III. Português do Brasil: História social
Português do Brasil: História social
Autor desconhecido. Do monstro marinho que se matou na capitania de Sam Vicente no anno de 1564. Gravura em Gandavo, P. M. de. História da prouincia Sãcta Cruz que vulgarme[n]te chamamos Brasil. Em Lisboa: na officina de António Gonsaluez: vendense em casa de Ioão Lopez, 1576. Cap. IX. Facsímile digital, Biblioteca Nacional de Portugal. Disponível em: http://purl.pt/121.
Introdução
Preparação para o trabalho no tópico
Nesta parte do curso estaremos explorando a História Social do Português do Brasil, tópico que separarei em três pontos:
- Panorama social e linguístico de Portugal e das Américas no início da Idade Moderna
- Fatores sócio-históricos na implementação do português na América (séculos XVI e XVII)
- Fatores sócio-históricos na consolidação do português no Brasil (séculos XVIII, XIX e XX)
Exploraremos estes pontos por meio da leitura e discussão de quatro textos fundamentais: Câmara Jr. (1975); Castilho (2010, Cap. 3); Ilari e Basso (2009, Cap. 2); e Teyssier (2014, Cap. 4). Como enriquecimentos, trabalharemos com os seguintes itens da bibliografia complementar: Boxer (2002[1969]), Castilho (1992), Galves (2007), Lucchesi (2001; 2004), Lobo (2015), Oliveira e Lobo (2009). Para começar a entrar no tema, analisaremos juntos em sala, os primeiros 15 minutos do filme Desmundo (Fresnot, 2002). Seguem mais abaixo as referências e ligações para os textos fundamentais, a leitura complementar, e as leituras e materiais de apoio.
'Desmundo'
Direção de Alain Fresnot,
Roteiro de Sabina Anzuategui
Fresnot A, diretor; Anzuategui S, roteirista. Desmundo. [filme]. Rio de Janeiro: AF Cinema e Vídeo; 2002.
Trechos para análise e debate:
- 03:16 (-1.35.00): "... a falta que nesta terra há de mulheres com que os homens casem e vivam em servício de Nosso Senhor"
- 04:38 (-1.34.00): "Me pesa ler, vou dar ao principal"
- 04:52 (-1:33:44): "Não vejo nem migalha de donas"
- 05:10 (-1:33:25): "São bem de saúde?"
- 06:30 (-1:32:00): "Onde são minhas frores? Ah... são fremosas!"
- 09:35 (-1:29:02): "Roga ao padre que me torne ao convento"
- 10:12 (-1:28:26): "Seêncio! São aquestos os negros tupinambás? Os tales que aprisionaram os blancos?"
- 12:03 (-1:26:34): "Melhor era se el-Rei nos mandara armas para nossa defensão"
- 14:00 (-1:24:40): "Dona Oribela de Covilhã!"
Carta de Manoel da Nóbrega ao Rei (1552)
A EL-REI D. JOÃO
(1552)
JESUS
Nosso Senhor Jesus Christo dê muita graça e consolação a
Vossa Alteza sempre. Amen.
(...)
Já que escrevi a Vossa Alteza a falta que nesta terra ha de
mulheres, com quem os homens casem e vivam em serviço de Nosso
Senhor, apartados dos peccados, em que agora vivem, mande
Vossa Alteza muitas orphãs, e si não houver muitas, venham de
mistura dellas e quaesquer, porque são tão desejadas as mulheres
brancas cá, que quaesquer farão cá muito bem á terra, e ellas se
ganharão, e os homens de cá apartar-se-hão do peccado.
Esta terra é tão pobre ainda agora, que dará muito desgosto
aos officiaes de Vossa Alteza que lá tem com terem muito gasto,
e pouco proveito ir de cá, maiormente aquelles, que desejam mais
irem de cá muitos navios carregados de ouro, que para o Ceu,
muitas almas para Christo; si se não remediar em parte, com Vossa
Alteza mandar moradores que rompam e queiram bem á terra,
e com tirar officiaes tantos e de tantos ordenados, os quaes não querem
mais que acabar seu tempo e ganhar seus ordenados, e terem
alguma acção de irem importunar a Vossa Alteza; e como este é
seu fim principal, não querem bem á terra, pois têm sua affeição
em Portugal; nem trabalham tanto para favorecer como por se
aproveitarem de qualquer maneira que puderem; isto é geral, posto
que entre elles haverá alguns fora desta regra
(Fonte: Nóbrega, Manuel da. A El-rei D. João. In: Cartas Avulsas, 1550-1568. Edição de Alfredo do Valle Cabral. Rio de Janeiro: Officina Industrial Gráfica/Academia Brasileira, 1931).
Textos fundamentais
- Câmara Jr JM. Línguas europeias de ultramar: o português do Brasil, 1975.
- Castilho AT de. Nova gramática do português brasileiro, 2010.
→ Capítulo 3, História do português brasileiro. p. 169-196. Ilari R, Basso R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos; 2009.
→ Capítulo 2, O Português na América. p. 49-94.Teyssier P. História da língua portuguesa; 2014.
→ Capítulo 4, O português do Brasil. p. 62-75.
Leituras e outros materiais complementares
- Boxer, CR. A orla ocidental da cristandade. In: O Império marítimo português. São Paulo: Companhia das Letras; 2001. p. 15-28. [ou: In: O Império colonial português, 2a. ed., Edições 70; 1981. p. 24-35]
- Castilho AT de. O português do Brasil In: Ilari R. Linguística românica; 1992. p. 237-269.
- Galves, C. A língua das caravelas: periodização do português europeu e
origem do português brasileiro, 2007. In: Castilho A. et al., Organizadores. Descrição, história e aquisição do português
brasileiro; 2007. p. 513-528.
- Lucchesi D. As duas grandes vertentes da história sociolinguística do Brasil; 2001.
- Lucchesi D. Grandes territórios desconhecidos; 2004.
- Lobo T. Rosa Virgínia Mattos e Silva e a história social linguística do Brasil; 2015.
- Oliveira K, Lobo T. Introdução (Ou como a África, no Brasil, avista a escrita). In: Lobo T, Oliveira K, organizadores. África à vista. Dez estudos sobre o português escrito por africanos no Brasil do séc. XIX; 2009.
- Fresnot A, diretor. Desmundo. [filme]. Rio de Janeiro: AF Cinema e Vídeo; 2002.