uma nova leitura do sistema crítico como um todo.