1 Modelo determinístico de seleção natural

1. Explorando o modelo determinístico.

O modelo determinístico de seleção que apresentei nos videos, também detalhado no livro Ridley, tem valores adaptativos distribuídos da seguinte forma:

Genótipos AA Aa aa
Valor adaptativo \(W_{AA}\) \(W_{Aa}\) \(W_{aa}\)
1 1 1-s

Nesse exemplo o alelo que é vantajoso é dominante. Podemos facilmente simular essa trajetória usando uma planilha ou um simulador como o Populus. No Populus, o simulador de seleção natural pode ser alcançado com o seguinte caminho: Model > Natural Selection > Selection on a Diallelic Autosomal Locus.

Para entendermos melhor os efeitos da força da seleção e os padrões de dominância proponho os seguintes valores adaptativos.

Genótipos AA Aa aa
Valor adaptativo \(W_{AA}\) \(W_{Aa}\) \(W_{aa}\)
(1) 1 1 0,95
(2) 1 1 0,90
(3) 1 0,95 0,95
(4) 0,95 1 0,95

Realize simulações determinísticas para os quatro cenários acima (considerando com frequência inicial de \(f_A=0,05\)).

  1. Qual o efeito da intensidade da seleção natural sobre a trajetória das frequências alélicas? (Comparar 1 e 2 será informativo).
  1. Comparando as simulações 1 e 3 (que possuem o mesmo coeficiente seletivo, mas diferentes padrões de dominância), descreva o efeito da dominância sobre a trajetória das frequências alélicas. Porque a trajetória do alelo vantajoso dominante (caso 1) é diferente daquele de um alelo vantajoso recessivo (caso 3)?
  1. Discuta o que acontece do caso (4), e compare-o com os demais. Esse regime de seleção é capaz de levar à fixação de uma mutação?

2 Seleção com deriva genética

As simulações determinísticas dão a impressão de que, se um alelo é favorecido, ele irá inevitavelmente aumentar de frequência, rumo à fixação. Mas no mundo real alelos sob seleção também sofrem deriva genética. Será que a dinâmica muda quando há ação simultânea de seleção e deriva?

Utilizando o programa Populus, faça uma simulação em que há, simultaneamente, a ação da seleção e de deriva. Para acessar o menu no qual você pode fazer a simulação de deriva com seleção, o caminho é: Model > Mendelian Genetics > Drift and Selection.

Explorando diferentes tamanhos populacionais e de intensidade de seleção, o que você pode dizer sobre os efeitos da seleção natural quando ela ocorre numa população também sujeita a deriva?

Caso prefira usar um simulador disponível online, tente o seguinte site: https://phytools.shinyapps.io/drift-selection/

Se possível, copie alguns dos gráficos com comentários sobre as trajetórias, para que possamos discutir em aula.

3 Probabilidade de fixação sob seleção e deriva genética

Os padrões gerais vistos no exercício anterior foram investigados de modo analítico por J.B.S. Haldane (1982-1964) Motoo Kimura (1924-1994). Eles descobriram que a probabilidade de fixação de uma mutação vantajosa depende de três fatores: a intensidade de seleção que a favorece, o tamanho da população, e também de sua frequência inicial. No caso especial em que a frequência inicial da mutação é \(1/2N\) (o que equivale a dizer que ela está presente em uma só cópia, pois é "recém surgida"), a fórmula para a probabilidade de fixação é:

\(P= \frac{1 - e^{-2s}}{1 - e^{-4Ns}}\) que para valores de \(s\) relativamente baixos e \(N\) elevado se aproxima de \(2s\).

De posse desse resultado, considere uma mutação presente em uma única cópia, que ocorre numa população de indivíduos diploides de tamanho N=1000. Contraste as probabilidades de fixação de mutações de dois tipos:

  1. Examine a probabilidade de fixação para o cenário neutro e o com seleção. Essa diferença faz sentido para você? Como a probabilidade de fixação no caso de seleção constrasta com o que vimos no modelo determinístico (em que não há deriva)?

  2. Dobre a vantagem associada à mutação, levando o valor para s=0,02, e calcule a nova probabilidade de fixação. O aumento da intensidade de seleção afetou a probabilidade de fixação?

4 Usando simulações para testar a teoria

Os resultados anteriores, referentes à probabilidade de fixação, podem ser testados usando simulações. Aliás, é uma prática comum em estudos de genética de populações comparar resultados teóricos com os simulados. Essa abordagem é poderosa, pois caso a teoria seja nova, obter os mesmos resultados que aqueles aqueles da simulação mostra que a teoria está funcionando. Por outro lado se o simulador é novo e a teoria já estabelecida, obter o mesmo resultado indica que o simulador foi programado corretamente.

De acordo com as fórmulas acima, aprobabilidade de fixação de uma nova (ou seja, em frequência 1/2N, com vantagem dada por s=0,05, é de 10%.

Vamos utilizar o simulador indicado no exercício anterior para ver se a predição da probabilidade de fixação sob seleção é de fato observada.

Para ajudar na hora de parametrizar as simulações, aqui vão algumas informações para entrar no simulador.

Com esses parâmetros, você poderá testar se a previsão teórica de que uma mutação que confere uma vantagem de \(s=0,05\) de fato tem probabilidade de fixação de 10%.

5 Tempo até fixação

Outro importante resultado teórico referente à trajetória de mutações diz respeito ao tempo médio que demora para uma mutação surgir e se fixar. Para uma mutação neutra o tempo médio até a fixação é \(4N\) gerações. Já para mutações sob seleção, o tempo médio é dado por: \(t_{fix} = \frac{2ln(2N_e)}{s}\), onde o \(ln\) refere-se ao logaritmo na base natural.

Utilizando essas expressões, compare o tempo médio até a fixação de uma mutação neutra que surge numa população de N=1000 indivíduos com o tempo até a fixação para uma mutação que confere vantagem de 1% (ou seja, s=0,05), também numa população de N=1000. A diferença nesses tempos dá alguma ideia sobre como podemos buscar identificar regiões do genoma que estiveram sob os efeitos de seleção natural?

6 Carona genética

Observe a figura disponível nesse link, que descreve o processo de carona genética, ou "genetic hitchhiking". O processo de carona explica como a região genômica próxima a uma mutação vantajosa acaba por perder sua variabilidade como consequência da ação da seleção.

Vamos discutir no curso qual a importância da carona genética como fator que molda a diversidade genética de genomas. Para ajudar nessa discussão, peço que pensem em quais características biológicas aumentam ou diminuem a influência do processo de carona genética no genoma. Por "características biológicas" considere se características de uma espécie (como seu tamanho populacional, por exemplo) seriam capazes de influenciar o quão forte é efeito de carona, ou se propriedades de diferentes regiões do genoma influenciam os efeitos de carona (i.e., haveriam regiões mais suscetíveis a carona?).