#CTI# A teoria e a pratica da interdisciplinaridade em Ciência da Informaçao #FTI# #CR#   A produçao do conhecimento cientifico tem sido realizada por meio de experiências que privilegiam a contribuiçao de saberes, provenientes de diferentes areas. O presente artigo tem como finalidade apresentar as principais modalidades de interaçao que ocorrem na pratica da pesquisa cientifica - multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade -, tendo, como referência, a literatura produzida no âmbito da ciência da informaçao. Pesquisadores contemporâneos de outras areas contribuem para embasar essas teorias, cuja evoluçao provocou grandes mudanças nos significados desses termos. A pesquisa completa, da qual este artigo e parte, analisou a produçao cientifica da ciência da informaçao no Brasil, traçando um perfil da pesquisa na area, relativamente à utilizaçao dessas abordagens, concluindo-se que diferentes formas e niveis de interaçoes sao encontrados nas pesquisas desenvolvidas na Ciência da Informaçao, sendo a multidisciplinaridade a mais comum. Conclui-se, ainda, que a situaçao terminológica atual requer uma atualizaçao desses conceitos, principalmente no âmbito da Ciência da Informaçao, para uma maior conscientizaçao das implicaçoes de ser uma ciência contemporânea, que se reconhece interdisciplinar. #FR# #CTE#     1 Introduçao Para o desenvolvimento das ciências, tornou-se imprescindivel utilizar abordagens e metodologias que possibilitem alcançar resultados decorrentes da participaçao de varias disciplinas, em diferentes niveis e formatos. Algumas ciências, surgidas no pós Segunda Guerra, possuem traços que as diferenciam da ciência chamada classica ou moderna. A conformaçao da ciência contemporânea e, pois, em grande medida, resultado de inúmeras e diversificadas formas de interaçao entre saberes, que fazem dela um complexo sistema de relaçoes disciplinares. Essas interaçoes têm sido estudadas e categorizadas por autores de diversas areas, em funçao da importância e da diversidade em que ocorrem, com especial atençao aos muitos significados e tentativas de subdivisoes dos termos que denominam as principais modalidades encontradas. Uma dessas caracteristicas, especialmente importante para a Ciência da Informaçao, e a interdisciplinaridade, associada à area desde sua origem, tornando-se uma marca de sua evoluçao e amplamente reconhecida por sua comunidade. Este artigo, parte de pesquisa desenvolvida em nivel de doutoramento1, apresenta a evoluçao conceitual dos termos relacionados a três abordagens que envolvem interaçoes entre disciplinas: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, com ênfase nas ideias presentes na literatura da Ciência da Informaçao. Pesquisadores contemporâneos de outras areas tambem fazem parte da apresentaçao das citadas modalidades de pesquisa, contribuindo para embasar as reflexoes dos estudiosos da Ciência da Informação.   2 As interaçoes entre disciplinas cientificas As abordagens multi, inter e transdisciplinar parecem indicar novos e adequados caminhos para fazer avançar o conhecimento cientifico de forma inovadora, possibilitando à Ciência da Informação e a tantas outras disciplinas fortalecer seus fundamentos disciplinares e, ao mesmo tempo, caminhar no compasso do paradigma cientifico que se delineia neste seculo XXI. Os conceitos associados aos três termos aqui mencionados, entretanto, foram assumindo significaçoes diversas ao longo das últimas decadas, mantendo, contudo, a ideia comum de que representam movimentos que surgiram em resposta à fragmentaçao do conhecimento. Aspectos basicos, apresentados a seguir, identificam cada uma das três abordagens, que sao classificadas sob diferentes perspectivas e apresentam diferentes niveis de integraçao entre disciplinas. Elas partem de algo que seria colocado junto com uma coordenaçao paralela de pontos de vista, no caso da multidisciplinaridade, passando a uma dimensao que ultrapassa a anterior e avança para uma combinaçao, convergência ou complementaridade, no terreno intermediario da interdisciplinaridade, e alcançam algo próximo à fusao ou unificaçao, enfim, a transdisciplinaridade. A concepçao de cada uma dessas abordagens tem como ponto de partida a ideia da disciplinaridade. Para na acepçao em que se relaciona ao conhecimento acadêmico-cientifico, o termo disciplina culminou com o surgimento de varios ramos ou especializaçoes no âmbito da ciência, no seculo XIX e, ao longo do seculo XX, se desenvolveu mais ainda, graças ao progresso da pesquisa cientifica. A natureza de uma disciplina pode ser caracterizada, segundo alguns criterios identificados por que, em muitos casos, nao podem ser muito bem delimitados ou observados. Sao eles: a) dominio material - conjunto dos objetos dos quais se ocupam. Muitas disciplinas se sobrepoem neste dominio; b) dominio de estudo - ângulo especifico de seu dominio material. Noçao vagamente definida que depende da constituiçao de uma dada disciplina; c) nivel de integraçao teórica - construçao da "realidade" de seus dominios em termos teóricos, ou seja, seus conceitos fundamentais e unificadores devem ser abrangentes, o suficiente para explicar e prever os fenômenos de seu dominio de estudo. Define a maturidade da disciplina e e o criterio mais importante de identificaçao de uma disciplina; d) metodos próprios - para apreender e transformar os fenômenos. Uma disciplina se torna autônoma quando aperfeiçoou seus próprios metodos, que devem ser adaptados à natureza do dominio de estudo, com correspondência entre aplicaçao concreta dos metodos e as leis gerais no plano teórico; e) instrumentos de analise - apoiam-se em estrategia lógica, nos raciocinios matematicos e na construçao de modelos de processos. Aplicam-se a diversos dominios e sao criterios neutros; f) aplicaçoes - orientaçao para a aplicaçao e a utilizaçao pratica no campo de atividade profissional; g) contingências históricas - momento por que passa a disciplina em seu processo de evoluçao histórica, no qual interfere tanto a lógica interna do dominio de estudo quanto forças exteriores A principal caracteristica das relaçoes em que ocorre a abordagem chamada multidisciplinaridade e a justaposiçao de ideias; nao ha integraçao entre as disciplinas. A multidisciplinaridade estaria hierarquicamente no primeiro nivel, inferior, de integraçao entre as disciplinas, quando comparada à inter e à transdisciplinaridade. Em definiçao de a multidisciplinaridade corresponde à busca da integraçao de conhecimentos, por meio do estudo de um objeto de uma mesma e única disciplina, por varias delas ao mesmo tempo. Este tipo de pesquisa traz contribuiçoes significativas a uma disciplina especifica, porque "ultrapassa as disciplinas, mas sua finalidade continua inscrita na estrutura da pesquisa disciplinar" (que considera apenas os termos pluri e interdisciplinar), a pluridisciplinaridade pode ser entendida como: uma simples associaçao de disciplinas que concorrem para uma realizaçao comum, mas sem que cada disciplina tenha que modificar significativamente a sua própria visao das coisas e dos próprios metodos [...]. Toda realizaçao teórica que poe em pratica saberes diversos corresponde de fato a um empreendimento pluridisciplinar. A interdisciplinaridade ocupa posiçao intermediaria entre a multi e a transdisciplinaridade, com a ocorrência de intercâmbios e enriquecimentos mútuos entre as disciplinas. Cada qual aceita esforçar-se fora do seu dominio próprio e da sua própria linguagem tecnica, para aventurar-se em um dominio de que nao e o proprietario exclusivo. "A interdisciplinaridade supoe abertura de pensamento, curiosidade que se busca alem de si mesmo" Em 1972, três definiçoes para o termo sao apresentadas por, dando inicio a uma ampla discussao. A interdisciplinaridade, para, seria: Uma axiomatica comum a um grupo de disciplinas conexas e definida no nivel hierarquico imediatamente superior à pluridisciplinaridade, com objetivos múltiplos e uma coordenaçao procedendo do nivel superior diz que a interdisciplinaridade e a interaçao entre duas ou mais disciplinas e que um grupo interdisciplinar compoe-se de pessoas que receberam formaçao nos diferentes dominios do conhecimento (disciplinas), tendo, cada um, conceitos, metodos, dados e temas próprios realça importante aspecto da interdisciplinaridade, quando diz que nela ocorrem cooperaçao e intercâmbios reais e, consequentemente, enriquecimentos mútuos A ambiçao da interdisciplinaridade e diferente daquela da multidisciplinaridade, afirma Ela... [...] diz respeito à transferência de metodos de uma disciplina para outra", podendo ocorrer em três graus: de aplicaçao (como na transferência de metodos da fisica nuclear para a medicina);epistemológico (a exemplo da transferência de metodos da lógica formal para o campo do direito); e de geraçao de novas disciplinas (como na transferência de metodos da matematica para a fisica, gerando a fisica matematica) No Brasil, definem interdisciplinaridade como um metodo de pesquisa capaz de promover a interaçao entre duas ou mais disciplinas. Esta interaçao, segundo os autores, pode ir "da simples comunicaçao das ideias ate a integraçao mútua dos conceitos, da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organizaçao da pesquisa" A partir de muitos estudos realizados, varias taxonomias e propostas de classificaçao para a atividade interdisciplinar têm sido apresentadas por pesquisadores de varias areas no intuito de compreender como se da a pratica interdisciplinar, de acordo com principios epistemológicos que julgam mais convenientes ao entendimento do assunto, dos quais citamos: O terceiro nivel de integraçao entre disciplinas - a transdisciplinaridade -, como tambem a multi e a interdisciplinaridade, nao nega as disciplinas, uma vez que se ancora nelas para o seu desenvolvimento. O mais importante e considerar a unidade do saber, algo que, somente e encontrado no verdadeiro cientista, o qual, diferentemente do especialista, "ao mesmo tempo que aprofunda a inteligibilidade deste ou daquele dominio do conhecimento, e capaz de situar o seu saber na totalidade do saber, isto e, no horizonte global da realidade humana" A transdisciplinaridade ainda esta em construçao, sendo discutida e debatida em larga escala atualmente, assim como nos primeiros eventos, ocorridos na decada de 1970, na Europa, quando foram feitas as primeiras alusoes ao termo. Segundo, Piaget descrevera, naquela ocasiao, a transdisciplinaridade como "uma etapa superior das relaçoes interdisciplinares [...] que nao estara limitada ao alcance de interaçoes ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas que situara estas ligaçoes no interior de um sistema total, sem fronteiras estaveis entre as disciplinas" disse que a transdisciplinaridade seria o "último grau da coordenaçao susceptivel de existir num sistema de educaçao e inovaçao [...] uma etapa avançada relativamente à interdisciplinaridade" No modelo de Jantsch, "as ligaçoes promovidas pela interdisciplinaridade levam as disciplinas cientificas a mudarem seus conceitos e estruturas, enquanto se movem em direçao a um nivel mais alto de coordenaçao baseado em axiomas de um ponto de vista comum ou propósito focado na açao humana", sendo, portanto, "a interconexao de todos os aspectos da realidade, transcendendo a dinâmica de uma sintese dialetica para alcançar a dinâmica total da realidade como um todo" afirmou, por ocasiao do evento, ser essa visao a ideal, apesar de admitir que estivesse alem do completo alcance da ciência, embora, por outro lado, acreditasse que esse conceito poderia guiar a ciência em seus desenvolvimentos descreveu a transdisciplinaridade como "a homogeneidade da atividade teórica em diferentes ciências e tecnicas, independentemente do campo onde a atividade e efetuada", considerando a linguagem matematica como base da formulaçao dessa atividade focalizaram seus conceitos nas dinâmicas internas das ciências e em suas interaçoes, considerando que a transdisciplinaridade forneceria um quadro conceitual que atravessaria as disciplinas. focalizou seus objetivos externos, propondo um modelo mais amplo, envolvendo as interaçoes com o humano e com o social, para alem do sistema cientifico, abarcando, tambem, o sistema educacional e de inovaçao Em nivel internacional, o termo transdisciplinaridade surgiu, de forma explicita, na Declaraçao de Veneza, documento final do colóquio intitulado A ciência diante das fronteiras do conhecimento, organizado pela UNESCO e realizado em Veneza, em 1986. A Carta da Transdisciplinaridade5 (2001) destaca os seguintes pontos basicos da transdisciplinaridade: a) realidade e composta de diferentes niveis (art. 2); b) a transdisciplinaridade e complementar à aproximaçao disciplinar e oferece-nos uma nova visao da natureza e da realidade (art. 3); c) a sustentaçao da transdisciplinaridade reside na unificaçao semântica e operativa das acepçoes atraves e alem das disciplinas; o formalismo excessivo, a rigidez das definiçoes e o absolutismo da objetividade, comportando a exclusao do sujeito, levam ao empobrecimento (art. 4); d) a visao da transdisciplinaridade e aberta, ultrapassando o dominio das ciências exatas e dialogando com as ciências humanas, a arte, a literatura, a poesia e a experiência espiritual (art.5), devendo ter uma atitude aberta tambem em relaçao a mitos e religioes (art. 9), por ser um movimento transcultural (art. 10); e) todo habitante da terra e um ser transnacional (art. 8); f) a educaçao deve ensinar a contextualizar, a concretizar e a globalizar, alem da parte relativa à abstraçao no conhecimento; e g) sao caracteristicas fundamentais da visao e da atitude transdisciplinares: o rigor, a abertura e a tolerância. O rigor na argumentaçao, que leva em conta todos os dados, e a melhor barreira contra possiveis desvios. A abertura comporta a aceitaçao do desconhecido, do inesperado e do imprevisivel. A tolerância e o reconhecimento do direito às ideias e verdades contrarias às nossas (art. 14). O II Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, realizado no Brasil, em 2005, propoe o aprofundamento teórico e pratico dos três eixos, sobre os quais foi estruturada a "Mensagem"6 final do evento, quais sejam: 1) atitude transdisciplinar: Busca da compreensao da complexidade do universo e das relaçoes humanas entre si e com a realidade e o real, atraves da articulaçao dos saberes das ciências, das artes, da filosofia, das tradiçoes sapienciais e da experiência; 2) pesquisa transdisciplinar. Integraçao de processos dialeticos e dialógicos que emergem da pesquisa e mantem o conhecimento como sistema aberto, atraves de uma pluralidade epistemológica; e 3) açao transdisciplinar: Visa à paz e à colaboraçao entre as pessoas e entre as culturas, mas sem desconsiderar os contraditórios e a valorizaçao de sua expressao, atraves da mediaçao dos conflitos oriundos do contexto local e global. Algumas teorias estao diretamente relacionadas à abordagem transdisciplinar7 e serao aqui abordadas, de forma resumida, uma vez que cada uma merece aprofundados estudos. Os pilares da transdisciplinaridade sao, para Basarab Nicolescu: a complexidade, os niveis de realidade e a lógica do terceiro incluido. Esse autor afirma que ha mútua dependência entre transdisciplinaridade e complexidade, embora alguns estudiosos ainda procurem mostrar a "supremacia" de um dos dois termos A complexidade seria, ao pe da letra, aquilo que e tecido em conjunto (complexus) ou "o tecido de acontecimentos, açoes, interaçoes, retroaçoes, determinaçoes, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal". A complexidade nao se traduz apenas em quantidades de unidades e interaçoes, e muito mais uma noçao lógica do que uma noçao quantitativa A complexidade nao recusa a clareza, a ordem e o determinismo, mas os considera insuficientes para lidar com a descoberta, o conhecimento e a açao. Nao se trata de um retorno ao pensamento simples para controlar e dominar o real, mas de exercer um pensamento que possa dialogar e negociar com ele. A complexidade nao tem metodologia, mas pode ter seu metodo, que tem por fundamento incitar o pensamento sobre conceitos, sem da-los por concluidos, para quebrar as esferas fechadas, restabelecer articulaçoes entre o que foi separado e nao esquecer as totalidades integradoras. A complexidade atrai a estrategia, como única forma de avançar no incerto e no aleatório na base do pensamento complexo, por sua vez, encontra-se três teorias surgidas nos anos 40, que deram origem às ciências contemporâneas: a teoria dos sistemas, a teoria da informaçao e a cibernetica. De acordo com o segundo pilar da transdisciplinaridade - os niveis de realidade -, a realidade transdisciplinar e estruturada em muitos niveis, substituindo aquela realidade do pensamento classico que se resume a um único nivel, unidimensional. Na pesquisa disciplinar, leva-se em conta somente um único e mesmo nivel de realidade8 ou, na maioria dos casos, fragmentos deste nivel. A transdisciplinaridade, por outro lado, se interessa pela "dinâmica gerada pela açao de varios niveis de realidade ao mesmo tempo" Um nivel de realidade e entendido como "um conjunto de sistemas invariavel sob a açao de um número de leis gerais"; por exemplo, as entidades quânticas submetidas às leis quânticas, as quais estao radicalmente separadas das leis do mundo macrofisico A lógica do terceiro incluido, terceiro pilar da transdisciplinaridade, cuja teoria foi formulada inicialmente por Stephane Lupasco, tem origem na fisica e na filosofia, na subarea da lógica. A descoberta dos diferentes niveis de realidade mostrou que as escalas subatômicas e as supra-atômicas coexistem e sao regidas por leis diferentes, tornando possivel, assim, a coexistência de pares de contraditórios mutuamente exclusivos, o que rompeu com a lógica classica, baseada nos axiomas identitarios de Aristóteles (rejeiçao da contradiçao) que asseguravam a validade formal das verdades teóricas O desenvolvimento da fisica quântica e a coexistência dos dois niveis de realidade (quântico e macrofisico) no plano da teoria e da experiência cientifica levaram "ao aparecimento de pares de contraditórios mutuamente exclusivos "A e nao-A": onda e corpúsculo, continuidade e descontinuidade, separabilidade e nao-separabilidade, causalidade local e causalidade global, etc." que contradizem a lógica classica. A partir das muitas ideias envolvendo o conceito de transdisciplinaridade, varias definiçoes foram elaboradas, na tentativa de abarcar todo o seu significado. afirmam que, alem dos sentidos apontados na primeira definiçao que remetem "para alem", "passagem", "transiçao", "mudança", "transformaçao", etc., o termo tambem refere-se a: aquelas situaçoes do conhecimento que conduzem à transmutaçao ou ao traspassamento das disciplinas, à custa de suas aproximaçoes e frequentaçoes. Pois, alem de sugerir a ideia de movimento, da frequentaçao das disciplinas e da quebra de barreiras, a transdisciplinaridade permite pensar o cruzamento de especialidades, o trabalho nas interfaces, a superaçao das fronteiras, a migraçao de um conceito de um campo de saber para outro, alem da própria unificaçao do conhecimento Uma grande variedade de significados e atribuida ao termo, em funçao das circunstâncias e contextos em que e empregado. O foco desta pesquisa esta em seu aspecto cientifico. Outra questao importante da abordagem transdisciplinar se concentra em sua vertente metodológica. A pratica da transdisciplinaridade significa "a encarnaçao em cada açao, da metodologia transdisciplinar, atraves de um conjunto de metodos adaptados a cada situaçao especifica", de acordo com. Em outras palavras, uma metodologia geral da transdisciplinaridade nao existe, mas sim, "uma que se encontra a partir do problema transdisciplinar colocado" Em vista de um problema e um contexto especificos, esses sao tratados com os materiais disponiveis, voltados para a resoluçao do problema e dos saberes em pauta, constituindo uma rede que se adequa ao objeto e nao à soluçao de qualquer problema, explica o referido autor. Reafirma-se, aqui, que as diferentes abordagens do conhecimento cientifico " disciplinar, interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar " nao sao consideradas antagônicas ou excludentes, mas necessarias e, muitas vezes, complementares em diferentes etapas do processo investigativo. Uma breve descriçao da metodologia utilizada no desenvolvimento da pesquisa serve como um guia para os resultados apresentados em seguida.   3 Metodologia A pesquisa da qual este artigo faz parte, teve como finalidade aprofundar os estudos sobre a area da ciência da informaçao, focalizando, especialmente, sua natureza interdisciplinar, atraves de pesquisa teórica e por meio da analise de sua praxis cientifica, representada em sua produçao brasileira. Para dar sustentaçao ao estudo, a pesquisa bibliografica buscou caracterizar as principais formas de interaçao ocorridas, bem como as tendências da pesquisa cientifica, relativamente a este aspecto. Tambem procurou contextualizar a area da ciência da informaçao, no âmbito da ciência contemporânea, por meio do estudo de suas principais caracteristicas, principalmente no que se refere às mudanças de pressupostos relativos aos fundamentos que edificaram a ciência classica ou moderna, como forma de compreender as principais caracteristicas de novas ciências surgidas em meados do Sec. XX, como a ciência da informaçao. A pesquisa utilizou como fonte de informaçoes quatro periódicos cientificos nacionais da area da ciência da informaçao, ligados a programas de pós-graduaçao de instituiçoes de ensino superior. Para tanto, foram analisados artigos cientificos publicados nesses periódicos, no periodo de 2001 a 2006. Foram selecionados e analisados 531 artigos cientificos, dos quais foram selecionados e estudados em profundidade 158, que apresentaram propriedades indicativas de interaçao com outras areas do conhecimento para o seu desenvolvimento. As analises de assunto e de conteúdo foram os principais procedimentos adotados para o estudo dos artigos, embora metodos quantitativos tambem tenham sido utilizados, tais como a número de autores, bem como area de formaçao e de atuaçao dos mesmos. Os estudos teóricos desenvolvidos no âmbito da Ciência da Informaçao sobre as abordagens "interdisciplinares" fizeram parte da investigaçao de maneira destacada, como forma de melhor compreender o pensamento da area sobre o assunto.   4 A interdisciplinaridade a partir da Ciência da Informaçao A Ciência da Informaçao (Ciência da Informaçao) encontrou em sua natureza interdisciplinar uma maneira de desenvolver-se. Assim, tem avançado rumo à sua emancipaçao, por meio de duas vertentes aparentemente conflituosas, a necessidade de fortalecer sua base teórica e, ao mesmo tempo, de interagir com outras areas. Esse desenvolvimento ocorre sob forte influência das inúmeras e novas ferramentas tecnológicas de informaçao e comunicaçao, e deve cumprir, ao final, o seu papel de ciência social, que aplica os conhecimentos que produz em contextos sociais, culturais, econômicos e politicos. O termo interdisciplinaridade tem sido lugar comum quando associado à ciência da informaçao, mas, na sua literatura, nao esta devidamente colocado o que isto significa, enquanto caracteristica marcante e identitaria. Na produçao brasileira e do exterior, ha inúmeras referências à interdisciplinaridade, como uma das caracteristicas mais evidentes da area, como em, entre muitos outros, dos quais algumas ideias sao aqui retomadas. A natureza interdisciplinar da Ciência da Informaçao teve inicio, segundo, em sua gênese, uma vez que se constituiu por meio da contribuiçao de pesquisadores oriundos de muitas disciplinas diferentes e com diferentes formaçoes. "Entre os pioneiros havia engenheiros, bibliotecarios, quimicos, linguistas, filósofos, psicólogos, matematicos, cientistas da computaçao, homens de negócios e outros, vindos de diferentes profissoes ou ciências",. O nivel de contribuiçao de cada disciplina nao foi igualmente relevante, mas essa diversidade de experiências gerou e sustentou a tônica interdisciplinar da ciência da informaçao, segundo o autor. Sua emergência foi causada, tambem, por interesses diferentes, devido a areas diferentes de aplicaçao envolvidas no trabalho de informaçao Uma das ocasioes em que a interdisciplinaridade na area da Ciência da Informaçao, foi profundamente discutida (embora com ênfase no ensino), aconteceu durante a conferência internacional realizada na Universidade de Tampere/Finlândia, em 1990, cujos anais foram publicados em 1992. O evento teve como objetivo "clarificar as concepçoes do objeto de pesquisa, escopo e fenômeno central da ciência da informaçao e da biblioteconomia". Desse evento resultaram grandes contribuiçoes sob as perspectivas histórica, empirica e teórica, conforme proposta do evento. Foram levantadas questoes a respeito da natureza da Ciência da Informaçao, seus metodos cientificos, o objeto da area, sua cientificidade, seus paradigmas e o impacto da informaçao Na epoca, explica esse autor, uma nova onda de discussao relativa à natureza da Ciência da Informaçao estava em desenvolvimento, gerando a necessidade de refletir sobre a qualidade da pesquisa universitaria e sobre as relaçoes da area com outras disciplinas. Os anais do referido evento, que ainda sao referência na area sobre as questoes discutidas, incluem artigos de importantes pesquisadores, como Blaise Cronin, Pertti Vakkari, Tefko Saracevic, Linda Smith, Ivar Hoel, Rafael Capurro, David Ellis, Gernot Wersig e Peter Ingwesen, entre outros. O processo evolutivo da Ciência da Informaçao, em relaçao aos principais estudos teóricos realizados sobre interdisciplinaridade, foi descrito por Pinheiro (1997; 2005; 2006) em três fases. A primeira fase - conceitual e de reconhecimento interdisciplinar (de 1961/62 a 1969) - da ênfase à natureza disciplinar da area e sao discutidas as denominaçoes iniciais, a confusao terminológica com a Informatica, suas origens e interfaces, principalmente com a documentaçao, a biblioteconomia e a informatica. Foi observada, tambem, a preocupaçao quanto à cientificidade da area que estava surgindo. A segunda fase - de delimitaçao do terreno epistemológico: principios, metodologia e teorias próprios e influência de novas tecnologias (1970-1989) - e o periodo em que sao estudados, com maior profundidade, o objeto e a natureza da Ciência da Informaçao, a presença da tecnologia no processo da area e o contexto de desenvolvimento cientifico daquele momento. A terceira fase - de consolidaçao da denominaçao e de alguns principios, metodos, teorias e aprofundamento da discussao sobre interdisciplinaridade com outras areas (a partir de 1991) " teve como temas aspectos relativos à organizaçao interna da area e sua institucionalizaçao cognitiva. O reconhecimento, quase unânime, do carater interdisciplinar da area da Ciência da Informaçao ou de seu objeto de estudos, e repetido de varias maneiras. Como muitos outros pesquisadores, Freire (2003) cita diretamente a expressao usada por Saracevic (1995), em que dizia que a interdisciplinaridade da Ciência da Informaçao "[...] nao precisa ser procurada, esta la, no âmago do próprio campo cientifico". A Ciência da Informaçao e "uma area do conhecimento tipicamente interdisciplinar", afirmam Dumond e Bruno (2003, p. 32). (2001, p. 5) diz que nao e necessario refletir sobre a caracteristica interdisciplinar da Ciência da Informaçao para confirma-la, "porque seu próprio objeto de estudo aponta para a relevância deste seu carater". Targino (1995, p. 14) vai alem e afirma que "diante dessa interdisciplinaridade irrefutavel, a Ciência da Informaçao emerge como metaciência ou supraciência, no sentido de que [...] ultrapassa fronteiras rigidamente demarcadas para interagir com outras areas". diz que a orientaçao "interdisciplinar ou transdisciplinar" do campo se justifica pelo "carater estratificado de informaçao" e pela obrigaçao de "articular as dimensoes do objeto informacional: semânticas, sintaticas, institucionais, infraestruturais, entre outras". apresenta o que se reconhece como uma situaçao interdisciplinar, que ocorre quando, para a resoluçao de um problema, e exigida a co-ocorrência de diferentes saberes. Esse seria, segundo a autora, "o momento da comunicaçao e do intercâmbio informacional efetivo entre areas do conhecimento anteriormente diferenciadas", convergindo em direçao a um problema comum. A situaçao e resultado de um acontecimento, o encontro interdisciplinar, que se constitui pelo questionamento acerca de um problema e que requer conhecimento de fatos relevantes das areas disciplinares envolvidas e certas 'noçoes' conectivas, sustentadas por esses fatos relevantes. Esses encontros interdisciplinares sao gerados por "processos de hibridaçao, translaçao e deslocamentos com que certos conceitos, argumentos e dados" migram entre areas do conhecimento (RAWSKI, 1973 apud GONZALEZ DE GÓMEZ, 2001, p. 16). Esse tipo de associaçao diferencia-se, portanto, da multidisciplinaridade, situaçao em que nao ha busca de interaçao nos niveis metodológico ou de conteúdo, ocorrendo, apenas, espaços compartilhados por varios saberes, de acordo com . opta por definir interdisciplinaridade como: Geraçao de conhecimentos atraves de diferentes modalidades de interaçao visando à integraçao de conceitos, metodos, dados, ou as abordagens epistemológicas de múltiplas disciplinas em torno de uma ideia, problema, tema, ou questao em particular; A interdisciplinaridade se desenvolveria dentro do campo cientifico, buscando a superaçao e reformulaçao das fronteiras paradigmaticas A interdisciplinaridade designa um "exercicio transversal da racionalidade", que perpassa nao só as fronteiras disciplinares, mas, tambem, as das atividades setoriais, na produçao e transmissao do conhecimento cientifico (GONZALEZ DE GÓMEZ; ORRICO, 2004, p. 11). Ela emerge, atualmente, nao somente como um projeto, "mas como um factum" que existe em todos os niveis da realidade dos fóruns acadêmicos, administrativos e politicos da ciência e da tecnologia e da educaçao. A riqueza do trabalho interdisciplinar esta no esforço requerido para o "direcionamento dos olhares para um mesmo objeto por intermedio de diferentes concepçoes teóricas e metodológicas" (GONZALEZ DE GÓMEZ; ORRICO, 2004, p. 11). (2001), na mesma linha de pensamento, define o projeto interdisciplinar como aquele que e exigido para o tratamento de objeto especifico, no qual ocorrem rupturas de fronteiras disciplinares. Completa, dizendo que, em projetos dessa natureza, as disciplinas envolvidas intercambiam informaçoes, noçoes, conceituaçoes e teorias, alcançando um esquema cooperativo, a partir do qual, nao apenas os sujeitos envolvidos diretamente na execuçao desses projetos tornam-se especialistas com múltiplas competências, mas as próprias "gramaticas" dessas disciplinas sao alteradas, interferindo, tambem, na formaçao dos futuros especialistas dessas areas [...] a ponto de fazer despontar um novo campo disciplinar (, 2001, p. 3). A autora acrescenta que uma "interdisciplinaridade efetiva" teria um escopo ampliado, sendo aquela que vai alem do movimento interno de uma disciplina e que se atualiza, tambem, nas intervençoes promovidas na realidade social que envolve a praxis que se desdobra do fazer cientifico (, 2001). Sobre a constituiçao da equipe interdisciplinar, Dumond e Bruno (2003) dizem que a interdisciplinaridade "acaba por exigir a reuniao de individuos com diferentes formaçoes intelectuais", realçando, assim, a necessidade de equipes heterogêneas em sua formaçao para o desenvolvimento de projetos dessa natureza. Tambem para Orrico (2006, p.3), "o exercicio interdisciplinar implica necessariamente um trabalho coordenado de equipe", com acordo previo sobre os metodos e conceitos a serem utilizados para o estudo de um objeto sob diferentes ângulos, que resulte em enriquecimento ou modificaçao das disciplinas. Na mesma linha, Marteleto, em entrevista com Gustavo Freire (FREIRE; GARCiência da InformaçaoA, 2002, p. 5), afirma que "a interdisciplinaridade, a multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade requerem real comunicaçao e trabalho conjunto de pesquisadores de diferentes areas onde ocorre uma migraçao dos conceitos [...] de maneira sustentada, discutida [...]". No contexto "jovem" da ciência da informaçao, diz (2001), sao buscadas novas experiências de estruturaçao das disciplinas cientificas por estar em uma area "fronteiriça" a outras areas do conhecimento e, especialmente, por trabalhar problemas relacionados à informaçao, com alto nivel de complexidade. Contudo, a interdisciplinaridade pressupoe que uma ciência se estabeleça como tal, de forma a poder dialogar cientifica e abertamente com outras disciplinas. E, para tanto, segundo a autora, e necessario compor-se de um núcleo de conhecimentos, metodos de investigaçao e um campo experimental, para que sejam criados contextos de trocas de conhecimentos e de metodos com outras disciplinas. Uma ciência deve possuir definiçoes próprias sólidas, baseadas em acordos tacitos sobre "suas bases, suas atividades e perspectivas futuras, determinando, assim, seu núcleo basico orientador das açoes investigativas, a partir do qual se torna possivel o dialogo com qualquer outra disciplina", e nao apenas a absorçao de narrativas. "O debate cientifico aberto entre as disciplinas e fundante da verdadeira interdisciplinaridade" (, 2001, p. 4). Tambem para Garcia (2002) e para Sihiral e Lourenço (2002), essa aparente dependência de teorias de outras ciências se justifica por ser a Ciência da Informaçao uma area relativamente jovem, que recebe contribuiçoes de outras disciplinas para a construçao de seu arcabouço teórico, estando, ainda, em formaçao. A procura por uma configuraçao teórica que forneça sustentaçao aos discursos e às praticas informacionais da area e que lhe dê uma identidade de pesquisa própria e uma busca constante entre os pesquisadores, desde o surgimento da Ciência da Informaçao (COUZINET; SILVA; MENEZES, 2007). Smith (1992, p. 263) chega a afirmar que "ha uma aparente discrepância entre o que e dito, ou seja, as muitas enumeraçoes do carater interdisciplinar da LIS, e o que e feito, isto e, ha um "relativo isolamento da pesquisa em Ciência da Informaçao do ambiente de pesquisa de outras disciplinas", com poucos estudos sobre as praticas de importaçao e exportaçao com outras disciplinas. A ciência da informaçao precisa, segundo (2001), definir qual e o seu núcleo principal. Feito isso, a Ciência da Informaçao podera, entao, identificar quais disciplinas de fato dialogam com ela, a ponto de fazerem parte deste núcleo, discernindo-as das disciplinas nas quais a Ciência da Informaçao se apoia para a construçao do seu arcabouço teórico, mas com as quais nao acontece uma interaçao ativa de conteúdos cientificos, e estariam, portanto, integrando um campo do tipo multidisciplinar com a Ciência da Informaçao. Muitos autores indicam um número grande dessas areas visitadas pela Ciência da Informaçao e das quais incorpora conhecimentos, o que nao as caracteriza, efetivamente, como disciplinas fronteiriças integrantes de seu núcleo principal (, 2001). Muitas vezes, a interdisciplinaridade e confundida na Ciência da Informaçao, "com a mera incorporaçao de conceitos, teorias e metodos de uma disciplina por outra, ou com o esforço dos pesquisadores, que, no seu periodo de qualificaçao migram, temporariamente para o interior de uma determinada area", a fim de se qualificar em funçao da complexidade dos objetos de estudo, afirma (2001). Esse percurso, completa a autora, potencializa, sugere a necessidade de e oferece condiçoes ao aparecimento da interdisciplinaridade, mas ela só se concretizara a partir do dialogo concreto entre as disciplinas, quando o intercâmbio ocorre em varios sentidos. Segundo Oliveira Filho (1995 apud KOBASHI; SMIT; TALAMO, 2001), a interdisciplinaridade da Ciência da Informaçao, realizada quase que exclusivamente pela assimilaçao de conceitos de outras areas, tem sido chamada de ecletica (ou monológica). O significado do termo ecletico remete ao "uso de conceitos fora de seus respectivos esquemas conceituais e sistemas teóricos, alterando seus significados..." e esvaziando o discurso. Dessa forma, conceitos metodológicos passam a nomear e classificar rituais de postura, que nao terao influência nas estrategias de investigaçao. "Os termos, vazios de significado (sem conceitos) nao podem funcionar como instrumentos de reconstruçao teórica ou metodológica" (OLIVEIRA FILHO, 1995 apud KOBASHI; SMIT; TALAMO, 2001, p. 2). O autor sugere, para evitar a interdisciplinaridade do tipo monológico ou ecletico, que a institucionalizaçao disciplinar da Ciência da Informaçao seja efetivada pela ativaçao da memória do campo da informaçao e por meio de metodologias adequadas. Assim, evita-se uma indesejavel consequência desse tipo de interdisciplinaridade, que e definiçao circunstancial da area e nao como um todo (SMIT; TALAMO; KOBASHI, 2004). Isso ocorre porque o significado do termo "ciência da informaçao", quando a area realiza apropriaçoes de outros campos do saber, e determinado, normalmente, em funçao do problema investigado, que recorre à psicologia, à informatica ou à administraçao, para tratar questoes relativas a usuario, informatica documentaria ou administraçao de sistemas, de acordo com sua necessidade (SMIT; TALAMO; KOBASHI, 2004). Para tanto, Kobashi, Smit, Talamo (2001) reafirmam o papel fundamental do uso de uma terminologia própria da Ciência da Informaçao, contemplando conceitos próprios e de emprestimo, estabelecendo, assim, uma linguagem autônoma da area. Para Barreto (2002), o próprio pensar em si e a metodologia importada devem estar de acordo com as caracteristicas existentes e manifestas da area da Ciência da Informaçao, do objeto informaçao e todas as suas condiçoes, caracteristicas e singularidades. Deve ser explicitado como as ideias externas se inserem no mundo da Ciência da Informaçao (BARRETO, 2002). Em funçao da promoçao de uma "verdadeira interdisciplinaridade", como diz (2001, p. 5), com enriquecimentos reciprocos, e necessario compreender o que se entende por Ciência da Informaçao e qual e o seu objeto de interesse. Smit (2002, p. 27) diz, com relaçao à Ciência da Informaçao: "temos mais clareza sobre as ciências com as quais nos relacionamos do que sobre a identidade da nossa própria area" (SMIT, 2002, p. 27). Essa situaçao, denominada por muitos interdisciplinaridade, nao e suficiente para promover um novo patamar de discussoes, afirma a autora. Contribuiçoes epistemológicas sobre as relaçoes da Ciência da Informaçao com outras disciplinas ocorrem com pouca frequência na area da Ciência da Informaçao, o que pode ser visto na pesquisa de Bicalho e Oliveira (2008; a pesquisa de Oliveira (2008), que analisou a produçao da area sobre o tema, com o objetivo de verificar em que medida ocorre a reflexao na area, sobre suas relaçoes disciplinares com outras areas, por meio de uma amostra de artigos publicados em periódicos editados no Brasil. Dos 700 artigos analisados, apenas 11 (1,6% do total) desenvolveram algum tipo de reflexao sobre os termos inter ou transdisciplinar (e variaçoes). Como se pode ter notado, a noçao de interdisciplinaridade nao esta bem definida, tambem, no âmbito da ciência da informaçao. Dentro do contexto de imprecisao terminológica da area, pode ser, em alguns casos, ate mesmo substituida pela noçao de reuniao ou junçao de diferentes disciplinas, das quais a Ciência da Informaçao toma como seus quadros nocionais, afirmam Smit; Talamo; Kobashi (2004). As autoras concluem que a area mantem interfaces muito próximas com diversas outras areas do conhecimento, mas que ha predominio das "importaçoes" sobre as contribuiçoes da Ciência da Informaçao para outras areas. Essa situaçao, ja apontada em outros estudos, como os de Smith (1992) e Pinheiro (1999), reflete uma "interdisciplinaridade formal", e nao uma "interdisciplinaridade real", caracterizada por emprestimos de termos de outras areas "sem que haja uma adaptaçao, ou customizaçao, dos conceitos aos propósitos da area" (SMIT; TALAMO; KOBASHI, 2004), conclusao tambem indicada por Barreto (2002). Marteleto, em entrevista para Freire e Garcia (2002), vai alem e diz que a area da Ciência da Informaçao se diz interdisciplinar, mas pouco pratica de interdisciplinaridade, entendendo-a como a "simples citaçao a conceitos de outra area". Bicalho e Oliveira (2008) apontam para a escassez de trabalhos que busquem uma reflexao sobre o termo interdisciplinaridade, amplamente aceito como caracteristica da Ciência da Informaçao, mas cujo significado e implicaçoes no âmbito das praticas de investigaçao da area nao parecem ser preocupaçoes significativas. Em pesquisa que utilizou como fonte os projetos financiados pelo CNPq, Oliveira (1998, p. 47) conclui que "a area nao tem vivenciado situaçoes interdisciplinares. Algumas atividades de pesquisa têm conseguido apenas algum tipo de multidisciplinaridade, [...] sem tentativa de sintese". Para minimizar este problema, a autora afirma que e necessario "buscar contribuiçao de outras areas, mas de forma consciente e compromissada, sem diluir-se nessas novas formas de intercâmbio" (OLIVEIRA, 1998, p. 47). A induçao a pesquisas interdisciplinares, entre outras açoes, segundo a mesma autora (2001), poderia contribuir para a "constituiçao de conhecimentos [...], que resultem em novas descriçoes da area e possibilitem o uso de outras alternativas metodológicas para a ciência da informaçao". Para Gonzalez de Gómez (2003), a Ciência da Informaçao busca facilitar a articulaçao de seu ponto de vista e seu campo de visao, por meio de relaçoes com saberes como os estudos da politica, da comunicaçao, epistemologia social, estudos sociais da ciência, estudos econômicos, da estetica e das artes e, por outro lado, compartilha seu campo de visao (embora sob outro ponto de vista) com a biblioteconomia, a arquivologia e a museologia. E, para contextualizar a informaçao como seu objeto de pesquisa, a area precisa se aproximar de outras disciplinas, afirma a pesquisadora. Assim, a contextualizaçao da dimensao narrativa da informaçao se aproximaria dos estudos da linguistica, da história, da antropologia e das teorias semiótica e do discurso; sua dimensao regulatória e estruturante far-se-ia por aproximaçao com administraçao, sociologia e direito; a dimensao econômica e tecnológica com a ciência da computaçao e as telecomunicaçoes. Esse contexto de interaçao seria capaz de estabelecer um "intercâmbio denso tanto entre os saberes e sujeitos que constroem o ponto de vista, quanto com os que enriquecem o campo de visao", constituindo um "encontro transdisciplinar" (GONZALEZ DE GÓMEZ , 2003, p. 42). Muitas disciplinas sao identificadas como parte das interaçoes da Ciência da Informaçao. As relaçoes interdisciplinares com a ciência da computaçao e a biblioteconomia sao, para Pinheiro (2005, p. 17), "inegavelmente, fonte de exercicio interdisciplinar", devido à aplicaçao de computadores, à recuperaçao da informaçao e problemas similares, no caso da computaçao e devido à funçao social da area que e comum à Ciência da Informaçao e à Biblioteconomia, aspecto que fortalece a relaçao entre ambas, conforme afirma Saracevic (1992  apud PINHEIRO, 2006). Nesse artigo, a pesquisadora confirma a existência de diferentes niveis de interaçao com outras disciplinas, como sendo a mais forte, isto e, a que apresentou maior número de ocorrências em sua pesquisa, a ciência da computaçao, seguida da biblioteconomia e da administraçao. Em terceiro lugar surgem linguistica e economia, seguidas de arquivologia, comunicaçao, direito, estatistica, filosofia, história da ciência, matematica, museologia e sociologia da ciência. E, finalmente, foram identificadas interaçoes mais fracas, com as disciplinas de ciência politica, educaçao, etica, epistemologia e filosofia da ciência. Esses resultados, segundo Pinheiro (2006), podem refletir alguns fatores próprios da evoluçao da Ciência da Informaçao. Em relaçao à biblioteconomia, considera que seja uma das areas mais citadas e reconhecidas nas pesquisas na ciência da informaçao, desde o surgimento da Ciência da Informaçao. Com a ciência da computaçao, ressalta o carater instrumental desse campo, o que nem sempre efetiva uma contribuiçao interdisciplinar, de fato, segundo a autora. Com relaçao a forte interaçao com a administraçao, a autora afirma ter papel importante a gestao do conhecimento e a inteligência competitiva, devido ao aumento da competitividade nas empresas e no setor produtivo, em virtude da globalizaçao de mercado e de capital. A presença da relaçao com a economia se deve principalmente à gestao da informaçao e à economia da informaçao e, com a lingüistica, à sua interface com os sistemas de recuperaçao da informaçao, representaçao da informaçao e processamento automatico de linguagem. A autora chama a atençao, tambem, para o fato de que a psicologia, com forte interaçao com a Ciência da Informaçao nas primeiras decadas, apareça somente no dominio de necessidades e usos de informaçao. Essas mudanças, afirma Pinheiro (2006), constituem resultado das transformaçoes oriundas das relaçoes interdisciplinares que a area promove e sofre, quando interage com outras disciplinas, o que vai modificando o seu "território". Moreira e Moura (2006) afirmam que a Ciência da Informaçao se caracteriza por estudos de cunho multidisciplinar e interdisciplinar, com representaçao tematica hibrida, resultante das especificidades do campo e dos conceitos vindos das fronteiras de seu dominio. Eles identificam uma relaçao de primeiro nivel (em circulo), que a Ciência da Informaçao (juntamente com a biblioteconomia) estabelece com suas areas limitrofes mais próximas, a saber: administraçao, arquivologia, ciências cognitivas, ciências da computaçao, economia, educaçao, linguistica, museologia e sociologia, as quais se seguem a filosofia, as ciências politicas, a história e o direito, que se relacionam com as disciplinas centrais e com as do primeiro circulo. Os resultados da pesquisa completa, citada anteriormente (BICALHO, 2009), indicam que as disciplinas com as quais a Ciência da Informaçao interage sao muitas. O estudo aprofundado dos 158 artigos publicados em periódicos da area, desenvolvidos em interaçao com outras, deu origem a mapa demonstrativo da frequência em que ocorrem. Distribuindo-se as disciplinas por percentuais de interaçao, em dez conjuntos, obteve-se: 1º) biblioteconomia (29%); 2º) administraçao/engenharia de produçao (25%); 3º) epistemologia (7%); muito próxima, em 4º. lugar: sociologia/antropologia (6,5%); em 5º) educaçao e ciência da computaçao (4,5%); em 6º), com 3% dos artigos, estao: estatistica e semiótica/semiologia; artes (2,5%) esta em 7º) lugar; no 8º) grupo, com 2% dos artigos, estao: economia, filosofia e linguistica/terminologia; 9º) arquivologia, ciências cognitivas, comunicaçao social e sociologia da ciência, com 1,5% artigos; e na 10ª) estao as areas de ciência politica, história, história da ciência, museologia e psicologia, com 0,5% artigo em cada.   5 A questao da transdisciplinaridade na Ciência da Informaçao Tratando especificamente da abordagem transdisciplinar na Ciência da Informaçao, algumas referências ao termo ou a esse tipo de pesquisa sao encontradas. Inicia-se com recomendaçao de Wersig e Windel (1993) de que a Ciência da Informaçao deva entretecer conceitos de forma "evolucionaria, sinóptica e transdisciplinar", para que consiga navegar conceitualmente "dentro de uma teoria sob a forma pós- moderna, numa rede centrada no conhecimento, sob a ótica do problema do uso do conhecimento em condiçoes pós-modernas de informatizaçao" (WERSIG; WINDEL, 1993 apud PINHEIRO, 1997, p.160). informa que a transdisciplinaridade tem origem na associaçao de novas demandas eticas e politicas, à busca de inovaçoes epistemológicas. A autora define transdisciplinaridade sob três perspectivas: a) Geraçao de novos conhecimentos integrados por novos axiomas (ou meta-regras), comuns a um conjunto de disciplinas e saberes nao-disciplinares; b) Junçao de um programa de pesquisa e de um programa de açao, em torno de questoes ou problemas contextualizados, nos quais processos de aprendizagem e descoberta sao organizados por uma matriz intersubjetiva transdisciplinar, composta por uma rede de sujeitos individuais e coletivos, implicados naquela junçao por objetivos comuns e por alguma forma de aliança ou parceria; c) Geraçao de estruturas de compartilhamento que transgredirem as fronteiras e estruturas disciplinares, organizacionais e de setores de atividade, mantendo as condiçoes, demandas e expectativas do conhecimento cientifico - alem da singularidade de um caso ou da soluçao de um problema pontual A ocorrência de "formas de articulaçao e reuniao de saberes e praticas, que respondem melhor ao conceito de transdisciplinares" e justificado, quando houver "demanda de conhecimentos cientificos e tecnológicos a serem utilizados na resoluçao de problemas que identificam "zonas obscuras de ignorância", no contexto das diversas atividades sociais, como a indústria ou a saúde coletiva" (. Novas estruturas de interaçao entre disciplinas foram favorecidas no pós-guerra, entre as quais a autora cita os programas de pesquisa em meio ambiente, estudos culturais, estudos da mulher, entre outros. Ao abordar a questao da informaçao na sociedade contemporânea, Kobashi, Yumiko e Talamo (2003), relacionam os desafios da ciência da informaçao, em que incluem o estabelecimento de relaçoes inter e transdisciplinares, sem o risco de se dissolver nas outras disciplinas. As autoras se posicionam sobre o que entendem pelo termo, com base em Edgar Morin e em suas reflexoes sobre a teoria da complexidade. Dumond; Bruno (2003) relacionam o termo transdisciplinaridade à pratica de socializaçao da informaçao, chamada de "intertematicidade". Alguns artigos publicados que mencionam as interaçoes disciplinares da Ciência da Informaçao nao chegam a discutir o significado ou implicaçoes de uso do termo "transdisciplinaridade", o que, em principio, deve ser compreendido ou deduzido pelos leitores. Neves (2006) diz, na conclusao de suas reflexoes sobre Ciência da Informaçao e cogniçao humana, que "os estudos focalizados [...] dao uma pequena demonstraçao das possibilidades que se abrem diante [...] de estudos transdisciplinares" (NEVES, 2006, p. 43). Marciano e Lima-Marques (2006), discorrendo sobre segurança da informaçao sob o enfoque social, afirmam que a transdisciplinaridade e parte do carater da Ciência da Informaçao, o que se verifica pela teoria geral dos sistemas ou pelas ciências cognitivas: "A Ciência da Informaçao [...] ao ressaltar o próprio carater transdisciplinar e o seu relacionamento com a comunicaçao, [...] analisa os aspectos da comunicaçao organizacional ora pela óptica da teoria geral dos sistemas [...], ora pela óptica dos processos cognitivos envolvidos na geraçao e na externalizaçao desta comunicaçao" Alguns usos dos termos interdisciplinar por transdisciplinar e vice-versa sao, tambem, encontrados. Isto pode ser evidenciado por meio da leitura dos artigos em que os termos sao usados com sentidos equivalentes ou pouco distintos, como em Freire (2004) e . Esses usos podem estar associados às novidades proporcionadas pelo surgimento de termos mais recentes ou às modificaçoes associadas aos seus conceitos.   6 Consideraçoes finais A pesquisa mostrou que ainda ha diferentes concepçoes, definiçoes e classificaçoes atribuidas às abordagens multi, inter e transdisciplinar. A distinçao entre elas, na pratica da pesquisa, pode ser tarefa dificil, quando se aproxima dos limites, entretanto, um conjunto de caracteristicas compoe um quadro conceitual, que pode permitir a identificaçao de cada uma. Apesar dessas dificuldades, refletir sobre essas abordagens só faz sentido se forem relacionadas a uma forma de pensar as disciplinas em interaçao, manifestada na investigaçao cientifica, como forma de consolidar suas bases teórico-conceituais. No entanto, a questao das relaçoes frequentes e proficuas, na maioria das vezes, entre Ciência da Informaçao e outras disciplinas, nao tem sido tratada no âmbito da area com a devida profundidade que o tema exige, em se tratando de pesquisa cientifica. Sao muitos os fatores que favorecem a pratica da multi, da inter e mesmo da transdisciplinaridade, no âmbito da Ciência da Informaçao. Os estudos informacionais sao fontes inesgotaveis de trocas de conhecimentos com diferentes areas, com as quais e necessario dialogar aberta e reciprocamente. Contudo, e importante para qualquer area, especialmente para a Ciência da Informaçao, ter clareza sobre o fato de que ser uma ciência interdisciplinar pressupoe ir alem da formaçao de seus pesquisadores ou de sua composiçao inicial, a partir de varias areas. Ate mesmo porque, se uma nova area e criada a partir das zonas fronteiriças de interseçao com outras, ela passa a constituir uma disciplina, com todas as condiçoes que a caracterizam como tal, sem que seja, necessariamente, interdisciplinar. A pratica de pesquisa entre disciplinas exige mais que a incorporaçao ou soma de informaçoes, noçoes, conceituaçoes e teorias. Para ocorrer a interaçao, em nivel adequado, e necessario buscar a cooperaçao entre os envolvidos naquela investigaçao, sabendo-se que tipo de abordagem esta sendo exigida naquela situaçao, se multi, inter ou transdisciplinar. Para tanto, os termos devem ser conhecidos e seus significados minimamente compreendidos por toda a comunidade. Alem disso, para que as relaçoes ocorram, e necessario, sobretudo, que as disciplinas envolvidas tenham conhecimento de seu alcance e de seus próprios limites, de forma a contribuir e se enriquecer ao mesmo tempo. Finalizando, pode-se afirmar que a reflexao sobre os termos inter, trans e mesmo multidisciplinar esta pouco desenvolvida para uma ciência que se diz interdisciplinar. Afinal, espera-se que esta pesquisa possa subsidiar e ampliar as discussoes na area sobre as caracteristicas dos varios tipos de interaçoes entre disciplinas nas ciências, possibilitando uma avaliaçao do significado que cada termo carrega efetivamente, em nivel teórico, a fim de serem utilizados adequadamente na pratica de pesquisa. #FTE#