Psicologia Clínica
Introduzir o aluno ao conhecimento da Psicopatologia Psicanalítica e Psicopatologia Fenomenológica, comparando-a com a abordagem psiquiátrica. Capacitar o aluno a identificar a sintomatologia psicopatológica, característica dos quadros neuróticos, psicóticos e limítrofes, bem como iniciá-lo no manejo teórico e prático das hipóteses diagnósticas propostas pela psicanálise a propósito das estruturas de personalidade, de modo a instrumentá-lo para a prática da psicanálise clinica, em suas variadas vertentes contemporâneas. Além de preparar o aluno, futuro psicólogo, para o imprescindível trabalho interdisciplinar em equipes, que atuam na prevenção e intervenção em Saúde Mental, permitindo ainda, um contato com a clínica, aproximando-os de pessoas em situação de sofrimento psíquico, que demandam nossa atenção e intervenção.
Pretende-se que o aluno adquira conhecimentos para: Situar e refletir sobre a questão do corpo no mundo ocidental Situar e conceituar corpo e sintoma para a Medicina e para a Psicanálise, questionando os modelos utilizados no diagnóstico e no tratamento dos diversos quadros clínicos. Situar e caracterizar as abordagens psiconeurológica, psicogenética e psicanalítica sobre os diversos quadros clínicos. Situar e delimitar o campo de atuação da Psicologia e da Psicanálise e a posição relativa das reeducações psicomotoras e/ou psicopedagógicas e dos medicamentos. Situar e delimitar o papel do psicólogo-psicanalista numa equipe de profissionais da saúde.
PROGRAMA Na presente disciplina trilharemos alguns dos registros e problemáticas atuais envolvendo as clínicas e a pesquisa da psicanálise, no Brasil e no exterior, mergulhando em algumas das tramas mais espinhosas que dizem respeito à organização da sociedade, aos paradoxos da civilização capitalista e neoliberal e aos discursos que articulam subjetividade, governamentalidade e as faces sociopolíticas do sofrimento, levando ao desamparo discursivo. Ao lançarmos um leque conceitual contemporâneo de pesquisas e evocarmos uma miríade de dispositivos atuais (clínicas públicas, acolhimento de situações traumáticas e de catástrofe, transformações do enquadre e do meta-enquadre no mundo pós-Covid 19) trataremos a psicanálise como um campo disciplinar em constante disputa e com composições e recomposições discursivas e metodológicas a partir do encontro alteritário com outras discursividades disciplinares, tais como a da antropologia, sociologia, filosofia, ciências políticas, medicina, etc. Esse esforço será empreendido a partir da noção de sofrimento (que não é um conceito psicanalítico no sentido epistemológico do termo), a qual alargaremos a partir dos conceitos de sofrimento sociopolítico e de desamparo discursivo (ROSA, 2016). Tal trama surge amarrada a uma constante problematização da própria psicopatologia imantada pela(s) psicanálise(s) no século XXI, a qual se apresenta a partir de um registro crítico tanto às categorias clássicas da psiquiatria como também àquelas formuladas atualmente em contextos de medicalização das existências, de conformação às normas e de um uso recorrente de psicofármacos, diagnósticas e terapêuticas pautadas pela performance e pela produtividade a qualquer custo. Isso implica discutir os grandes temas e discursos que atravessaram a modernidade e que se instalam nos dias de hoje tanto como enigmas como também intrincados por jogos discursivos, políticos e subjetivos extremamente complexos. Dentre os temas e discursos que privilegiaremos estará o da religião e das religiosidades no contemporâneo, visto que essas se erigem a discursividades atuantes tanto no registro do político como nos espaços de transformação, modificação e enquadramento do registro do íntimo e do singular. Interrogada pela psicanálise enquanto instituição, fenômeno coletivo e como parte constituinte da vida psíquica e cultural, a questão do religioso apareceu para Freud e seus discípulos iniciais enquanto um nódulo bastante profundo da civilização e de seu substrato neurótico. Décadas de desenvolvimento de teorias e conceitos psicanalíticos foram necessários para que pudéssemos discutir com os desdobramentos atuais este espectro da realidade social, o que só foi possível passando por autores como Jung, Winnicott, Lacan e, atualmente, com a revisitação deste campo de batalha conceitual de modo a investigarmos os aspectos da realidade psíquica e dos registros simbólico-imaginários que nos permitem desenhar alguns contornos desse fenômeno que paradoxalmente parece tanto unir os homens em seus ideais quanto relegá-los a suas diferenças mais gritantes, ao caráter de estranho tão esmagador do outro. Será com essa entrada que adentraremos em searas atuais das práticas sobre a subjetividade e os coletivos, que necessitam uma confrontação conceitual e metodológica da psicanálise de modo a seguir com o imperativo ético da psicanálise de escutar e localizar o desejo em seu tempo, naquilo que aparece tanto sincrônica como diacronicamente. Para isso trataremos de algumas das discussões mais em voga na psicanálise e na sociedade, como o racismo, as tensões envolvendo gênero e sexualidade e as diferenças culturais, econômicas e sociais, as pautas identitárias e o pensamento descolonial. Como o campo da religião e das religiosidades será metodologicamente privilegiado, nosso escopo enfrentará necessariamente a articulação desses espectros da sociedade a partir da constituição moral das disciplinas aferentes à psicanálise, notadamente naquilo que é atravessado pelo registro do religioso. Diante disso, poderemos inferir sobre alguns dos destinos para os esforços clínicos e a pesquisa psicanalítica atualmente, em particular naquilo que dialoga com as possibilidades dessa disciplina em espaços universitários brasileiros e com as leituras em perspectiva entre as concepções de colonialidade do saber, do poder e do ser, de forma a fundamentar a importância de uma leitura descolonial e crítica sobre a epistemologia psicanalítica, propondo então giros epistêmicos. OBJETIVOS O seminário de pesquisa apresentará a atualidade da noção de sofrimento em psicanálise e em diferentes disciplinas, de modo a reconstruir balizamentos necessários para tratar temas atuais que atravessam os discursos sociais organizadores das disciplinas e de práticas de subjetivação, almejando localizar os efeitos do mal-estar na modernidade e no contemporâneo. Para isso, privilegiaremos alguns dos registros aferentes da civilização e da organização do espaço da cultura e da política, em particular os discursos da religião, da religiosidade e o papel dos mesmo na confecção das práticas disciplinares atuais e dos paradoxos que levam à organização dos discursos e formas de governar e atuar sobre o sofrimento através da manutenção de dispositivos e modalidades de subjetivação e discursividade que conformam o sujeito num ethos de segregação, indiferença e permeável a discursos de ódio, como os do racismo e da violência de gênero e sobre populações específicas. Trataremos de ler as possibilidades, limitações e paradoxos da clínica, da pesquisa e das concepções de sofrimento e de psicopatologia em psicanálise e nas disciplinas conexas do campo social, tendo em vista a levantar alguns dos nós atuais da subjetividade e como estes vêm sendo explorados por algumas das correntes contemporâneas da psicanálise. Isso será material para entendermos algumas das dificuldades tanto na transmissão como no desenvolvimento da psicanálise e das práxis que dela bebem. Assim teremos como escopo analisar a pertinência de certas discussões em espaços onde a psicanálise circula, seja na universidade, na mídia, nas redes sociais e também ali onde ela se faz enquanto objeto tanto de transmissão como enquanto prática para ação e/ou militância e ativismo.
Levar o aluno a um conhecimento histórico-crítico das concepções psicológicas sobre o sofrimento humano, por meio de uma apresentação genealógica das práticas de si mesmo, como apresentado por Michel Foulcaut, a fim de problematizar e referenciar os modelos clínicos utilizados no campo da Psicologia Clínica na atualidade