Publicada em: 11/09/2002 às
11:12 |
|
As Teorias de Aprendizagem e os Recursos da Internet
Auxiliando o Professor na Construção do
Conhecimento Ana Maria Mielniczuk de Moura (Texto para download: Formato Word (.DOC)) RESUMO
O objetivo do presente artigo é abordar as diversas teorias da
aprendizagem (empirismo, o apriorismo e construtivismo) e os recursos da
Internet para auxílio do professor no processo de construção do
conhecimento. Será analisada a importância do trabalho cooperativo no
processo ensino-aprendizagem, especialmente em ambientes de educação a
distância, onde a interação e a ação são fundamentais para que se
concretize o conhecimento. 1. INTRODUÇÃO
Promover a aprendizagem no aluno é o objetivo principal do
professor. Para atingir este objetivo não basta ao professor dar uma boa
aula, trabalhar bem os conteúdos, ele deve ter bem claro as concepções
teóricas que fundamentam a sua prática. Segundo Grigoli (1990), o professor, via de regra, vai
intuitivamente e empiricamente construindo a sua própria didática calcada
nos modelos que conheceu como aluno e no bom senso que ajuda a filtrar os
procedimentos que "funcionam". Desse processo resulta, com o passar do
tempo, um "jeito" de organizar e conduzir o ensino que, geralmente não
chega a ser tomado com reflexão nem pelo professor individualmente e,
menos ainda, pelo conjunto de professores que lecionam um dado curso. Paralelamente ao avanço tecnológico o conhecimento humano vem
crescendo exponencialmente. Exige-se do professor uma postura diferente da
tradicional visando possibilitar que o aluno "aprenda a aprender" e
consiga ter acesso a toda informação disponível em fontes de pesquisa as
mais variadas, inclusive pela internet. Torna-se necessário que o aluno e
professor conheçam os recursos existentes e saibam lidar com eles, de
maneira que possam agir, interagir e como conseqüência construir o
conhecimento. De acordo com Paulo Freire (1985) que diz que o núcleo
fundamental que sustenta o processo de educação é a inclusão do homem que
se educa, porque tem consciência que é um ser inacabado que se encontra
numa busca constante de ser mais. Aprendizagem é o processo pelo qual o ser humano se apropria do
conhecimento produzido pela sociedade. Em qualquer ambiente, a
aprendizagem é um processo ativo que conduz a transformações no homem. O meu objetivo deste texto é discutir a construção do
conhecimento à luz das diversas teorias sobre a aprendizagem, tentando
fazer um contraponto entre elas, e abordar os recursos disponíveis na
Internet que podem auxiliar o professor no processo de
ensino-aprendizagem. 2. Teorias da Aprendizagem
A história do pensamento humano remonta à antiguidade.
Parmênides de Eléia, no início do século V a. C., afirmava que o que é
verdadeiro é imutável, caso contrário é mera "doxa" (opinião). Nesse
período, Sócrates se destaca entre os atenienses pelas contribuições
legadas à filosofia e à ciência de seu tempo, embora não tenha deixado
nenhuma obra escrita, pois seu ensino era pela conversação e acreditando
em uma missão anterior, tornou-se educador público e gratuito, mostrando
que "opiniões não são verdades, pois não resistem ao diálogo crítico".
(Chassot, 1997). Platão enriqueceu a obra de Sócrates, segundo ele o mundo
conhecido por nós não é a verdade, o móvel é mera representação do
verdadeiro e se encontra num mundo à parte, o "Mundo das Idéias".
Aristóteles, discípulo de Platão, que defende a concepção de que "a
essência de cada coisa está na própria coisa", foi um dos primeiros a
fazer pesquisas científicas. Na Idade Moderna, René Descartes colocou em dúvida o pensamento
de Aristóteles, questionou até que ponto conhecíamos a verdade. Para ele,
os homens se baseavam em opiniões, mas estavam longe de ter certezas. A
partir desta época surge o movimento filosófico chamado Empirismo: "só é
verdadeiro aquilo que é demonstrável" (Franco, 1986). A preocupação com a natureza do conhecimento humano aparece na
obra de Emmanuel Kant (1781) que surge como uma teoria do conhecimento.
Para ele o conhecimento humano é relativo ao próprio homem. "Não
conhecemos as coisas em si, mas a imagem que produzimos das mesmas" . A partir do século XIX e início do século XX, ainda com a
permanência das teorias empiristas e aprioristas surgem novas correntes,
como a do Positivismo de Augusto Comte, o qual afirma que só se pode ter
como verdadeiro aquilo que apreendemos pelos nossos sentidos e que pode
ser mensurado. E o construtivismo de Piaget surge como o contra-ponto
entre as teorias existentes. Procurarei tratar o assunto do ponto de vista de sua
epistemologia, tendo como referência as idéias de Piaget contrapondo as
duas grandes correntes: empirismo e apriorismo. 2.1. Empirismo
Na epistemologia empirista, a única fonte de conhecimento humano
é a experiência adquirida em função do meio físico mediada pelos sentidos.
O sujeito encontra-se, por sua própria natureza, vazio, como uma "tábua
rasa", uma folha de papel em branco. "Não há nada no nosso intelecto que
não tenha entrado lá através dos nossos sentidos" diz Popper (apud Becker,
1994). O desenvolvimento do empirismo ocorreu na Inglaterra,
principalmente nos séculos XVII e XVIII, com John Locke (1632-1704). Para
Locke, o homem não pode atingir a verdade definitiva, pois tem nos fatos,
e não nele, a fonte principal para tal explicação. Refuta a idéia das
teorias inatas e com isso destaca a importância da educação e da instrução
na formação do homem. Piaget faz objeção à teoria empirista que "tende a considerar a
experiência como algo que se impõe por si mesmo, como se fosse impressa
diretamente no organismo sem que uma atividade do sujeito fosse necessária
à sua constituição." (Becker, 1998, p.12 ) Mas Piaget concorda com o
empirismo no fato de afirmar que o conhecimento vem da experiência. "Sem o
contato com o mundo externo não há como produzir conhecimento". A teoria do associacionismo surge a partir do aparecimento, no
sujeito, de estruturas de conhecimento impostas pelo mundo do objeto ou
meio físico e social. A teoria do condicionamento reflexo surge com Pavlov
(1849-1939), fisiólogo russo, que desenvolveu experiências com cachorros
investigando os comportamentos reflexos originados por estímulos. Ele
analisou o processo de salivação produzido por um estímulo, inicialmente
neutro. A salivação, resposta condicionada, era provocada no animal após o
toque de uma campainha à qual seguia-se imediatamente uma porção de carne.
Depois de algum tempo em que o estímulo (pedaço de carne) foi retirado, a
campainha torna-se capaz de eliciar a resposta de salivação. J. B. Watson (1878-1958) realizou estudos sobre a influência do
meio no comportamento animal e humano, a partir de um programa de estímulo
e resposta. Todo estímulo eficaz provoca sempre uma resposta imediata, de
alguma espécie. Utilizando o termo behavorismo (comportamentalismo), J. B.
Watson definia a psicologia como sendo "a ciência que estuda o
comportamento observável, mensurável e possível". B. F. Skinner (1904-1984), psicólogo americano, utilizou o
modelo experimental de Watson para o estudo do comportamento humano, sendo
sua teoria conhecida como "Condicionamento Operante" . Para os
behavoristas, o homem é uma caixa preta, na qual não se enxerga o que
ocorre dentro, somente o que nela entra e dela sai. Desta forma, um
estímulo gera uma resposta e isto basta. O estímulo pode ser chamado de
reforço, que nada mais é do que a recompensa. Este reforço pode ser
positivo, no caso em que o estímulo apresentado após a resposta aumenta a
probabilidade de ocorrência da mesma. O reforço é dito negativo quando a
resposta reforçada é aquela que elimina um estímulo aversivo. Tanto um
reforço como o outro aumentam a probabilidade de resposta. A extinção do
estímulo elimina uma resposta pela supressão do reforço e uma punição visa
à eliminação de uma resposta pela apresentação de um estímulo
aversivo. A aprendizagem para o behavorismo é entendida como uma
modificação do comportamento provocada pelo agente que ensina, pela
utilização adequada dos estímulos reforçadores, sobre o sujeito que
aprende. A pedagogia para os empiristas é diretiva. O aluno aprende, se e
somente se, o professor ensina. O professor acredita no mito da
transferência do conhecimento. O professor possui o saber e detém o poder
estabelecido por hierarquia: "O professor ainda é um ser superior que
ensina a ignorantes. O educando recebe passivamente os conhecimentos,
tornando-se um depósito do educador" ( Freire, 1985, p. 38). 2.2. Apriorismo
A epistemologia apriorista opõe-se ao empirismo por considerar
que o indivíduo, ao nascer, traz consigo, já determinadas, as condições do
conhecimento e da aprendizagem que se manifestarão ou imediatamente
(inatismo) ou progressivamente pelo processo geral de maturação. Toda a
atividade de conhecimento é exclusiva do sujeito, o meio não participa
dela. Dentro do apriorismo surge a teoria da forma ou da Gestalt: o
conhecimento se produz porque existe no ser humano uma capacidade interna
inata que predispõe o sujeito ao conhecimento; há uma super valorização da
percepção como função básica para o conhecimento da realidade. Chega a
confundir percepção com cognição (Hilgard,1973). A teoria da Gestalt,
conhecida como a da aprendizagem por "insight", veio questionar o
associacionismo americano, principalmente com as obras de Koffka (1924) e
K‚hler (1925). Os teóricos da Gestalt falam em traços de memória, que são
efeitos que as experiências deixam no sistema nervoso. Estes traços de
memória formam totalidades isoladas chamadas de gestalts. Aprender não é
uma questão de adicionar traços novos e subtrair os antigos, mas uma
questão de transformar uma gestalt em outra. A gestalt concebe os
processos psicológicos como função do campo presente e nega o papel
explicativo às experiências passadas nas situações que seguem umas as
outras.
Piaget concorda com a teoria de Gestalt em relação a totalidade, o
conceito de esquema de Piaget que pode ser comparado a uma "forma" ou
gestalt; mas, como gênese são opostos, pois o esquema de Piaget é
construído e a estrutura da gestalt é dada. Gestalt é um esquema que não
tem história porque não leva em conta a experiência anterior. Outro ponto
de concordância tem relação com as raízes bioleogicas: as raízes do
intelecto não estão numa "faculdade" qualquer, mas na organização
biológica. A pedagogia apriorista é não-diretiva, difícil de se viabilizar,
portanto não é fácil de detectar sua presença na prática da sala de aula.
O professor é um auxiliar do aluno, um facilitador. O aluno já é um saber
que ele precisa, apenas, trazer à consciência, organizar, ou ainda,
rechear de conteúdo. O professor deve intervir o mínimo possível. 2.3. Construtivismo O construtivismo ou interacionismo representa uma postura
epistemológica que compreende a origem do conhecimento na interação do
sujeito com o objeto. A epistemologia construtivista de Piaget ou Epistemologia
Genética se ocupou fundamentalmente do sujeito epistímico, ou seja, de
problemas ligados à inteligência. Piaget traçou parelelos e analogias
entre a Biologia e a Psicologia e mostrou que a inteligência é o principal
meio de adaptação do ser humano. "Com efeito, a vida é uma criação
contínua de formas cada vez mais complexas e uma equilibração progressiva
entre essas formas e o meio. Dizer que a inteligência é um caso particular
de adaptação biológica é, pois, supor que ela é, essencialmente, uma
organização e que sua função consiste em estruturar o universo da mesma
forma que o organismo estrutura o meio imediato"(Piaget, 1979, p.10). A
inteligência não cria organismos novos, mas constrói mentalmente
estruturas suscetíveis de aplicar-se às estruturas do meio. Ela constitui
uma atividade organizadora cujo funcionamento prolonga o da organização
biológica e o supera, graças a elaboração de novas estruturas.
Segundo Piaget, o conhecimento se constrói na interação do sujeito
com o objeto. Estruturas não estão pré-formadas dentro do sujeito, são
construídas. Há, no ser vivo, elementos variáveis e invariáveis. Ocorre
uma construção contínua de estruturas variadas. A analogia entre biologia
e inteligência só pode ser apreendida retendo as invariantes funcionais
que lhes são comuns. Os funcionamentos invariantes devem ser situados no
âmbito das duas funções biológicas mais gerais: a organização e a
adaptação. A adaptação é um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação.
O organismo vivo é um ciclo de processos dinâmicos que vão sofrendo
transformações para manter a homeostasia. A assimilação ocorre para que
haja as transformações necessárias, tanto do ponto de vista físico,
biológico como intelectual. "A inteligência é assimilação na medida em que
incorpora nos seus quadros todo e qualquer dado da experiência. Quer se
trate do pensamento quer graças ao juízo faz ingressar o novo no
desconhecido e reduz assim o universo às suas noções próprias, quer se
trate da inteligência sensório motora que estrutura as coisas percebidas,
integrando-as nos seus esquemas." ( Piaget, 1979, p. 16). A acomodação se torna necessária para ajustar os novos dados
incorporados aos de esquemas anteriores no processo de assimilação,
produzindo a adaptação. Cada esquema é coordenado com os demais e
constitui ele próprio uma totalidade formada de partes diferenciadas. A inteligência constitui uma atividade organizadora cujo
funcionamento prolonga o da organização biológica e o supera, graças à
elaboração de novas estruturas. A organização é coerência formal,
inseparável da adaptação que, por sua vez , é o equilíbrio entre
assimilação e acomodação. Esta diz respeito a experiência, não recepção
passiva, mas correlativa à acomodação. O ato de julgamento, união de
conteúdos experimentais à forma lógica, é função da assimilação. Para Piaget, o conhecimento tem início quando o recém-nascido,
através de seus reflexos que fazem parte de sua bagagem hereditária, age
assimilando alguma coisa do meio físico ou social. Ele se dedicou a
estudar, a partir das estruturas iniciais do recém-nascido as sucessivas
estruturações, discernindo um conjunto de etapas características, chamadas
estágios ou níveis de conhecimento. Aos estágios correspondem certas
estruturas cognitivas que, em cada um, são constituídas por novos esquemas
de atividades cognitivas (Kesselring, 1990). Essa divisão em estágios não
é arbitrária, mas corresponde a critérios bem definidos e a idade indicada
em cada nível é relativa. O primeiro estágio é o da inteligência sensório-motora, a
criança trabalha encima de seus reflexos inatos (sugar, engolir, tossir,
agarrar, etc.) e aprende a se movimentar e dirige as sensações na
construção do objeto. Piaget chama este nível de sensório motor, porque
com seus movimentos físicos a criança dirige as sensações provenientes do
meio, e vice-versa. O nível três é o das operações concretas, começa o pensamento
lógico. O pensamento é estritamente ligado à realidade física. Neste
estágio abre-se novos horizontes, surge a linguagem escrita, mundo dos
números e da lógica. A criança é capaz de coordenar as direções espaciais
subjetivas em posições diferentes; conversar de maneira não egocêntrica:
pôr-se na situação de outrem sem perder de vista a própria perspectiva
pessoal; distingüir diferenças, no plano psicológico, existentes entre ela
e outra pessoa; coordenar as duas relações: intenção-ação e
ação-conseqüência. Por volta dos 12 anos a criança inicia o quarto nível, que
Piaget chama de "Operações Formais". O raciocínio, antes concreto,
torna-se abstrato. Raciocínio hipotético e dedutivo, que inicia por
hipóteses e procede segundo regras lógicas. O pensamento emancipa-se da
presença do material concreto. Com a reflexão sobre o esquema da
proporcionalidade abre-se o universo matemático das funções lineares, e
com a reflexão das funções abre-se o universo do cálculo diferencial e
integral. Os estágios possuem um caráter interativo. Conteúdo do
conhecimento de um dado nível é constituído pelas formas refletidas do
nível anterior. Assim as estruturas sensório-motoras são parte integrante
das estruturas pré-operatórias, e estas das operatórias que, por sua vez
integram-se nas operações formais. Em cada estágio ocorre um patamar de equilíbrio e os estágios
constituem um processo de equilibrações sucessivas. "A partir do instante
em que o equilíbrio é atingido num ponto, a estrutura integra-se num novo
equilíbrio em formação até ser alcançado novo equilíbrio , sempre mais
estável e de campo sempre mais extenso" (Piaget, 1973, p.65). A seqüência dos estágios é fixa para cada indivíduo, mas pode
ocorrer em idades diferentes. Admite-se hoje que nem todos os sujeitos
atingem os estágios mais avançados propostos por Piaget. Um aspecto
importante do trabalho de Piaget refere-se ao papel da abstração na
construção do conhecimento. Abstrair significa separar, tirar algo do seu
ambiente, pôr de lado. Piaget destaca dois tipos de abstração: a empírica e a
reflexionante. Abstração empírica tem relação com o conhecimento adquirido
diretamente dos objetos, o que pode ser observado pelos sentidos
(percepção). Ela dá origem a um esquema do existente, mas não se
transforma em operações mentais. É uma assimilação dos dados às estruturas
mentais existentes. Caracteriza o aspecto estático do conhecimento. O aspecto dinâmico do conhecimento é representado pela abstração
reflexionante, que consiste em extrair as estruturas do pensamento, os
esquemas assimiladores e seu funcionamento específico. Constitui a própria
organização das estruturas mentais tendo em vista a acomodação. O processo de abstração reflexionante consiste em dois momentos,
reflexionamento e reflexão. O "reflexionamento" seria a projeção de um
conhecimento em um patamar superior, enquanto a "reflexão" corresponderia
ao processo mental de reconstrução e reorganização do conhecimento
transferido do patamar inferior (Becker,1994). Outra consideração importante, na concepção de Piaget, refere-se
a motivação. Ela é o elemento afetivo que impulsiona as estruturas do
conhecimento e dá origem a um esforço a ser desenvolvido. Quando um
problema desafia a inteligência da criança, ela tem necessidade de agir
para restabelecer o equilíbrio. Piaget chama isso de desequilíbrio ou
conflito cognitivo. O conceito de aprendizagem para Piaget envolve sempre uma
atividade inteligente, através da descoberta (abstração empírica) ou
invenção (abstração reflexionante). Os interesses espontâneos das crianças
refletem com freqüência um desequilíbrio e podem constituir fontes de
motivação. Considerando o ponto de vista interacionista da motivação para a
aprendizagem impõe-se uma reformulação das práticas pedagógicas
tradicionais. Os educadores deverão desenvolver estratégias que encorajem
o desequilÌbrio através de métodos ativos. A pedagogia construtivista é relacional. O professor acredita
que seu aluno é capaz de aprender sempre e a partir do que o aluno
construiu até hoje, ocorre nova construção de conhecimento. "O professor,
além de ensinar, passa a aprender; e o aluno, além de aprender, passa a
ensinar" (Freire, apud Becker, 1994). Embora sem nos estendermos muito, não poderíamos deixar de citar
os trabalhos de Vygotsky, que apesar de não considerá-lo construtivista (
como muitos o fazem) é um interacionista. Para ele o conhecimento é um
produto da interação social e da cultura. Concebe o sujeito como um ser
eminentemente social e o conhecimento como produto social. A preocupação
de Vygotsky está nas relações entre o pensamento verbal e a linguagem. Um conceito importante no trabalho de Vygotsky relaciona-se com
a importância da relação e da interação com outras pessoas como origem dos
processos de aprendizagem e desenvolvimento humano. Para Piaget, aquilo que uma criança pode aprender é determinado
pelo seu nível de desenvolvimento cognitivo, enquanto que para Vygotsky o
desenvolvimento cognitivo é condicionado pela aprendizagem. Dessa forma,
mantém uma concepção que mostra a influência permanente da aprendizagem na
forma em que se produz o desenvolvimento cognitivo. Segundo ele, um aluno
que tenha mais oportunidade de aprender que o outro irá adquirir mais
informação e alcançará um desenvolvimento cognitivo melhor ( Carretero,
1997). A concepção construtivista contrapõe-se ao inatismo, que coloca
o centro da produção no próprio sujeito, e também ao empirismo, que ao
contrário, vê a realidade exterior ao sujeito que aprende como de todas as
suas explicações. O inatismo e o empirismo, embora opostos entre si, têm
em comum a passividade do sujeito enquanto que no interacionismo o sujeito
é ativo.
Aprendizagem é, por excelência, construção; ação e tomada de
consciência da coordenação das ações. Na prática pedagógica é importante o
professor conhecer como ocorre a aprendizagem e ter claro a sua posição.
No ensino de Ciências, como no ensino informatizado, existe um consenso de
que as atividades experimentais são essenciais para a aprendizagem
científica, mas essas atividades devem levar o aluno a ter ações eficazes,
modificando suas estruturas e, talvez, até criando uma nova estrutura,
sempre a partir de um processo de desenvolvimento. Durante muito tempo a escola teve por única tarefa transmitir à
criança os conhecimentos adquiridos pelas gerações precedentes e
exercitá-la nas técnicas especiais do adulto. Povoar a memória e treinar o
aluno na ginástica intelectual pareciam, pois, ser as únicas coisas
necessárias, uma vez que se concebia a estrutura mental da criança como
idêntica à do homem feito e que portanto, parecia inútil formar um
pensamento plenamente constituído que apenas exigia ser exercitado. Nessa
concepção, a escola por certo supõe uma relação social indispensável, mas
apenas entre o professor e os alunos: sendo o professor o detentor dos
conhecimentos exatos e o perito nas técnicas a serem adquiridos, o ideal é
a submissão da criança à sua autoridade, e todo contato intelectual das
crianças entre si nada mais é que perda de tempo e risco de deformação ou
de erros. Mas três tipos de observação vieram complicar essa visão
simplista das tarefas do ensino e da educação intelectual e impor ao mesmo
tempo a necessidade de colaboração dos alunos entre si. (Piaget, 1998) O professor hoje, não é mais o detentor do conhecimento, aquele
que sabe tudo e seus alunos são meros receptores do conhecimento. Com as
milhares de informações que estão ao alcance de todos principalmente na
Internet, o trabalho isolado do professor já não satisfaz mais. As
mudanças de postura, a quebra de paradigmas faz com que o trabalho do
professor não seja mais isolado. Com isso o trabalho em conjunto,
cooperativo vem de encontro com as necessidades dos alunos na busca da
construção do conhecimento e o professor entra como mediador, orientador
deste conhecimento, aquele que mostra os caminhos para seus alunos em
conjunto buscarem de forma interativa o saber e a construção de novos
saberes. Neste ambiente o professor continuará sendo professor, mas um
professor mediador e orientador e não mais o detentor do conhecimento pois
o trabalho cooperativo ele aprenderá com seus alunos. O trabalho cooperativo independe se o professor estará
trabalhando com crianças, adolescentes ou adultos, o que importa nesse
trabalho é a troca e a busca por um objetivo comum resultando na
construção do saber que acontece através do compartilhamento de
informações e conhecimentos entre os participantes: "A cooperação, no
sentido geral, consiste no ajustamento do pensamento próprio ou das ações
pessoais ao pensamento e às ações dos outros, o que se faz pondo as
perspectivas em relação recíproca. Assim, um controle mútuo das atividades
é exercido entre os parceiros que cooperam." (Montangero, 1998, p.121) O trabalho cooperativo é uma forma de contribuir para o grupo de
forma individual, onde em um grupo cada um faz a sua contribuição sem que
o grupo discuta e reflita juntos sobre a contribuição dada. Um exemplo
disso é um trabalho onde o grupo deve ler e fazer uma análise de um livro
e o mesmo decide dividir o livro em capítulos e cada um lê e dá a sua
contribuição da parte que ficou, e na apresentação cada um contribuirá
apenas com a parte que leu e fez a síntese. Nesses casos o grupo encontra uma estratégia para solucionar um
problema de forma colaborativa através da interação e comunicação que são
essencialmente sociais. "A cooperação, com efeito, é um método característico da
sociedade que se constrói pela reciprocidade dos trabalhadores e a
implica, ou seja, é precisamente uma norma racional e moral indispensável
para a formação das personalidades, ao passo que a coerção fundada apenas
sobre a autoridade dos mais velhos ou do costume, nada mais é que a
cristalização da sociedade já construída e enquanto tal personalidade não
tem justamente nada de oposto às realidades sociais, pois constitui, ao
contrário, o produto por excelência da cooperação." (Piaget, 1998, p.
141) Uma sociedade só cresce com a participação, cooperação e
colaboração de todos. Sem a interação do grupo, uns cooperando e
colaborando com os outros estaríamos ainda na "idade da pedra". Crescemos
e construímos porque somos seres capazes de conviver em uma sociedade onde
cada um isoladamente contribui para que a mesma se desenvolva trazendo
benefícios para todos. No momento em que estamos participando ativamente
com o meio, estamos aprendendo e repassando conhecimentos. A busca
constante pelo aprendizado, faz com que as pessoas construam seus
conhecimentos de forma interativa com o meio. Piaget (1998) destaca três pontos que devem ser considerados nos
aspectos da socialização intelectual da criança para avaliar o trabalho em
grupo: • Primeiro: o indivíduo fechado no egocentrismo inconsciente, só se
descobre quando aprende a conhecer os outros. Os pontos apresentados por Piaget nos leva a pensar sobre o
trabalho em grupo que envolve principalmente a cooperação. Mas antes da
cooperação, o saber se abrir, conhecer os outros para poder conhecer a si
mesmo é fundamental para o trabalho em conjunto. Como poderíamos trabalhar
se não conhecêssemos os nossos colegas. No trabalho cooperativo faz-se necessário o conhecimento do
objetivo comum do grupo, todos envolvidos em solucionar uma tarefa,
alcançar o objetivo e para que isso aconteça o grupo deve ter um
equilíbrio, onde todos participam, evitando os abusos de autonomia por
parte do coordenador e o cuidado para não deixar alguém de fora, sem
participar. O trabalho em grupo quando acontece de forma normal, onde todos
cooperam, colaboram e interagem torna a aprendizagem significativa, pois
com as trocas eles constróem o conhecimento em conjunto. "Os seres humanos
constróem conhecimentos à medida que tentam tirar sempre o melhor proveito
de suas experiências." (Kamii, 1996, p. 68) Com as experiências do grupo, os estudantes vão construindo seus
conhecimentos a partir das experiências dos colegas, tornando a
aprendizagem efetiva. Para Vygotsky (1998), a interação social exerce um papel
fundamental no desenvolvimento cognitivo. Para ele, cabe ao educador
associar aquilo que o aprendiz sabe a uma linguagem culta ou científica
para ampliar seus conhecimentos daquele que aprende, de forma a integrá-lo
histórica e socialmente no mundo, ou ao menos, integrá-lo intelectualmente
no seu espaço vital. Ainda Vygotsky, nos coloca que a aprendizagem é mais do que a
aquisição de capacidades para pensar, é a aquisição de muitas capacidades
para pensar sobre várias coisas. Certamente o ato de pensar faz com que a
aprendizagem aconteça, mas temos capacidade suficiente para pensar sobre
muitas coisas ao mesmo tempo, e construir o conhecimento a partir do ato
de pensar. Trazendo estes conceitos para a área da informática na educação,
podemos considerar que, para um trabalho obter resultados positivos,
podemos utilizar as tecnologias da informação e comunicação de forma que
possam contribuir para o aprendizado dos estudantes. E para que isso
ocorra o trabalho deve ser cooperativo, colaborativo e interativo. Cooperativo no sentido dos trabalhos em grupos, onde todos
participam, contribuem de forma conjunta para atingir os objetivos comuns
do grupo. Esse trabalho pode ser feito através do Chat ou a utilização do
NetMeeting com o compartilhamento de arquivos on-line, no caso de ser a
distância, caso seja presencial através da troca verbal de informações e
expositiva. Colaborativa através da troca de materiais encontrados, onde
individualmente, cada integrante do grupo dá sua contribuição. Essas
contribuições podem ser de forma presencial ou a distância. A distância as
contribuições podem ser através de uma lista de discuss"o, e-mail entre
outros. Interativa no sentido de tornar o trabalho integrado, onde todos
possam interagir para que o trabalho em grupo se torne significativo para
os participantes. Em ambientes de aprendizagem a distância devemos considerar
importante todos os aspectos, principalmente os cognitivos. É um estudo
que deve ser levado a sério, pois precisamos compreender como se dá os
processos de aprendizagem à distância, como acontece a construção do
conhecimento nesses ambientes. As teorias são essenciais e fundamentais
para podermos entender esses processos e construir a nossa própria
aprendizagem. 3.1. Internet e a Busca do Conhecimento
O professor, além de conhecer as teorias existentes sobre a
aprendizagem, deve também saber utilizar os recursos disponíveis através
da Internet. Este conhecimento dos recursos e fontes poderá ser aplicado
na construção do conhecimento, tanto do professor como dos alunos. A rede mundial de computadores, Internet ou WWW (World Wide Web)
ocupa um espaço cada vez maior no dia-a-dia pessoal e profissional. Sua
existência tem sido imposta na vida de todos, seja por anúncios na
televisão, revista ou jornais. Para muitos é uma presença mística, uma
super-presença. Imaginam que seja quase um ser vivo e que contenha toda
informação do mundo. O acesso a todo este conhecimento, contudo, parece
estar reservado para aqueles que entendem os jargões relacionados aos
recursos de busca (Mckeown, 1997). Na atualidade, a Internet permite a possibilidade não só de
buscar informações, como também auxiliar o professor no processo de
educação a distância, utilizando novos métodos de interação com o aluno,
como participação em chats, listas de discussão, e videoconferências. "Surfar" na Internet pode ser comparado a viajar para algum
lugar desconhecido sem um mapa. Obter conhecimento requer esforço:
perguntas simples não funcionam. As questões devem ser estruturadas e
utilizar-se do auxílio de diretórios de busca da Internet. Muitas
organizações profissionais já têm sua página na Internet. Estas páginas
são um ponto de início para quem busca informações específicas na rede
mundial de computadores (Drake, 1999; O'Reilly, 2000). Os diretórios de busca na Internet facilitam a recuperação da
informação de forma rápida, e se classificam em: a) diretórios, que
organizam a informação por assunto permitindo uma busca por assuntos
pré-estabelecidos, como por exemplo o Yahoo; b) motores de busca, que
permitem a busca por palavras-chave, como o Altavista; c) motores
híbridos, que combinam ambas ferramentas permitindo buscar por assunto e
palavras-chave, como o Lycos. (Osma Delatas, 1998) Para o professor, o conhecimento das fontes existentes na sua
área de trabalho é fundamental para o desenvolvimento de seu trabalho,
pois em todo o processo de construção do conhecimento, qualquer que seja
seu nível, se faz imprescindível o uso de determinados instrumentos de
trabalho para conseguir a informação necessária. As redes de dados permitem enviar programas e dados, recuperar
resultados e trocar informações com colegas. A Internet, uma das novas
tecnologias que tem permitido a interconexão de um grande número de redes
físicas distintas, tem possibilitado uma melhor utilização dos serviços
proporcionados pelas redes. A interação informal em rede entre grupos de pessoas dá-se de
várias formas, como quadros de avisos (bulletin boards), listas de
discussão ou boletins de notícias. Todas são essencialmente formas de
compartilhar e debater informações e formular consultas. Na maioria das
vezes estão abertas a todas as pessoas, embora algumas tenham seu acesso
restrito a grupos fechados. O mais provável é que informações de natureza
restrita circulem pelo correio eletrônico, que é um complemento cada vez
mais comum na comunicação informal. O correio eletrônico é particularmente
conveniente pela rapidez com que circulam as mensagens. (Meadows,
1999) "Os grandes serviços de informação da Internet (Alta Vista,
Yahoo, Infoseek etc.) oferecem facilidades de busca mais precárias, entre
outras razões, porque: 1) os pontos de acesso aos documentos são, muitas
vezes, aqueles designados pelo gerador do mesmo, sem passar por um
processo de indexação profissional suscetível de representar razoavelmente
seu conteúdo, e; 2) a variedade e documentos armazenados é muito grande,
num leque que se estende de páginas Web até documentos livres, passando
por artigos de periódicos virtuais ou não, de qualidade variável." 4. Considerações Finais
A partir do que foi exposto, conclui-se que é muito importante
para o processo de ensino-aprendizagem que o professor conheça tanto as
teorias de aprendizagem como os recursos disponíveis que podem ser
aplicados em várias metodologias de ensino. Entre os recursos, encontra-se a Internet, que pode ser
utilizada de diversas formas como apoio ao trabalho do professor na
construção do conhecimento. Acredito que para obter resultados positivos neste processo, a
utilização das tecnologias da informação e comunicação vêm a contribuir,
pois possibilitam um trabalho cooperativo, colaborativo e interativo,
inclusive na educação a distância, onde estas ferramentas são
indispensáveis. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BECKER, Fernando. Da ação à operação: o caminho da aprendizagem;
J. Piaget e P. Freire. 2.ed. Rio de Janeiro, DP&A,
1997 BECKER, Fernando, FRANCO, Sérgio Roberto K. (Orgs). Revisitando
Piaget. Porto Alegre, Editora Mediação, 1999. (Cadernos de Autoria,
3) BECKER, Fernando, MARQUES, Tania B. Iwaszko. Aprendizagem Humana:
Processo de construção. Patio, Porto Alegre, ano 4, n.15, nov.
2000/jan 2001. CARRETERO, Mario. Construtivismo e Educação. Porto Alegre, Artes
Médicas, 1997. CASTORINA, J. A. Piaget e Vygostsky; novos argumentos para uma
controvérsia. Cadernos de Pesquisa, n.105, nov.1998, p.160-183. CHASSOT, Attico. A Ciência Através dos Tempos. 6.ed São Paulo,
Moderna, 1997. FRAWLWY, William. Vygotsky e a Ciência Cognitiva. Linguagem e
integração das mentes social e computacional. Porto Alegre, Artes Médicas,
2000. 288p. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1985. GRIGOLI,J. A Sala de Aula na Universidade na Visão de seus
Alunos Ç Um Estudo sobre a Prática Pedagógica na Universidade. São
Paulo, Tese de Doutoramento, PUC-SP, 1990. HILGARD, Ernest Robiequet. Teorias da Aprendizagem. São Paulo,
EDU, 1973. KESSELRING, Thomas. Os quatro níveis de conhecimento em Jean Piaget.
Educação e Realidade, São Paulo, v.15, n.1, p. 3-22,
jan/jun.1990. KAMII, Constance. Aritmética: Novas Perspectivas. Implicações da
Teoria de Piaget. 5 edição. Campinas, Papirus, 1996. 235p. McKEOWN, MJ. Use of the Internet for obstetricians and
gynecologists. American Journal of Obstetrics and Gynecology 1997; 176
(2): 271-274. MEADOWS, A . J. A Comunicação Científica. Brasília, Briquet de
Lemos/Livros, 1999. 268p. MONTANGERO, Jacques; MAURICE-NAVILLE, Danielle. Piaget ou a
Inteligência em Evolução. Porto Alegre, Artes Médicas. 1998. 242p. OSMA DELATAS, Elvira Ruiz de. Las Redes como Fuente de Información.
In: Torres RamÌrez, Isabel de. (Coord.) Las Fuentes de Información:
estudios teórico-prácticos. Madrid, Síntesis, 1998. Cap. 22, p.
401-416. PIAGET, Jean. O Nascimento da Inteligência na Criança. Rio de
Janeiro, Zahar, 1979. ROBREDO, Jaime. Indexação e Recuperação da Informação na Era das
Publicações Virtuais. Comunicação e Informação, v.2, n. 1, p. 83-97,
jan./jun. 1999. VYGOTSKY, Lev S.. A Formação Social da Mente. São Paulo, Martins
Fontes, 1998. 190p. |
|